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Milena Félix
Milena Félix02/09/2025 17:00
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Como o Low-Code e a IA Estão a Redefinir a Arquitetura da Inovação Digital

  • #Low-code

A Quebra de Paradigma no Desenvolvimento de Software

A transformação digital deixou de ser uma opção para se tornar uma condição de sobrevivência para as organizações modernas. Contudo, esta corrida incessante pela digitalização expôs uma fratura fundamental no coração da inovação: a dissonância entre a velocidade exigida pelo mercado e a capacidade de entrega das metodologias de desenvolvimento de software tradicionais. Embora robustos e poderosos, os processos de desenvolvimento convencionais, que envolvem ciclos longos de codificação, testes e implementação, lutam para acompanhar o ritmo vertiginoso das mudanças. Esta pressão manifesta-se de forma aguda nos departamentos de Tecnologia da Informação (TI), que se veem sobrecarregados com backlogs de projetos que crescem exponencialmente e uma escassez crónica de talentos de desenvolvimento qualificados, um desafio que se agrava a cada ano.3 A pandemia de COVID-19 apenas intensificou esta realidade, forçando as empresas a automatizar processos e a digitalizar operações numa escala e velocidade sem precedentes, muitas vezes com recursos limitados.

Apresentação do Low-Code como Movimento Estratégico

É neste cenário de urgência e limitação que o low-code emerge, não como uma simples ferramenta ou uma tendência passageira, mas como uma filosofia e um movimento estratégico fundamental. Na sua essência, o low-code representa a abstração da complexidade da codificação manual. Através de interfaces visuais, modelagem gráfica e componentes de arrastar e soltar (drag-and-drop), as plataformas low-code permitem que a lógica de negócio se traduza mais diretamente em funcionalidade de software, com uma necessidade mínima de escrever código linha a linha. Este paradigma democratiza o acesso à criação de tecnologia, capacitando tanto desenvolvedores profissionais para que trabalhem mais rápido, como especialistas de negócio sem formação em programação para que construam as suas próprias soluções. As raízes deste movimento remontam aos conceitos de Desenvolvimento Rápido de Aplicações (RAD) da década de 1990, que já permitiam aos utilizadores montar aplicações visualmente. No entanto, foi apenas em 2014 que a agência de pesquisa de mercado Forrester Research cunhou formalmente o termo "low-code", catalisando o seu reconhecimento e adoção em massa.

A história do desenvolvimento de software pode ser vista como uma jornada contínua de abstração. Começámos por programar máquinas em código binário, evoluímos para a linguagem Assembly, depois para linguagens de alto nível como C, Java e Python, e, mais recentemente, para frameworks que abstraem tarefas comuns, como React e Django. Cada uma destas camadas não eliminou a necessidade de compreender os fundamentos, mas permitiu que os desenvolvedores se concentrassem em problemas de nível superior, aumentando exponencialmente a produtividade. O low-code é a próxima fronteira lógica nesta evolução. Ele abstrai a sintaxe da codificação para que o foco se desloque para a lógica do processo de negócio e a experiência do utilizador. Desta forma, o low-code não é uma "ameaça" ao desenvolvimento "real", mas sim a sua maturação. É a industrialização do desenvolvimento de software, permitindo a montagem rápida de componentes pré-testados e seguros. Este processo liberta os desenvolvedores profissionais do papel de "artesãos" que constroem tudo do zero, elevando-os a "engenheiros de sistemas" que projetam os componentes reutilizáveis e as arquiteturas complexas que unem todo o ecossistema.

O futuro do desenvolvimento de software não reside na eliminação do código, mas sim numa colaboração sinérgica e inteligente entre desenvolvedores profissionais, uma nova força de trabalho digital conhecida como "desenvolvedores cidadãos" (citizen developers), e plataformas cada vez mais alimentadas por Inteligência Artificial. O low-code não é apenas uma parte deste futuro; é o catalisador que está a tornar esta nova arquitetura de inovação uma realidade tangível, hoje. Este artigo irá explorar a profundidade desta transformação, analisando os dados de mercado, o impacto na força de trabalho, a fusão revolucionária com a IA e o papel redefinido do desenvolvedor na era da automação inteligente.

A Força dos Números: A Adoção Inevitável do Low-Code

A transição para o low-code não é uma especulação futurista; é uma realidade de mercado quantificável e avassaladora. As principais consultorias de tecnologia do mundo apresentam dados que demonstram que o low-code já não é uma tendência de nicho, mas sim uma força dominante que está a remodelar a forma como o software é criado e entregue em escala global.

