3 meses depois do sim - e a jornada até ele
Em Julho me demiti da empresa onde trabalhava há 13 anos, num cargo de gestão do qual dominava totalmente e me sentia apta a lidar com qualquer problema que surgisse. Segura, estável, na zona de conforto, porém mão mais realizada, querendo um novo rumo - e estudando pra isso.
Faziam mais de 6 meses que me inscrevia em todo tipo de vaga de estágio ou trainee, perdi a conta de quantos nãos recebi... Até que, como uma ironia do destino (ou apenas confirmação de finalmente estar pronta) fui aprovada em 2 empresas: Na ZG através de um programa de 6 meses de aulas e prática chamado Acelera ZG, onde os que persistiam até o final eram contratados. E também no Meliuz, que foi pra lá de interessante o processo seletivo com desafio técnico analisando dados, afinal eu não só era cliente como indicava pra todos os amigos. Foram algumas etapas na Gupy antes do desafio, depois 3 entrevistas de mais de uma hora - uma delas com perguntas sobre como eu agiria em hipotéticas situações de extrema ambivalência, daquele tipo que não existe resposta certa, apenas dilemas morais e éticos. Por fim, a irrecusável proposta.
Estava tratando dos trâmites burocráticos da minha demissão e dos documentos necessários para iniciar o estágio. A essa altura, até já havia esquecido do processo seletivo da Dell que aconteceu no mês anterior. Contrato assinado pelo Meliuz, pela faculdade, os equipamentos/kit onboarding seriam enviados pra minha casa e a data de início se aproximava... Então meu telefone toca com a notícia da aprovação na Dell. Antes de contar minha reação e a sequência dos fatos, preciso contextualizar;
- O programa IT Academy é uma parceria entre PUCRS e Dell, e única forma para ingresso de estagiários na área de TI da organização, é extremamente concorrido na região metropolitana do Rio Grande do Sul.
- Eu já havia participado do processo na edição anterior, nela haviam mais de 2 mil candidatos inscritos. Na última etapa que era a entrevista, me enrolei toda no inglês e fui reprovada. Chegar tão perto e não ter conseguido, ao invés de me fazer sentir mais capaz, me paralisou por algumas semanas, tanto nos estudos quanto nas candidaturas... Cada uma das recusas que seguiam chegando reforçavam a sensação de que nunca seria boa o suficiente pra recomeçar uma carreira aos 32 anos, sendo mãe e mulher numa área predominantemente masculina.
- Me inscrevi pra edição 19 do IT sem muitas pretensões, afinal o desafio técnico da 18 foi insano, virei noites a base de energético e café pra conseguir entregar no prazo e, ainda assim, com uma das funcionalidades retornando resultados meia boca. Mas dessa vez tudo fluiu mais naturalmente... Consegui acabar o desafio em dois dias (e eram 5 no total), com tudo funcionando, sem bugs, e ainda sobrou tempo pra escrever um relatório bem mais detalhado que o anterior – certamente ele exalava pressa e desespero.
- Como a entrevista me derrubou da outra vez, nessa nem coloquei muita expectativa de passar (talvez até por isso consegui relaxar mais). Fiquei nervosa, claro, mas não me coloquei aquela pressão do PRECISO passar. Uma pergunta que me marcou foi quanto a dificuldade das tarefas (comparadas a edição anterior), respondi que achei bem mais fácil, então, falaram que na verdade estava mais difícil o nível do exercício, e se eu não senti isso o motivo foi minha própria evolução. Tinha tudo pra ficar otimista ao ouvir isso? Claro. Eu fiquei? Não. A capa da derrota grudou em mim como uma proteção emocional às rejeições.
Voltando pra ligação... Eu fui escorregando pelo armário até sentar no chão, aos prantos, tipo novela mesmo. Não conseguia acreditar, nem falar direito de tanto chorar. A felicidade e o medo transbordaram na mesma proporção, afinal, a responsa de uma organização global (e de sair do básico no inglês urgente) seria absurdamente maior – e justo por isso, irrecusável. Correria pra cancelar tudo com o outro estágio e recomeçar a papelada, rumo Dell!
Os primeiros 2 meses foram apenas aulas com os professores da PUC. Simplesmente o conteúdo de semestres inteiros metralhados em uma semana ou menos pra cada tecnologia (9 no total), intenso e de ferver o cérebro. Pra mim, até então acostumada a trabalhar das 8 às 18h e ainda acordar às 4h pra conseguir estudar antes do expediente, ser paga somente pra fazer isso 6 horas por dia foi como estar em um sonho. Mesmo ganhando menos que no emprego anterior, passei a ter mais tempo de foco na carreira que realmente quero seguir, e a bolsa auxílio é a maior em relação a todos os demais estágios na região.
Terminada a fase teórica, um exercício prático de uma semana onde os próprios estagiários (na minha turma 20) precisam se organizar na divisão de tarefas, commits e tudo mais. Muita coisa não ensinada precisou ser usada pra fazer funcionar, muita coisa estudada não soubemos bem como usar. Subestimamos o tempo e a complexidade de construir uma aplicação do zero (back, front e banco de dados), houveram bugs e plantões pra resolvê-los, mas a organização e união do time fez toda diferença pra conseguir o melhor resultado possível considerando nossa absoluta inexperiência.
A terceira e atual fase é trabalhar numa aplicação interna real, com PO, backlog, e todos os termos em inglês que ainda estou me acostumando. Estamos aprendendo metodologia ágil na prática, agora com mais suporte, mas também com mais complexidade e exigência. É tão desafiador tecnicamente quanto nas softs skills, ouso dizer que é muito mais sobre adaptabilidade e garra do que sobre dominar linguagens e tecnologias.
A próxima etapa (após última sprint) é sair das asas da PUC e colocar os dois pés na Dell, cada “intern” vai pra um time diferente no dia 28/11, e se ficar com curiosidade sobre a sequência dessa jornada pode me chamar no Linkedin – cá entre nós, também estou ansiosa pra saber como vai ser!
https://www.linkedin.com/in/cristine-lacerda/