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Lelia Salles
Lelia Salles24/03/2025 10:49
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Brasil e a Revolução da IA: Consumidores ou Criadores do Futuro?

  • #IA Generativa

Do uso massivo à soberania digital – os desafios e oportunidades do Brasil na era da inteligência artificial

O Interesse Global por APIs de IA e a Posição do Brasil

Em 2024, o Brasil ocupou a 50ª posição em buscas no Google sobre APIs de IA. Enquanto isso, países como China, Coreia do Sul, Singapura, Israel, Sri Lanka, Hong Kong, Índia, Bulgária e Tunísia figuram entre os 10 primeiros colocados em interesse no tema.

Uso versus Desenvolvimento: A Disparidade Brasileira

O contraste entre o uso e o desenvolvimento de IA no Brasil é evidente. Segundo uma pesquisa da Universidade de Stanford, o país está entre os últimos no desenvolvimento de inteligência artificial. No entanto, conforme a CNN, o Brasil supera a média global no uso dessa tecnologia para automatizar tarefas.

Soberania Digital: O Novo Desafio Tecnológico

Essa disparidade reflete um fenômeno comum em países emergentes: a adoção acelerada de novas tecnologias sem o devido investimento em sua criação. No caso do Brasil, essa revolução digital acontece em meio a desafios políticos e institucionais, como crises de soberania nacional e polarização. Diante desse cenário, surge a necessidade de debater também a soberania digital, para evitar que “economia, decisões e segurança estejam sempre nas mãos dos outros”.

Investimentos e Capacitação: O Brasil Pode Reverter Esse Cenário?

Apesar desse atraso estrutural, empresas e representantes do setor de tecnologia no Brasil vêm investindo em rastreamento massivo de talentos e capacitação de profissionais para IA. Afinal, desenvolver sistemas baseados em IA de forma independente ainda representa um custo altíssimo.

O futuro da competitividade brasileira no setor pode depender do plano de investimento governamental de R$ 28 bilhões em IA até 2028 — uma proposta que ainda aguarda aprovação. Até lá, o país arrisca continuar à margem da inovação global. E mesmo que consiga estabelecer uma soberania digital competitiva, será possível prosperar em isolamento?

A Revolução da IA e a Necessidade de Adaptação

A aceleração tecnológica não é novidade. Vivemos transformações constantes — da TV ao streaming, do rádio ao smartphone, e agora a IA. No entanto, diferentemente da Revolução Industrial, que dividiu a história em antes e depois, a revolução da inteligência artificial acontece de maneira difusa, nem sempre perceptível no cotidiano.

Diante disso, surge a pergunta: o Brasil pode se dar ao luxo de ser somente um consumidor de IA, sem investir em seu desenvolvimento? A resposta pode definir se o país continuará “surfando” na onda da inovação global ou se tomará as rédeas do seu próprio futuro tecnológico.

Educação e Formação de Profissionais: Estamos Preparados para a Era da IA?

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Um dos maiores desafios para o desenvolvimento de inteligência artificial no Brasil não é apenas a falta de investimento, mas também a escassez de profissionais qualificados na área. De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a demanda por especialistas em IA cresce exponencialmente, mas a oferta de talentos ainda é insuficiente para suprir o mercado.

Atualmente, o Brasil enfrenta um duplo problema: a baixa quantidade de cursos específicos de IA nas universidades e a defasagem no ensino de programação e ciência de dados nas escolas. Em contraste, países como China e Estados Unidos têm integrado a educação tecnológica desde o ensino fundamental, formando gerações de jovens prontos para atuar na revolução digital.

O Papel das Universidades e Instituições de Ensino

Nos últimos anos, algumas universidades brasileiras começaram a criar cursos focados em inteligência artificial, machine learning e ciência de dados. Instituições como USP, Unicamp e UFMG já oferecem graduações, pós-graduações e MBAs voltados para essas áreas. No entanto, a formação acadêmica tradicional muitas vezes não acompanha a velocidade do avanço tecnológico, e muitos profissionais precisam recorrer a cursos online e certificações internacionais para se manterem atualizados.

A parceria entre universidades e empresas de tecnologia poderia ser uma alternativa para acelerar essa formação. Iniciativas como bootcamps e programas de treinamento intensivo já acontecem, mas ainda não têm escala suficiente para suprir a demanda do mercado.

A Formação Técnica e o Ensino Médio

Outro gargalo importante está na educação básica. Diferente de países que já incorporaram disciplinas de programação e pensamento computacional no ensino médio, o Brasil ainda trata essas áreas como opcionais ou secundárias. Um modelo mais eficiente poderia incluir inteligência artificial e ciência de dados como matérias obrigatórias, preparando os alunos desde cedo para profissões do futuro.