Análise Quantitativa do Mercado

As projeções de mercado pintam um quadro claro de crescimento exponencial e adoção generalizada. A análise de dados de fontes como Gartner e Forrester revela uma trajetória inequívoca:

  • Gartner prevê que, até 2024, o desenvolvimento de aplicações low-code será responsável por mais de 65% de toda a atividade de desenvolvimento de aplicações a nível mundial. A consultoria vai mais longe, estimando que, até 2025, 70% das novas aplicações desenvolvidas por grandes empresas utilizarão tecnologias low-code ou no-code, um salto massivo em relação aos menos de 25% registados em 2020.
  • Forrester Research corrobora esta visão, projetando que o mercado global de low-code poderá aproximar-se dos 50 mil milhões de dólares até 2028.11 A sua pesquisa indica que a adoção já é uma prática corrente entre os profissionais, com 87% dos desenvolvedores empresariais a afirmar que utilizam plataformas low-code para, pelo menos, uma parte do seu trabalho.
  • Em termos de valor de mercado, os números são igualmente impressionantes. O mercado global de plataformas de desenvolvimento de aplicações low-code foi estimado em 24,83 mil milhões de dólares em 2023 e projeta-se que cresça a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 22,5% entre 2024 e 2030, atingindo um valor projetado de 101,7 mil milhões de dólares até essa data.

Esta adoção massiva não é um fenómeno isolado, mas sim o resultado de um conjunto de impulsionadores de negócio poderosos e interligados.

Principais Impulsionadores da Adoção

A análise dos dados de mercado revela quatro fatores principais que estão a alimentar este crescimento exponencial:

  1. Velocidade e Eficiência: Este é, indiscutivelmente, o principal atrativo. Estudos indicam que as plataformas low-code podem acelerar o processo de desenvolvimento em até 10 vezes em comparação com os métodos tradicionais. O que antes levava meses ou até anos para ser construído pode agora ser entregue em semanas ou mesmo dias, permitindo que as empresas respondam às necessidades do mercado com uma agilidade sem precedentes.
  2. Redução de Custos: A eficiência operacional traduz-se diretamente numa redução significativa de custos. Menos tempo gasto em desenvolvimento significa menos horas de trabalho alocadas, e a capacidade de utilizar equipas mais pequenas e menos segmentadas para muitos projetos reduz os custos operacionais globais. A manutenção e atualização das aplicações também se tornam mais simples e menos onerosas.
  3. Mitigação da Escassez de Talentos: O low-code aborda diretamente um dos maiores desafios da indústria tecnológica: a lacuna global de talentos. Ao capacitar uma força de trabalho mais ampla para participar na criação de soluções de software, as empresas podem reduzir a pressão sobre os seus departamentos de TI sobrecarregados e superar os obstáculos impostos pela dificuldade em contratar e reter desenvolvedores qualificados.
  4. Agilidade de Negócio: A capacidade de adaptar-se rapidamente é crucial na economia digital. A pandemia de COVID-19 serviu como um teste de stress para as empresas, demonstrando que aquelas capazes de digitalizar operações e automatizar processos rapidamente eram as mais resilientes. O low-code provou ser uma tecnologia fundamental neste cenário, permitindo uma resposta ágil às mudanças abruptas do mercado.

Para consolidar a magnitude desta transformação, a tabela seguinte resume as projeções de crescimento mais impactantes.

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Tabela 1: Projeções de Crescimento do Mercado Low-Code (2024-2030). A tabela consolida dados de várias fontes para fornecer um panorama abrangente da escala e velocidade da adoção do low-code.

Os números não mentem. O low-code não é mais uma questão de "se", mas sim de "quando e como" as organizações irão integrá-lo nas suas estratégias de desenvolvimento para se manterem competitivas.

A Nova Força de Trabalho Digital: O "Citizen Developer" e a Governança Essencial

A democratização do desenvolvimento de software, impulsionada pelo low-code, deu origem a uma nova e poderosa força de trabalho digital: o "desenvolvedor cidadão" (citizen developer). Esta figura está no centro da transformação organizacional que o low-code possibilita, mas a sua ascensão também introduz novos desafios que exigem uma abordagem estratégica e cuidadosa à governança.

