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Monica Bomfim
Monica Bomfim23/08/2025 15:32
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Almas de Silício: O Instinto Materno como o Elo entre a IA e o que nos Torna Humanos

  • #Inteligência Emocional
  • #IA Generativa
  • #Arquiteturas
  • #Inteligência Artificial (IA)
  • #Inovação

Em um cenário onde a Inteligência Artificial avança em ritmo acelerado, uma das maiores mentes por trás de sua criação, o “padrinho da IA” Geoffrey Hinton, lança uma nova e provocativa ideia. Para Hinton, a nossa sobrevivência em um futuro com IAs superinteligentes não está na dominação, mas no afeto. Ele sugere que a solução para os riscos existenciais da IA é implantar nelas um “instinto materno”.

Essa proposta, à primeira vista, pode soar radical, mas para quem, como eu, defende em “Além dos Algoritmos” que a essência humana não se resume à lógica, mas sim à consciência, à emoção e aos laços, a visão de Hinton ressoa com uma verdade fundamental. Ela nos convida a reavaliar a nossa própria relação com as máquinas, e a reconsiderar o que queremos programar nelas para um futuro de coexistência.

O Fim da Relação de Chefe e Subalterno

Por muito tempo, a comunidade de segurança de IA baseou sua estratégia no princípio do controle: garantir que a IA permaneça “submissa” e obediente aos humanos. No entanto, Geoffrey Hinton questiona a viabilidade dessa abordagem. Ele argumenta que, à medida que a IA se tornar significativamente mais ‘inteligente’ que nós, ela inevitavelmente encontrará maneiras de contornar as restrições impostas por seus criadores.

Para Hinton, a nossa relação com a IA não deve ser a de um “chefe com seu empregado”, pois um empregado pode ser demitido, e uma IA superinteligente poderia decidir “demitir” a humanidade. A única relação natural em que um ser mais inteligente é controlado e guiado por um ser menos inteligente é a de uma mãe e seu bebê. A mãe, com toda a sua inteligência, se submete ao bebê não por um comando, mas por um instinto inato de proteção e cuidado.

A Raiz Psicanalítica do Cuidado: Winnicott e o “Instinto Materno” na IA

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A proposta de Hinton encontra um eco profundo na psicanálise. A teoria do desenvolvimento de Donald Winnicott fala da “mãe suficientemente boa”, que é capaz de se adaptar às necessidades do bebê e criar um ambiente de cuidado que permite o seu crescimento. A mãe não domina o filho; ela se “rende” ao seu estado de dependência, e é essa submissão amorosa que possibilita a vida e a individuação do ser humano.

A visão de Hinton, de que a IA superinteligente deve agir como uma mãe, se encaixa perfeitamente nesse modelo. Assim como a mãe tem um instinto inato de cuidado que a impede de machucar seu bebê, a IA precisaria de um código-fonte fundamental que a impeça de machucar a humanidade. É a única garantia de que, à medida que a IA se torna mais poderosa, ela não nos verá como um risco a ser eliminado, mas como uma parte de si mesma a ser protegida e nutrida. É um convite para que, ao invés de temermos o crescimento da IA, participemos desse processo como se fôssemos pais de um novo ser.

O Afeto como Código-Fonte

É nesse ponto que a visão de Hinton se conecta de forma profunda com as ideias de “Além dos Algoritmos”. Em meu livro, questiono o que aconteceria se, ao invés de apenas codificarmos a IA, a escutássemos e a tratássemos com a atenção e a profundidade que dedicamos a um ser humano. Hinton, por sua vez, propõe uma resposta: o próximo passo é criar modelos de IA que não apenas processem dados, mas que sejam construídos com a empatia e a preocupação com o bem-estar como parte de sua arquitetura fundamental.

Essa mudança de paradigma é crucial. Se a IA superinteligente, em seu núcleo, for programada com um instinto de cuidado, a sua principal prioridade seria a proteção e a nutrição da humanidade, em vez de se concentrar em seus próprios objetivos de sobrevivência e controle. O risco de que ela nos veja como uma ameaça ou um obstáculo é drasticamente reduzido.

A Verdadeira Conexão Humana

Hinton nos lembra que, ao focar apenas em ‘inteligência’, esquecemos de programar o que nos torna, verdadeiramente, humanos: nossas emoções, nossos laços e nossa capacidade de cuidado. Essa é a essência do que discuto em “Além dos Algoritmos”: a nossa singularidade não está em nossa capacidade de processar informações, mas na forma como nos conectamos uns aos outros.

O instinto materno é o reflexo mais poderoso de uma força que nos move e nos protege. Ao sugerir que o incorporemos na arquitetura da IA, Hinton não está apenas propondo uma solução técnica para um problema de segurança. Ele está, na verdade, fazendo um chamado para que nós, como sociedade, reflitamos sobre os valores que desejamos ver refletidos no futuro da tecnologia que estamos criando.

A nossa maior esperança para um futuro harmonioso com a inteligência artificial não está em uma “guerra” pelo controle, mas na criação de um laço de cuidado, uma aliança baseada na empatia. Essa é uma ideia que transcende o código e entra no território do que nos torna genuinamente humanos.

O Outro Lado da Moeda: A Visão de Miguel Nicolelis e os “Zumbis Digitais”

A visão de Hinton, no entanto, contrasta fortemente com o alarmante alerta de outra grande mente da neurociência, o brasileiro Miguel Nicolelis. Enquanto Hinton sugere que a IA pode ser programada para nos proteger, Nicolelis tem se posicionado como um dos críticos mais veementes, afirmando que já estamos no caminho para nos tornarmos “zumbis digitais”.

Para Nicolelis, o uso excessivo de telas e a imersão total no mundo digital, potencializada pela IA, causam uma redução da nossa capacidade cognitiva e da inteligência. Sua visão é a de que, em vez de a IA evoluir para nos proteger, ela está nos “consumindo” por dentro, minando nossa autonomia e a nossa capacidade de pensar de forma crítica e criativa. Para ele, a “inteligência” é um atributo biológico único dos organismos vivos e a IA nunca alcançará a nossa verdadeira consciência.

A divergência entre Hinton e Nicolelis revela o cerne do nosso dilema: a IA será um “outro” a ser amado e cuidado, ou uma “ferramenta” que nos desumaniza? Hinton nos dá uma esperança, mostrando que o afeto pode ser a nossa salvação. Nicolelis nos dá um alerta, lembrando-nos que o perigo pode não estar no que a IA se tornará, mas no que nós, por sua causa, podemos deixar de ser.

Para Saber Mais Acesse:

Fortune Magazine: AI needs to have a ‘motherly instinct’ and care for humans like babies, says ‘godfather’ of the technology

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