"Além do Código: A Política que Acelera ou Travam os Profissionais de TI Brasileiros" 🥸
Como a ignorância política está empurrando Nossos Talentos para fora...
Enquanto o mundo avança a passos largos na 4ª Revolução Industrial, o Brasil parece tropeçar nas próprias pernas.
Enquanto o Senado dos EUA aprova pacotes bilionários para chips e inteligência artificial, e a China forma milhões de engenheiros como política de Estado, por aqui discutimos... a regulamentação do Uber.
Essa desconexão entre o que o mundo está construindo e o que o Brasil ainda debate tem um preço alto — pago todos os dias pelos profissionais que sustentam a economia digital do país: os desenvolvedores.
A História de Milhares e de Outros
Em 2024, Marina Silva, desenvolvedora backend de Campinas, tomou uma decisão difícil: aceitou uma proposta em Berlim.
O salário em euros ajudou, claro. Mas não foi o fator principal. O que a fez embarcar foi algo mais profundo: a exaustão de lutar contra um sistema que não valorizava seu potencial.
Falta de investimento em pesquisa, burocracia para empreender, instabilidade regulatória, currículos defasados...
Marina apenas cansou de remar contra a maré. E ela é apenas uma entre milhares.
Segundo dados da Brasscom, o Brasil forma cerca de 53 mil profissionais de TI por ano, mas precisa de 159 mil. Resultado: um déficit de mais de meio milhão de profissionais até 2025.
E, dos que se formam, muitos já estão de olho em outro fuso horário.
Quando a Política Sabota a Inovação
Instabilidade Regulatória e Legislação Atrasada
No Brasil, a incerteza jurídica é o bug do sistema.
A regulação de IA ainda engatinha, as leis trabalhistas não contemplam o trabalho remoto internacional e o marco legal das startups ainda é uma gambiarra de boas intenções.
Enquanto isso, desenvolvedores e empreendedores vivem num ambiente onde o “deploy” depende mais de Brasília do que de GitHub.
“A insegurança jurídica não só trava investimentos, mas afasta talentos.
A inovação não nasce onde o amanhã é incerto.”
— Anônimo, CTO de startup paulistana
Educação: o Alicerce Fissurado
Cortes crônicos em ciência e tecnologia (CNPq, CAPES), bolsas de pesquisa congeladas e currículos universitários que parecem parados nos anos 2000.
O resultado? Formamos profissionais que sabem C, mas não sabem Cloud.
A FAPESP mostrou que o orçamento federal de C&T caiu de R$ 25,3 bilhões em 2019 para R$ 17,1 bilhões em 2022.
Enquanto isso, empresas estrangeiras investem bilhões na formação de engenheiros em IA e robótica.
A base STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) no ensino fundamental continua sendo tratada como “extra”.
Sem base sólida, o talento brasileiro cresce no improviso — e o improviso tem prazo de validade.
Desindustrialização e Falta de Incentivo à Inovação Nacional
O Brasil ainda depende de multinacionais para impulsionar sua economia digital.
Startups de deep tech nascem, mas morrem cedo — esmagadas pela falta de crédito, incentivos e infraestrutura.
Estudo da FGV mostra que mais de 50% dos investimentos em P&D no Brasil vêm do setor público, enquanto nos países da OCDE o número é inverso: mais de 60% vêm do setor privado.
Ou seja: o Estado é quem segura as pontas — e quando o Estado corta, o setor estagna.
Sem políticas de longo prazo, o país se torna um “mercado consumidor de tecnologia”, e não um criador.
Infraestrutura Digital Precária
Para quem mora nas capitais, a vida online parece fluida.
Mas basta sair 100 km de São Paulo para a internet cair — junto com as oportunidades de trabalho remoto.
A falta de investimento em conectividade limita a inclusão digital e concentra empregos nas grandes cidades.
O talento existe, mas o sinal de Wi-Fi não chega.
O Profissional de TI e As Consequências do Êxodo de Cérebros
Mais de 150% de aumento nas contratações internacionais de desenvolvedores brasileiros entre 2020 e 2023.