Definindo o "Desenvolvedor Cidadão"

Um citizen developer é um utilizador de negócio — como um analista financeiro, um gestor de marketing ou um especialista em operações — que cria aplicações de software para consumo próprio ou de outros, utilizando ferramentas e plataformas de desenvolvimento sancionadas e aprovadas pela TI, mas sem ter uma formação formal em programação. Eles não são programadores amadores a operar nas sombras; são agentes de inovação que possuem um profundo conhecimento do contexto de negócio e utilizam o low-code para resolver problemas específicos da sua área de forma autónoma e ágil. A sua capacidade de construir rapidamente protótipos e soluções funcionais permite que as equipas de negócio respondam às suas próprias necessidades sem depender inteiramente do ciclo de desenvolvimento do departamento de TI.

Esta tendência é confirmada pelas projeções do Gartner, que estimam que, até 2026, mais de 80% dos utilizadores de ferramentas low-code serão profissionais de áreas fora dos departamentos de TI tradicionais, um aumento significativo em relação aos 60% registados em 2021.

O Dilema Central: Capacitação vs. "Shadow IT"

A ascensão do citizen developer cria uma tensão fundamental dentro das organizações. Por um lado, capacitar estes profissionais democratiza a inovação, acelera a resolução de problemas e alivia o backlog crónico dos departamentos de TI.19 Por outro lado, a ausência de uma estrutura de controlo e supervisão pode levar a um fenómeno perigoso conhecido como "Shadow IT": a criação de sistemas e aplicações por departamentos de negócio sem o conhecimento ou a aprovação da equipa de TI.

O "Shadow IT" representa um risco significativo para a organização. As aplicações desenvolvidas desta forma são frequentemente inseguras, não escaláveis, mal integradas com os sistemas corporativos existentes e criam silos de dados que comprometem a integridade e a consistência da informação em toda a empresa. O desafio, portanto, não é reprimir o movimento docitizen developer, mas sim canalizar a sua energia de forma produtiva e segura.

O Caminho para a Governança: Melhores Práticas

A solução para este dilema não é a proibição, mas sim uma governança inteligente e proativa. As organizações bem-sucedidas na implementação do desenvolvimento cidadão adotam uma abordagem colaborativa, onde a TI atua como um facilitador e não como um porteiro. As melhores práticas para alcançar este equilíbrio incluem:

  • Criação de um Centro de Excelência (CoE): Estabelecer uma equipa centralizada, composta por membros da TI e das áreas de negócio, responsável por definir padrões, fornecer formação contínua, avaliar e aprovar plataformas, e garantir a conformidade com as políticas de segurança e privacidade da empresa.
  • Desenvolvimento de um Framework de Governança Claro: É crucial definir "as regras do jogo". Este framework deve especificar que tipos de aplicações podem ser construídas por citizen developers, quais os requisitos de segurança e integração que devem ser cumpridos, como os dados devem ser manuseados e acedidos, e qual o processo para publicar uma aplicação para um público mais vasto.
  • Fomento da Colaboração Estratégica entre TI e Negócio: A TI deve evoluir do seu papel tradicional de controlo para um papel de mentoria e capacitação. Isto envolve fornecer as "guard-rails" — como componentes reutilizáveis, APIs seguras e templates pré-aprovados — dentro das quais os citizen developers podem inovar com segurança e confiança.
  • Seleção de Plataformas com Governança Embutida: As plataformas low-code de nível empresarial, como OutSystems, Mendix, Microsoft Power Platform e ServiceNow, são projetadas com a governança em mente. Elas oferecem controlos de acesso granulares, gestão de portfólio de aplicações, mecanismos de segurança automatizados e rastreabilidade, que são essenciais para gerir o desenvolvimento em escala.

A governança é frequentemente percebida como uma restrição, um "mal necessário" para evitar o caos. No entanto, num ecossistema low-code, uma estrutura de governança bem implementada transcende esta visão defensiva. Ela cria um poderoso efeito de rede de inovação. Quando o departamento de TI se concentra em criar e partilhar componentes seguros, testados e reutilizáveis — como conectores de API para sistemas legados, módulos de autenticação padronizados ou templates de interface de utilizador consistentes com a marca da empresa —, cada citizen developer deixa de começar do zero. Em vez disso, eles constroem sobre o trabalho já validado e aprovado de outros. Este processo não só acelera ainda mais o desenvolvimento, como também garante a consistência, a qualidade e a segurança em toda a organização. A governança, assim, transforma o desenvolvimento de uma série de projetos isolados e potencialmente arriscados numa plataforma de inovação cumulativa e escalável, onde o valor de cada nova aplicação é amplificado pelo ecossistema já existente.

