Além do tempo: a tecnologia das relações humanas.

28/06/2022 17:11

FM

Francielli Mota

Além do tempo: a tecnologia das relações humanas.

Quando a galera da DIO lançou o desafio da Community Week, para falar sobre qual o conteúdo foi “minha pedra no sapato” (ALERTA CRINGE) e hoje eu manjo, logo pensei nas hard skills da minha graduação em Análises e Desenvolvimento de Sistemas.

Mas estou no primeiro semestre, tenho várias dificuldades e não me considero expert (ainda) em nenhuma disciplina. Lembrei então das “soft skills” e refleti sobre como minha capacidade de comunicação e relacionamento interpessoal melhorou (muito) ao longo da minha trajetória pessoal e profissional. Trabalho na área de gestão pública e acredito que essa vivência tenha me trazido uma perspectiva mais humanitária e subjetiva acerca das pessoas, do mundo e seu “modus operandi”.

Além disso, para superar minha timidez, precisei buscar algumas estratégias - cursos, oficinas de teatro e claro, terapia. Passei a compreender que é possível transformar a convivência com outras pessoas através da escuta e da comunicação, que são pontes para além de Terabitia (meu mundinho interior).

A escuta e a comunicação são tecnologias que se perpetuaram no tempo e nos tornaram o que hoje somos: o “sapiens sapiens”. Quem concorda comigo é Emerson Mehry (2002), que estuda o uso das tecnologias no cuidado em saúde pública. O autor considera que o campo das relações humanas, é permeado por uma tecnologia complexa, a qual ele nomeia como “tecnologia leve”. Acredito que Mehry tenha pensado nesse nome, não pela facilidade de desenvolver a tecnologia, mas pela sua fluidez, sutileza e singularidade. Traduz a necessidade de respeitar cada ser humano, sua maneira de ser e enxergar o mundo.

Sendo assim, considerando minha evolução que está longe de alcançar a expertise, trago à vocês alguns “algoritmos” que tornaram a minha programação mais fácil:

 

O algoritmo da Escuta:

Uma das primeiras coisas que aprendi, é que escutar é diferente de ouvir. Escutar vai muito além da audição, já que ouvir é um processo mecânico de captar sons. Escutar o outro é um desafio, já que exige disponibilidade e entrega. Também é necessário atenção, acolhimento, se desfazer de preconceitos e julgamentos pessoais, reflexão e ação, no sentido de dar a devolutiva mais adequada para o momento, que pode variar de uma devolutiva verbal, não verbal ou o silêncio. Para mim, a escuta é um processo dual e uma ferramenta poderosíssima de diagnóstico.


O algoritmo da Empatia:

Quando eu era mais jovem, acreditava que empatia era a capacidade de se colocar no lugar no outro. Mas hoje acredito que isso não é possível. Como já colocado anteriormente, somos sujeitos singulares, temos experiências e filtros próprios e por isso, o lugar que ocupamos é construído a partir de nossas subjetividades e objetividades, como um tipo de metaverso particular. Sendo assim, hoje considero empatia, toda capacidade de validar o lugar do outro, como um universo legítimo, mesmo que diferente do meu.

O algoritmo da Comunicação:

Como sou cringe assumida, não resisto ao cheiro de café e muito menos, de verificar a origem das palavras que passam por mim. “Comunicação” vem do latim (communicatio.onis) e significa “ação de participar". Comunicar então é um processo participativo, que envolve a troca de informações entendíveis entre interlocutores. Para isso, utiliza-se a semiótica, o ato de materializar o pensamento ou sentimento através de símbolos (nossa linguagem verbal e não verbal).

Como técnica de comunicação, utilizo a Comunicação Não Violenta de Rosenberg, uma abordagem da comunicação consciente, voltada à resolução de conflitos, que compreende quatro etapas: observação, sentimentos, necessidades e pedido. Na primeira etapa, é necessário observar o que realmente está acontecendo em determinada situação, questionando se a mensagem que está sendo recebida, seja por meio de fala ou de ações. Nessa fase, é essencial observar sem criar um juízo de valor. A segunda etapa consiste em entender e nomear qual sentimento a situação desperta, sem medo de parecer vulnerável. Também é importante separar o que se sente e o que se pensa ou interpreta. A terceira etapa, é reconhecer qual necessidade está ligada ao sentimento, e expressá-la ao seu interlocutor, através de uma solicitação específica, possível de ser realizada pela outra pessoa. Sendo assim, a quarta etapa, é posicionar-se, deixando claro o que se quer da outra pessoa.

 

 Considerações finais:

 Além das estratégias que foram apresentadas, há outras que podem ser aplicadas considerando que a “tecnologia leve” é dinâmica, exigindo fluidez do programador. No entanto, o maior e melhor bootcamp para aprendizado dessa tecnologia é a vida, o cotidiano. A tecnologia das relações humanas, além de atemporal, é transversal, já que é necessária em todos os espaços que habitamos e com as pessoas que nos relacionamos, além de ser imprescindível para apreender as reais necessidades humanas e agir da forma mais assertiva possível.


Referências:

MERHY, E. E. Saúde: cartografia do trabalho vivo em ato. São Paulo: Hucitec, 2002.

Rosenberg. Marshall B. Comunicação não violenta: técnica para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo. Ágora, 2006. Tradução: Mário Vilela.

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