Nos EUA, o salário médio para DEVs brasileiros remotos chega a US$ 110 mil por ano.
O motivo não é apenas dinheiro: é respeito, estabilidade e acesso à tecnologia de ponta.
A cada semana, o LinkedIn exibe mais “Relocated to Lisbon”, “Now in Toronto” ou “New job in Berlin”.
O Brain Drain deixou de ser uma exceção — virou uma estratégia de sobrevivência.
Estagnação Salarial e o “Vale do Silício Tupiniquim”
Com poucas empresas nacionais disputando talentos, o salário médio do desenvolvedor brasileiro permanece estagnado.
Para crescer, ele precisa mudar de empresa a cada ano — não porque quer, mas porque o sistema o obriga.
Falta um ecossistema competitivo e sustentável.
A consequência: o talento não constrói o Brasil — apenas passa por ele.
Desatualização Forçada
Sem um ambiente de inovação forte, muitos desenvolvedores ficam presos em sistemas legados.
Manter o sistema bancário de 1998 pode pagar as contas, mas mata a curiosidade.
E curiosidade é o combustível da inovação.
Enquanto o mundo fala em Machine Learning, DevOps e Quantum Computing, muitos profissionais brasileiros ainda precisam “dar manutenção no Delphi”.
Sobrecarga e Burnout
Com a falta de mão de obra qualificada e a pressão por resultados, o trabalho se torna exaustivo.
Demissões em massa, recontratações relâmpago, falta de estabilidade.
É o ciclo infinito da fadiga corporativa.
O Burnout não é apenas psicológico — é estrutural.
E a causa raiz é a mesma: instabilidade política e falta de visão de longo prazo.
De Bug a Features, o caminho a seguir:
1️⃣ Política de Estado, não de Governo
Precisamos de uma política nacional de tecnologia com metas de 10, 20 anos.
Planos que não mudem a cada eleição.
O Plano Nacional de Internet das Coisas foi um bom começo, mas ficou sem continuidade.
Sem visão de Estado, qualquer inovação vira beta eterno.
2️⃣ Reforma Educacional Profunda
Universidades precisam ensinar Cloud Computing, Data Science, Cybersecurity, IA e não apenas linguagens mortas.
O ensino técnico deve ser valorizado, e as empresas devem ter incentivos fiscais para investir na formação de talentos.
Educação é infraestrutura não GASTO.
3️⃣ Incentivos Fiscais e Acesso a Capital
Startups de Deep Tech, Green Energy, Green Tech e Health Tech precisam de crédito, não de burocracia.
Fundos públicos privados de venture capital poderiam criar o impulso inicial para uma nova geração de unicórnios brasileiros.
Investir em inovação é investir em soberania digital... sem papo furado nem álcool😆😆
4️⃣ Atração e Retenção de Talentos
Portugal criou vistos especiais para profissionais de tecnologia.
Por que o Brasil não?
Além de atrair estrangeiros, poderíamos criar programas de repatriação para brasileiros que emigraram.
Mas, para isso, é preciso oferecer qualidade de vida, segurança e estabilidade (Politica geral sobre desenvolvimento).
Talento volta quando vale a pena ficar e redução dos impostos do sistema...
O Futuro é uma Escolha Política
A qualidade do profissional de tecnologia brasileiro não é um acaso.
Ela é diretamente moldada pelas escolhas, ou pela omissão dos nossos governantes.
O Brasil tem talento de sobra.
O que falta, historicamente, é coragem política para transformar tecnologia e inovação nas verdadeiras alavancas do nosso desenvolvimento.
Enquanto isso não acontece, continuaremos exportando o nosso bem mais valioso no século XXI: as mentes brilhantes que poderiam construir o futuro do Brasil.
Fontes e Referências
- ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software
- Brasscom – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação
- Revista Pesquisa FAPESP – Investimento em C&T no Brasil
- FGV – Pesquisas em Inovação e P&D
- TI Inside – Déficit de profissionais de TI em 2025
- Click Petróleo e Gás – Apagão digital e déficit de mão de obra
- Ecommerce Update – Salários de devs brasileiros nos EUA
- Accelerance – Panorama global de desenvolvedores