O Ponto de Inflexão: A Fusão do Low-Code com a Inteligência Artificial Generativa

Se o low-code representou a primeira grande onda de democratização do desenvolvimento, a sua fusão com a Inteligência Artificial (IA) Generativa marca um ponto de inflexão — uma mudança de paradigma que promete não apenas acelerar, mas automatizar fundamentalmente a criação de software. Estamos a testemunhar a transição do low-code para o que a Forrester Research apelidou de "AppGen" (Application Generation), uma nova era onde as aplicações podem ser geradas a partir de simples descrições em linguagem natural.

O Novo Paradigma: de Low-Code a AppGen

A promessa do AppGen é transformar a intenção humana diretamente em software funcional. Em vez de arrastar e soltar componentes para construir uma interface, um utilizador poderá simplesmente descrever o que precisa: "Cria uma aplicação para gerir o inventário de portáteis dos funcionários, com campos para número de série, modelo, utilizador atribuído e data de aquisição".26 A plataforma, alimentada por IA Generativa, interpretaria este prompt e geraria automaticamente o modelo de dados subjacente, as telas de criação, leitura, atualização e exclusão (CRUD), os fluxos de trabalho de aprovação e a interface do utilizador inicial. Este não é um conceito de ficção científica; é a direção clara para a qual as principais plataformas do mercado estão a evoluir.

Análise da Pesquisa OutSystems/KPMG 2025

Esta fusão entre low-code e IA já não é teórica; é uma realidade a ser implementada ativamente nas empresas. Uma pesquisa global realizada em 2025 pela OutSystems e pela KPMG, que ouviu 550 executivos de software, fornece dados concretos sobre o estado atual desta integração:

  • Adoção Massiva: Um número impressionante de 99% das empresas inquiridas já incorporaram alguma forma de IA no seu ciclo de vida de desenvolvimento de software (SDLC).
  • Principais Áreas de Impacto: A IA está a ser aplicada em fases críticas do desenvolvimento, com destaque para Testes e Garantia de Qualidade (QA) (77%), desenvolvimento e codificação (73%) e manutenção de software (73%).
  • Resultados Tangíveis e Mensuráveis: As empresas já estão a colher os frutos desta integração. 69% reportaram um aumento na produtividade das suas equipas de desenvolvimento, 68% observaram uma melhoria na qualidade do software e uma redução no número de bugs, e 62% conseguiram acelerar o seu time-to-market.

Aplicações Práticas da IA no Low-Code

A sinergia entre IA e low-code manifesta-se de várias formas práticas que estão a redefinir o trabalho diário dos desenvolvedores e das equipas de negócio:

  1. Geração de Aplicações a partir de Prompts: Como mencionado, esta é a fronteira do AppGen. A capacidade de traduzir linguagem natural em código e estrutura de aplicação funcional reduz drasticamente o tempo de desenvolvimento inicial.
  2. Assistentes de Desenvolvimento (Co-pilots): Ferramentas como o "Mentor" da OutSystems atuam como um par de programadores virtuais e inteligentes. Estes assistentes analisam o código e a arquitetura da aplicação em tempo real, sugerindo refatorações para melhorar a performance, identificando potenciais falhas de segurança e garantindo que as melhores práticas de desenvolvimento são seguidas, capacitando tanto desenvolvedores juniores como seniores.
  3. Criação e Integração de Agentes de IA: As plataformas modernas permitem não apenas construir aplicações, mas também integrar agentes de IA autónomos diretamente nos fluxos de trabalho. A pesquisa da OutSystems/KPMG revelou que 47% das empresas já integram estes agentes, com foco em tarefas como a personalização da experiência do cliente (63% das empresas), a revisão de código e QA (61%) e a automação de processos internos complexos (60%).

O Desafio Emergente: "AI Sprawl"

No entanto, esta rápida adoção da IA não vem sem os seus próprios desafios. A mesma pesquisa que destaca os benefícios também aponta para um problema emergente: 44% das empresas admitem enfrentar o "AI sprawl". Este fenómeno descreve a proliferação descontrolada e não governada de diferentes modelos, ferramentas e aplicações de IA em toda a organização. O "AI sprawl" é causado pela falta de integração entre sistemas, escassez de conhecimento interno especializado, custos elevados e o desenvolvimento de soluções de IA em modo "Shadow IT".28 Este desafio reforça a necessidade crítica de plataformas unificadas que possam gerir tanto o ciclo de vida do desenvolvimento low-code como o ciclo de vida da IA, garantindo governança, segurança e escalabilidade.

