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Renata Rocha
Renata Rocha19/11/2025 15:41
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Como transformar problemas do dia a dia em projetos reais de tecnologia

    Projetos úteis nascem de observar dores reais.

    Iniciantes em tecnologia costumam buscar a “grande ideia”. E nessa busca frenética passam horas tentando imaginar algo inovador, complexo e brilhante. Só que, na prática, projetos úteis e consistentes não são apenas produto da genialidade do Vale do Silício; eles nascem de observação.

    Eles surgem quando alguém percebe que um processo cotidiano é lento, confuso ou depende de esforço manual desnecessário.

    Um exemplo claro são os chatbots empáticos utilizados no atendimento ao cliente. Eles automatizam interações comuns, liberam tempo dos analistas para casos mais complexos e reduzem custo operacional. É tecnologia aplicada em pequena escala, mas que transforma a experiência do usuário e os processos internos.

    Este artigo mostra como qualquer pessoa pode identificar dores reais, estruturar requisitos, testar hipóteses e transformar pequenas frustrações diárias em projetos sólidos e úteis.

    Por que é importante observar antes de resolver?

    Ideias são infinitas. O ponto central é: qual delas resolve algo de verdade?

    Eduardo Galeano conta uma história sobre um cacique que, após ouvir uma longa fala, respondeu: “Você coça. E coça bastante, e coça muito bem. Mas onde você coça, não coça.”

    É exatamente isso que acontece quando tentamos criar soluções sem olhar profundamente para o problema.

    Na ânsia de acumular projetos ou produzir algo impressionante, esquecemos de verificar onde realmente “coça”.

    Observar antes de resolver evita desperdício de tempo, energia e código.

    Como identificar problemas relevantes no cotidiano

    Nem todo incômodo vira um bom projeto, mas muitos virariam se fossem analisados com método.

    Alguns pontos ajudam:

    Dores recorrentes:

    • Tarefas repetitivas feitas sempre “na mão”. Quanto mais repetição, maior o potencial de automação.
    • Gastos de tempo desnecessários
    • Processos longos demais, formulários redundantes, múltiplas etapas para algo simples.

    Ferramentas como mapas de fluxo de valor, diagramas de Ishikawa, causa e efeito ou até um simples fluxograma ajudam a enxergar gargalos.

    Erros estruturais:

    • Perda de informação, dados duplicados, inconsistências e retrabalho indicam ausência de padrão.

    Lacunas de informação

    • Se as pessoas precisam perguntar o óbvio repetidamente, o processo está mal desenhado.

    Esses sinais estão na casa, no trabalho, nos estudos. O cotidiano é um laboratório silencioso.

    Compreendendo o usuário e o contexto

    Antes de escrever qualquer linha de código, é essencial entender quem sente a dor.

    Quem é o usuário?

    Em que momento o problema aparece?

    Com que frequência?

    Qual o impacto no dia a dia?

    Essas respostas formam os requisitos iniciais. Sem isso, o risco é criar algo útil apenas para quem desenvolveu.

    Como estruturar o problema

    Decomposição:

    • Quebre o problema em partes menores. Resolver várias tarefas pequenas é mais eficiente do que enfrentar um bloco único e gigante.

    Fluxo principal

    • Mapeie o caminho padrão do usuário. O simples ato de visualizar o fluxo já revela gargalos.

    Critérios de aceitação

    • Defina como saber se a solução funciona. Liste condições mínimas e objetivas.

    Requisitos funcionais e não funcionais

    • Funcionais: o que o sistema deve fazer.
    • Não funcionais: desempenho, usabilidade, acessibilidade, segurança.

    Priorização

    Avalie impacto e esforço. Uma matriz de impacto/esforço ajuda a focar no que entrega valor rápido. A primeira versão resolve o essencial, não tudo.

    Essa estrutura organiza o pensamento e limita o escopo.

    Prototipagem rápida: criar antes de codar

    • Prototipar evita retrabalho. Pode ser um rascunho no papel, uma tela no Figma ou até um Google Forms. O objetivo é visualizar e validar, não impressionar.

    Validação com usuários

    • Com o protótipo pronto, teste com quem realmente sente a dor. Pergunte:
    • O fluxo faz sentido?
    • Há pontos de fricção?
    • Falta alguma informação?
    • O tempo de execução diminuiu?

    Feedback real elimina suposições e guia os ajustes. É um ciclo: testar, ajustar, testar.

    Construindo o MVP

    O MVP é a menor versão capaz de gerar valor real.,

    Ele não é perfeito, não tem tudo, não tem design final mas resolve a dor principal.

    Com ele, você valida o problema, o usuário e a solução.

    Case: formulário de anamnese e evolução fisioterapêutica

    Meu projeto nasceu de uma necessidade simples.

    Um fisioterapeuta que atende em domicílio precisava registrar a evolução dos pacientes manualmente, no papel. Esse registro é obrigatório pelo órgão da classe e, feito assim, consumia tempo, gerava inconsistências e prejudicava a organização.

    Problema:

    Informações importantes se perdiam ou eram registradas de forma inconsistente.

    Usuário:

    Um profissional que precisava preencher dados rapidamente, de modo padronizado e seguro.

    Especificação inicial:

    O formulário deveria ser claro, rápido, focado em dados essenciais e capaz de gerar registros organizados.

    Prototipagem:

    Modelei no Google Forms. Com ajuda de IA (ChatGPT e Copilot), desenvolvi um script em JavaScript para salvar automaticamente os dados em PDF e criar uma pasta com o nome do paciente no Google Drive.

    Construção

    Usei Google Forms e AppScript. Ferramentas simples, acessíveis e suficientes.

    Resultado

    Menos retrabalho, mais agilidade, registros padronizados e maior organização.

    Aprendizado

    Soluções simples, quando bem projetadas, resolvem dores reais. Não é sobre complexidade; é sobre impacto.

    Os próximos passos serão evoluir o projeto.

    Conclusão: projeto bom é projeto útil

    Projetos relevantes não começam com ideias geniais. Começam com problemas claros. A inovação está em observar, estruturar, priorizar e construir soluções incrementais.

    É importante se atentar ao contexto e estrutura do negócio, nem todo problema requer soluções robustas e a tecnologia se faz presente de várias formas.

    Para quem está começando em tecnologia, enxergar o cotidiano com atenção é um dos maiores diferenciais. No meu caso, a formação em Engenharia de Produção me deu essa lente analítica. Assim consegui transformar uma dor real em uma solução prática. As experiências anteriores contam e contam muito.

    E é assim que muitos projetos surgem: não da imaginação solta, mas da vida acontecendo.

    E você? Qual é o seu diferencial? Que dor você pode resolver hoje?

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    Comentários (1)
    DIO Community
    DIO Community - 19/11/2025 16:33

    Excelente, Renata! Que artigo cirúrgico, inspirador e de altíssimo valor prático! Você tocou no ponto crucial da Engenharia de Produtos Digitais: projetos úteis não nascem da genialidade do Vale do Silício, mas da observação de dores reais do cotidiano (o que o Ederson Jasper demonstrou com o torniquete/água).

    É fascinante ver como você aborda o tema, mostrando que ferramentas simples (Google Forms + AppScript) podem resolver problemas estruturais e operacionais se o diagnóstico for bem feito.

    Qual você diria que é o maior desafio para um desenvolvedor ao migrar um sistema de core banking para uma arquitetura cloud-native, em termos de segurança e de conformidade com as regulamentações, em vez de apenas focar em custos?