De onde vem os líderes de tecnologia do Brasil e por que não formamos eles?
Teremos a tecnologia como um dos conteúdos do ENEM?
Bom, se a tecnologia, após ser introduzida nas redes de ensino básica do país irá compor o ENEM, eu não sei. Mas, numa madrugada, descobri sobre a BNCC Computação: uma iniciativa do Ministério da Educação para introduzir a tecnologia nas escolas de educação básica do país. Uma proposta que surgiu em 2015 em conjunto com a Sociedade Brasileira da Computação e a Vivo Telefônica. A homologação da proposta veio apenas em 2022, e as escolas do país tinham até 1 ano após a homologação para implementação pelos estados e municípios. Com a falha nessa implementação, a intenção agora é que a BNCC Computação seja posta em prática em 2026, com os estados e municípios tendo que apresentar até o fim de 2025 como farão esta adaptação da BNCC aos seus currículos.
A BNCC Computação é organizada em 3 eixos: pensamento computacional, mundo digital e cultura digital. Como estudante de Ciência da Computação e atuante em educação durante o meu ensino médio ― sendo finalista do prêmio socioeducacional Jovens Transformadores Ashoka em 2025 ―, fica o questionamento se a imposição da tecnologia desta forma técnica ― com muitos conteúdos, entre eles alguns até mais técnicos como machine learning, cibersegurança e redes de computadores, são muito técnicos para a educação básica ou se os eixos obrigatórios são pouco técnicos. A verdade é que a ausência da liderança como tópico na BNCC Computação é um ponto de atenção. A única maneira em que isto aparece no documento é:
(EM13CO18) Planejar e gerenciar projetos integrados às áreas de conhecimento de forma colaborativa, solucionando problemas, usando diversos artefatos computacionais.
Mas é vago. Superficial. Pouca aplicação prática para um país com 2.561 instituições de ensino superior, com 45.776 cursos e apenas 3.540 na categoria Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), segundo dados do Censo da Educação Superior de 2024. A liderança é um pilar capaz de unir a multidisciplinaridade já existente na educação com o futuro profissional do país. Os jovens e os adolescentes precisam ter um olhar de sonhos e oportunidades, um dos principais eixos da desigualdade na educação, que não é apenas socioeconômica, mas é por falta de visão de futuro.
Se a mudança já começar nas nossas mentes, já é um passo para a frente.
De onde surgem os líderes de tecnologia do Brasil? A maioria vêm de forte bagagem acadêmica e profissional, com oportunidades por causa de suas origens ou por causa de suas redes de contatos. No estudo Brazil Tech Diaspora, em que 400 fundadores, investidores e executivos brasileiros de tecnologia foram entrevistados, 58 destes foram entrevistados com mais detalhes: e em todo o estudo, apenas 1 CEO, Lidiane Jones, é citada com a sua história de origem humilde. O que não exclui a possibilidade de terem outros ali. Mas não apaga o fato da maioria não ter história semelhante.
Por que não formamos líderes? A Lei Nº 9.394, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, sequer cita sobre liderança. A lei acerca dos grêmios estudantis, uma iniciativa que, em tese, traz uma "experiência de liderança acadêmica", é presente em apenas 14% das escolas do país, segundo dados do Mapeamento de Grêmios Estudantis no Brasil divulgados em 2024. O plano era 100% das escolas terem grêmios até 2016. Desde 1985, infelizmente, a sociedade como um todo não busca liderar ou formar líderes. E liderar não é ocupar um cargo: é uma habilidade profissional. Uma competência importante também para a vida pessoal. A liderança é, em muitos rumos profissionais, técnica. Mas também é muito geral, exigindo autoconhecimento, comunicação, disciplina e outros pontos.
Se não nos atentarmos, nos tornamos cúmplices, só pela omissão.
A liderança não é uma condição, um estado, uma opção ou uma obrigatoriedade. Não precisamos de líderes infinitos. Mas precisamos trabalhar habilidades que motivarão a produtividade e a disciplina e, consequentemente, formará líderes que já suprirão uma necessidade econômica global e contribuirão para o crescimento da nação.