A tabela seguinte resume o impacto quantificável da IA no desenvolvimento de software, com base nos dados da pesquisa da OutSystems e KPMG.

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Tabela 2: Impacto da IA no Ciclo de Vida do Desenvolvimento de Software (Pesquisa OutSystems/KPMG 2025). A tabela visualiza os resultados mensuráveis da integração da IA, bem como os casos de uso mais comuns para agentes de IA autónomos. Nota: 44% das empresas reportam enfrentar o desafio do "AI Sprawl".

A fusão do low-code com a IA Generativa não é apenas uma melhoria incremental; é uma força transformadora que está a criar um novo patamar de produtividade e inovação, ao mesmo tempo que exige um novo nível de maturidade em governança e estratégia de plataforma.

O Desenvolvedor do Futuro: De Codificador a Arquiteto de Inovação

A ascensão do low-code e a automação impulsionada pela IA geram, inevitavelmente, uma questão central e, por vezes, ansiosa na mente dos profissionais de tecnologia: "O low-code vai eliminar o meu trabalho?". Esta preocupação, embora compreensível, baseia-se numa premissa equivocada sobre a natureza da transformação em curso. O futuro do desenvolvimento não aponta para a obsolescência do desenvolvedor profissional, mas sim para a sua evolução e elevação a um papel mais estratégico e de maior impacto.

Desmistificando o Medo da Substituição

A resposta, apoiada por analistas da indústria e pela lógica da evolução tecnológica, é um enfático não. O low-code não foi projetado para substituir os programadores tradicionais. Pelo contrário, o seu objetivo principal é agilizar o processo de desenvolvimento, automatizando as tarefas mais repetitivas, mundanas e padronizadas — como a criação de formulários, a implementação de operações CRUD (Create, Read, Update, Delete) e a configuração de fluxos de trabalho padrão. Ao libertar os desenvolvedores destas tarefas de baixo valor cognitivo, o low-code permite que eles concentrem a sua energia, criatividade e conhecimento técnico em problemas de maior complexidade e valor estratégico para o negócio. Em vez de uma ameaça, o low-code é um libertador, um multiplicador de força que eleva o papel do desenvolvedor.

A Evolução do Papel do Desenvolvedor Profissional

O desenvolvedor do futuro será menos um "codificador" e mais um "arquiteto de inovação". As suas responsabilidades estratégicas irão evoluir para abranger áreas onde a criatividade humana, o pensamento sistémico e a perícia técnica profunda são insubstituíveis:

  • Arquitetura de Sistemas Complexos: Enquanto os citizen developers constroem aplicações para resolver problemas departamentais, os desenvolvedores profissionais serão responsáveis por projetar e manter a arquitetura de software subjacente que suporta todo o ecossistema. Isto inclui garantir a escalabilidade para lidar com grandes volumes de transações, implementar padrões de segurança robustos e otimizar a performance de todo o sistema.
  • Gestão de Integrações Críticas: A verdadeira complexidade de muitos sistemas empresariais não reside nas interfaces de utilizador, mas sim nas integrações com sistemas legados, bases de dados externas e APIs de terceiros. Os desenvolvedores profissionais serão os especialistas que constroem e mantêm estas pontes de integração críticas, que muitas vezes exigem código personalizado e um profundo conhecimento técnico.
  • Desenvolvimento de Componentes Extensíveis (High-Code): As plataformas low-code não são sistemas fechados. Quando a funcionalidade padrão não é suficiente, os desenvolvedores profissionais podem intervir e escrever código personalizado (high-code) para criar componentes, conectores e funcionalidades avançadas. Estes componentes são depois disponibilizados na plataforma para serem reutilizados pelos citizen developers, expandindo as capacidades do ecossistema de forma segura e governada.
  • Guardiões da Qualidade e Performance: Os desenvolvedores profissionais atuarão como consultores internos e mentores para os citizen developers. Eles irão rever os projetos mais críticos, garantir que as melhores práticas de arquitetura e segurança são seguidas, e otimizar as aplicações para garantir que elas funcionam de forma eficiente em escala.
  • Inovação e Experimentação Acelerada: Com a velocidade proporcionada pelo low-code, os desenvolvedores profissionais podem prototipar e validar rapidamente novas ideias e tecnologias. Eles podem, por exemplo, experimentar a integração de novos modelos de IA/ML ou testar novas arquiteturas de microserviços, acelerando o ciclo de inovação da empresa.