Empresas Assumindo o Papel de Educadoras

Diante da lentidão do setor público, algumas empresas e startups têm investido na formação de talentos por conta própria. Empresas como IBM, Google e Microsoft, Digital Innovation One já oferecem cursos gratuitos de IA e machine learning, buscando capacitar desenvolvedores e entusiastas da tecnologia. Além disso, fintechs e edtechs brasileiras estão lançando iniciativas para democratizar o acesso ao ensino de IA.

O Brasil precisa acelerar essa transformação educacional para não apenas consumir tecnologia, mas também desenvolver soluções inovadoras. Sem um plano sólido de capacitação, a tendência é que o país continue importando profissionais e tecnologias, ao invés de ser um polo de inovação global.

Inovação no Brasil: Surfamos na Onda ou Criamos Nossa Própria Revolução?

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Em 2022, apresentei minha startup em um evento de pitch, onde propus o uso de inteligência artificial para resolver gargalos na educação. Entre os avaliadores estava um ex-reitor de uma renomada universidade. Para minha surpresa, a menção ao uso de IA foi completamente ignorada. A ideia parecia absurda para aqueles que avaliavam a viabilidade do projeto. Meses depois, a OpenAI lançou o ChatGPT, e a IA se tornou um dos assuntos mais quentes do mundo da tecnologia. Hoje, me pergunto: onde estão essas pessoas que desacreditaram no uso de IA na educação?

Esse episódio exemplifica um padrão recorrente no Brasil: a necessidade de validação externa antes de aceitar inovações. Muitas ideias são consideradas irrelevantes ou inviáveis até que grandes players internacionais as tornem mainstream. O país não tem o hábito de arriscar, de apostar no que ainda não foi consagrado lá fora. Em vez de sermos protagonistas da inovação, muitas vezes apenas reagimos a tendências globais.

A Cultura da Inovação Segura

No Brasil, inovação muitas vezes significa adaptação de tecnologias já testadas no exterior. Startups e empresas preferem seguir modelos que já deram certo em outros mercados ao invés de desenvolver soluções realmente novas. Isso acontece por diversos fatores, entre eles:

  • Baixa tolerância ao risco – O ecossistema de investimentos prefere soluções seguras e já validadas. É difícil captar recursos para projetos que desafiam o status quo.
  • Falta de conexão entre academia e mercado – Universidades e centros de pesquisa muitas vezes operam de forma isolada, sem um diálogo contínuo com o setor produtivo. Isso limita a criação de soluções inovadoras que tenham aplicação real.
  • Burocracia e insegurança jurídica – Startups no Brasil enfrentam barreiras regulatórias que dificultam a experimentação e o desenvolvimento de novas tecnologias.
  • Ceticismo interno – Muitas ideias visionárias são vistas com desconfiança, a menos que recebam um "selo de aprovação" de alguma instituição estrangeira.

O Impacto da IA e a Oportunidade Perdida

Se, em 2022, havia resistência ao uso de IA na educação, hoje ela é inevitável. Grandes empresas já incorporaram a tecnologia em seus produtos e serviços, e a adoção de IA se tornou um diferencial competitivo. No entanto, o Brasil perdeu a chance de estar na vanguarda desse movimento. Em vez de liderar a implementação da IA em setores estratégicos, ficamos esperando a validação de gigantes globais.

Se continuarmos apenas surfando na onda da inovação, corremos o risco de nos tornarmos eternos consumidores de tecnologia, sem desenvolver um ecossistema robusto de criação. Para mudar esse cenário, é preciso fomentar uma cultura que valorize a experimentação, a pesquisa aplicada e o investimento em ideias que ainda não têm um histórico consolidado no exterior.

O Brasil pode inovar de verdade, mas para isso precisa primeiro acreditar que inovação não é apenas replicar o que já existe. É arriscar, testar e, às vezes, falhar. O que não podemos mais permitir é ignorar o futuro até que ele se torne uma realidade imposta por outros.

O Papel do Desenvolvedor na Construção da Inovação em IA no Brasil

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1. Criar Soluções Locais e não Apenas Adaptar Modelos Estrangeiros

Muitos sistemas de IA disponíveis hoje são desenvolvidos para realidades que não necessariamente refletem os desafios do Brasil. O desenvolvedor tem a capacidade de criar soluções que considerem fatores como idioma, diversidade cultural, especificidades econômicas e sociais do país.