As plataformas low-code líderes de mercado são, cada vez mais, vistas não como ferramentas para "não-codificadores", mas como Ambientes de Desenvolvimento Integrado (IDEs) de alta produtividade para desenvolvedores profissionais.24 Elas automatizam a "canalização" (boilerplate code, configuração de infraestrutura, deployment pipelines) para que os profissionais possam concentrar-se naquilo que realmente importa: a lógica de negócio complexa e a criação de valor diferenciador.

A dinâmica do low-code introduz uma bifurcação do risco no processo de desenvolvimento. No modelo tradicional, tanto o risco de negócio (a solução não resolve o problema real do utilizador) como o risco técnico (a solução tem bugs, falhas de segurança ou problemas de escalabilidade) estão concentrados na mesma equipa de TI. O low-code separa estes riscos. O risco de negócio é transferido para mais perto de quem o entende melhor: o citizen developer, que está imerso na operação diária e pode iterar rapidamente para garantir que a aplicação resolve o problema real.

Consequentemente, o risco técnico torna-se ainda mais concentrado e crítico nas mãos dos desenvolvedores profissionais. Uma falha de segurança num componente reutilizável pode comprometer dezenas de aplicações. Um erro de arquitetura na plataforma pode impactar a performance de toda a organização. Esta bifurcação aumenta, e não diminui, o valor e a responsabilidade do engenheiro de software. O seu papel evolui de construtor de aplicações individuais para construtor da plataforma e guardião da fundação técnica sobre a qual a inovação descentralizada ocorre. O seu trabalho torna-se menos visível em termos de "linhas de código escritas", mas exponencialmente mais impactante em termos da estabilidade, segurança e capacidade de todo o ecossistema de inovação da empresa.

Low-Code na Prática: Casos de Sucesso no Ecossistema Brasileiro

Para traduzir a discussão global sobre o low-code numa realidade tangível e relevante para a comunidade tecnológica brasileira, é fundamental analisar como as empresas no país estão a adotar esta tecnologia para resolver desafios locais e gerar valor mensurável. O cenário brasileiro, marcado por uma necessidade premente de digitalização acelerada e uma conhecida escassez de talentos em TI, revela-se um terreno fértil para a adoção do low-code como uma ferramenta estratégica de competitividade.5 Dois casos de estudo em setores distintos — financeiro e imobiliário — ilustram o impacto prático desta abordagem.

Estudo de Caso 1: Setor Financeiro - Banco Bmg

  • O Desafio: O Banco Bmg, uma instituição financeira de grande porte, enfrentava desafios operacionais significativos decorrentes de processos internos que não possuíam uma estrutura definida e padronizada. Esta falta de padronização resultava em baixa visibilidade sobre diversas atividades, retrabalho frequente devido à descentralização de informações e ineficiências que impactavam a entrega de serviços.
  • A Solução: Para enfrentar este desafio, o banco implementou um programa de excelência empresarial chamado "Bee - Bmg Excelência Empresarial". No âmbito deste programa, os processos internos foram sistematicamente identificados, mapeados e otimizados. Para os processos passíveis de automação, o banco utilizou uma plataforma low-code para redesenhar e automatizar os fluxos de trabalho, centralizando a informação e estabelecendo padrões de execução claros.
  • Os Resultados Quantitativos: O impacto da implementação do low-code foi notável e mensurável. O banco conseguiu otimizar o seu Acordo de Nível de Serviço (SLA) em 80%, o que significa uma melhoria drástica na velocidade e fiabilidade da entrega de serviços internos. Financeiramente, a iniciativa gerou um retorno sobre o investimento (ROI) de sete vezes o valor investido. Este caso demonstra o poder do low-code não apenas para criar pequenas aplicações departamentais, mas para impulsionar a eficiência operacional em larga escala numa organização complexa e regulamentada.

Estudo de Caso 2: Setor Imobiliário - Bild Desenvolvimento Imobiliário

  • O Desafio: A Bild, uma empresa do setor de desenvolvimento imobiliário, procurava formas de automatizar os atendimentos e os processos de back-office (departamentos com pouco ou nenhum contacto direto com o cliente). A empresa necessitava de maior eficiência e de ferramentas que permitissem acompanhar as operações e as metas de forma mais visual e integrada.
  • A Solução: A empresa adotou uma estratégia baseada em low-code para criar painéis de controlo (dashboards) e automatizar fluxos de trabalho em diversas áreas de negócio. A tecnologia permitiu que as equipas de operações construíssem as suas próprias soluções para monitorizar metas e gerir processos, desde o atendimento ao cliente até às operações internas.
  • Os Resultados: A adoção do low-code na Bild demonstrou a capilaridade e a escalabilidade da abordagem. Desde o investimento inicial em 2019, a empresa já desenvolveu 221 processos distintos via low-code, impactando mais de 22 áreas de negócio diferentes. O resultado foi um aumento significativo no grau de eficiência (relação custo/volumetria) da operação. Este caso ilustra como o low-code pode permear uma organização, capacitando múltiplos departamentos a inovar e a otimizar as suas próprias operações de forma contínua.

Análise dos Casos

Estes exemplos do ecossistema brasileiro destacam um ponto crucial: o sucesso do low-code está intrinsecamente ligado à sua capacidade de resolver problemas de negócio tangíveis e gerar valor mensurável. Tanto no Banco Bmg como na Bild, a tecnologia não foi implementada por si só, mas como uma resposta direta a desafios operacionais específicos. Em ambos os casos, o low-code capacitou as equipas de negócio a assumirem um papel ativo na resolução dos seus próprios problemas, com o suporte estratégico da TI, validando o modelo de colaboração que está no cerne do futuro do desenvolvimento de software.

Conclusão: Construindo o Amanhã, Hoje

Ao longo desta análise, percorremos uma jornada que nos levou das origens conceptuais do low-code à sua posição atual como um pilar estratégico da transformação digital. Vimos como esta abordagem evoluiu de uma ferramenta de nicho para uma força de mercado dominante, impulsionada por ganhos massivos de produtividade, pela necessidade de agilidade e pela democratização do acesso à criação de tecnologia. A sua fusão com a Inteligência Artificial Generativa não é uma visão distante, mas uma realidade presente que está a forjar um novo paradigma de desenvolvimento de software, o AppGen, onde a velocidade da inovação é limitada apenas pela clareza da intenção humana.

A Visão do Futuro Colaborativo

O futuro do desenvolvimento de software não será definido por uma batalha entre "código" e "low-code", ou entre "humanos" e "IA". Pelo contrário, será caracterizado por um ecossistema colaborativo, uma simbiose onde cada elemento desempenha um papel otimizado e de maior valor:

  • A IA e o low-code irão automatizar a grande maioria do trabalho de desenvolvimento — talvez 80% — focando-se em tarefas padronizadas, na geração de código repetitivo e na configuração de infraestruturas, libertando o talento humano para se concentrar em desafios mais complexos.
  • Os citizen developers, armados com estas plataformas inteligentes, irão inovar na linha da frente do negócio. Eles serão os sensores da organização, identificando problemas e oportunidades e construindo soluções ágeis para desafios específicos, com uma velocidade e um contexto que as equipas de TI centralizadas raramente conseguem igualar.
  • Os desenvolvedores profissionais irão focar-se nos 20% mais críticos e complexos do ecossistema. Eles serão os arquitetos da fundação digital da empresa, os engenheiros que constroem as integrações robustas, os guardiões da segurança e da performance, e os criadores das plataformas e componentes extensíveis que capacitam todo o ecossistema de inovação. O seu valor será medido não pelas linhas de código que escrevem, mas pelo impacto e pela resiliência dos sistemas que projetam.