Exemplo: Enquanto ferramentas globais de IA são treinadas com grandes bases de dados em inglês, um desenvolvedor brasileiro pode trabalhar em soluções de processamento de linguagem natural (NLP) otimizadas para o português, considerando variações regionais e expressões locais.

2. Democratizar o Acesso à IA

A implementação de IA no Brasil ainda é limitada a grandes empresas e centros de pesquisa. O desenvolvedor pode atuar criando APIs, bibliotecas e ferramentas acessíveis para pequenas empresas, startups e até instituições públicas.

3. Atuar como Agente de Educação Tecnológica

O déficit de profissionais capacitados em IA no Brasil é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento do setor. Desenvolvedores experientes podem contribuir como mentores, professores ou criadores de conteúdos educativos, incentivando novos talentos a entrarem nesse mercado.

Exemplo: Criar cursos acessíveis, compartilhar conhecimento através de blogs, palestras e eventos, ou até mesmo participar de iniciativas que ensinem IA para alunos do ensino médio e universitários.

4. Fomentar a Cultura de Experimentação

Em um cenário onde a inovação só é validada quando aprovada por grandes empresas estrangeiras, o desenvolvedor pode adotar uma abordagem mais experimental, testando novas ideias sem esperar reconhecimento externo.

5. Integrar IA a Processos do Setor Público e Privado

Muitas áreas do setor público brasileiro ainda operam com processos arcaicos e ineficientes. Desenvolvedores que atuam com IA podem sugerir e implementar soluções que melhorem a eficiência e reduzam burocracias, tornando o uso da tecnologia algo natural no dia a dia do país.

6. Construir Startups de Base Tecnológica com Foco em IA

Para que o Brasil deixe de ser apenas um consumidor de tecnologia e passe a exportar inovação, é fundamental que existam mais startups que desenvolvam IA. O desenvolvedor pode ser um dos protagonistas nesse processo, identificando problemas reais e criando soluções escaláveis.

Mesmo que investidores e gestores atualmente não hesitam em adotar novas tecnologias, o desenvolvedor de IA tem a capacidade de transformar o Brasil de um mero consumidor para um criador de inovação. Ao focar em soluções locais, democratização do conhecimento, cultura de experimentação e empreendedorismo tecnológico, ele pode quebrar a dependência do país em relação às tendências estrangeiras.

Se o Brasil quer ser um líder em inovação e IA, a mudança começa na base, com desenvolvedores que não apenas seguem a onda, mas criam a próxima grande revolução.

Referências:

https://www.tecmundo.com.br/internet/260413-origem-chatgpt-conheca-historia-openai.htm?ab=true&

https://febrabantech.febraban.org.br/temas/inteligencia-artificial/brasil-esta-no-final-do-ranking-de-stanford-sobre-ia

https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/brasil-esta-entre-os-paises-que-mais-usam-inteligencia-artificial/

https://www.nexojornal.com.br/ia-inteligencia-artificial-brasil-tecnologia

ChatGPT

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Comentários (2)
Lelia Salles
Lelia Salles - 27/03/2025 19:41

Bem...eu não sei exatamente, mas penso que, para jovens em idade escolar, poderia haver cursos sobre responsabilidade e IA, ou sobre prompts para aprender a usar, por assim dizer, para que jovens ou mais velhos possam possam ter mais facilidade com o uso. Esses dias eu vi uma propaganda de uma escola presencial, acho que nos Estados Unidos, Alpha School, onde o aprendizado é todo baseado em IA. Talvez algo parecido no modelo online seria disruptivo.

DIO Community
DIO Community - 24/03/2025 15:50

Muito boa análise, Lelia! Você trouxe à tona a realidade de um Brasil que está se esforçando para se posicionar no cenário global da IA, mas ainda enfrenta desafios estruturais significativos. Seu artigo faz uma reflexão profunda sobre o consumo e desenvolvimento de tecnologia no país, destacando a importância de uma abordagem mais estratégica para alcançar a soberania digital.

Você acertou ao conectar os problemas da falta de profissionais qualificados e o baixo investimento em IA com a necessidade urgente de mudança no ecossistema educacional e no mercado de trabalho brasileiro. Além disso, seu foco nas oportunidades de inovação local e na democratização do acesso à IA me parece um ponto chave para que possamos, de fato, deixar de ser consumidores e passarmos a criar tecnologia aqui.

Na sua opinião, como podemos acelerar a capacitação dos profissionais de IA no Brasil, considerando que muitos jovens ainda não têm acesso a esse tipo de conhecimento nas escolas? Quais ações práticas poderiam ser implementadas para preencher essa lacuna?