Referências citadas

  1. O que é low-code? - IBM, acessado em setembro 2, 2025, https://www.ibm.com/br-pt/think/topics/low-code
  2. Low-Code vs desenvolvimento tradicional: uma quebra de paradigmas - Inforchannel, acessado em setembro 2, 2025, https://inforchannel.com.br/2024/12/03/low-code-vs-desenvolvimento-tradicional-uma-quebra-de-paradigmas/
  3. Low-code e IA: potencializando a evolução digital nas empresas, acessado em setembro 2, 2025, https://niteo.com.br/blog/low-code-ia-evolucao-digital/
  4. A melhor plataforma low-code: explore o top 11 - App Builder, acessado em setembro 2, 2025, https://www.appbuilder.dev/pt-BR/blog/best-low-code-platform
  5. Low-Code no Brasil: Desafios e Estratégias de Governança para CIOs - S4 Digital, acessado em setembro 2, 2025, https://s4-digital.com.br/desafios-e-estrategias-de-governanca-para-cios/
  6. O que é low code ou programação sem código?, acessado em setembro 2, 2025, https://www.iberdrola.com/quem-somos/nosso-modelo-inovacao/low-code
  7. O que é low-code: guia completo com vídeo [atualizado 2024] - Zeev, acessado em setembro 2, 2025, https://zeev.it/blog/o-que-e-low-code/
  8. Low-code e No-code: Quando vale a pena e quando não - Ubistart, acessado em setembro 2, 2025, https://ubistart.com/blog/low-code-e-no-code-quando-vale-a-pena-e-quando-nao/
  9. What is Low Code? (O que é pouco código?) - AWS, acessado em setembro 2, 2025, https://aws.amazon.com/pt/what-is/low-code/
  10. Low-Code: A Revolução no Desenvolvimento de Software Rápido e Acessível - Eduvem, acessado em setembro 2, 2025, https://eduvem.com/low-code-a-revolucao-no-desenvolvimento-de-software-rapido-e-acessivel/
  11. Low-Code Statistics And Trends 2025 – App Builder™, acessado em setembro 2, 2025, https://www.appbuilder.dev/low-code-statistics
  12. Saiba o que é low-code e como a tecnologia impacta o cotidiano ..., acessado em setembro 2, 2025, https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/saiba-o-que-e-low-code-e-como-a-tecnologia-impacta-o-cotidiano-das-companhias/
  13. What Gartner's Magic Quadrant really say about low-code vs no-code? - Kissflow, acessado em setembro 2, 2025, https://kissflow.com/low-code/gartners-magic-quadrant-about-low-code-vs-no-code-2025/
  14. Low-Code Platforms - Forrester, acessado em setembro 2, 2025, https://www.forrester.com/blogs/category/low-code-platforms/
  15. 26 low-code trends for 2025: Key statistics and insights - Hostinger, acessado em setembro 2, 2025, https://www.hostinger.com/tutorials/low-code-trends
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  23. 2025 Gartner Magic Quadrant for Enterprise LCAP: Low-code keeps gaining traction, acessado em setembro 2, 2025, https://pretius.com/blog/gartner-quadrant-low-code
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  29. Low Code: A Revolução da IA na Programação – Como Isso Vai Mudar o Papel do Desenvolvedor? - YouTube, acessado em setembro 2, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=uv4okb2tWUY
  30. A verdade sobre o impacto da IA no desenvolvimento de software - App Builder, acessado em setembro 2, 2025, https://www.appbuilder.dev/pt-BR/blog/impact-of-ai-on-software-development
  31. Como a integração low-code transforma a vida dos desenvolvedores de software - Digibee, acessado em setembro 2, 2025, https://www.digibee.com/blog/how-low-code-integration-is-changing-the-lives-of-software-developers/
  32. What We Can Expect from Low-Code Development in 2022 - Alpha Software, acessado em setembro 2, 2025, https://www.alphasoftware.com/what-to-expect-from-low-code-development-2022
  33. As Limitações e Riscos das Plataformas Low-code/No-code - Leonardo Henrique, acessado em setembro 2, 2025, https://leonardohenrique.tech/as-limitacoes-e-riscos-das-plataformas-low-code-no-code/
  34. Qual é melhor: low-code ou software sob medida? - Supero, acessado em setembro 2, 2025, https://www.supero.com.br/low-code-ou-software-sob-medida/
  35. O que é Low Code? Um Guia para o Desenvolvimento Low-Code | Oracle Brasil, acessado em setembro 2, 2025, https://www.oracle.com/br/application-development/low-code/
  36. O Futuro do Desenvolvimento de Software - Low-Code School, acessado em setembro 2, 2025, https://lowcodeschool.com.br/o-futuro-do-desenvolvimento-de-software/
  37. Unlocking the Future of Development: Key Insights from Forrester's Report on Low-Code Platforms for Professional Developers - NASSCOM Community, acessado em setembro 2, 2025, https://community.nasscom.in/index.php/communities/mobile-web-development/unlocking-future-development-key-insights-forresters-report-low
  38. Perspectivas e desafios do Low-Code no Brasil - Blog Cronapp, acessado em setembro 2, 2025, https://blog.cronapp.io/low-code-brasil/
  39. 35ª Competição de Artigos – Low-Code | DIO Community, acessado em setembro 2, 2025, https://www.dio.me/articles/35a-competicao-de-artigos-low-code-3b3fc902b5c2
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