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Andre.Goncalves Alves17/11/2025 14:19
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Falta de oportunidades para os profissionais antigos de tecnologia no mundo atual

    Vou começar este texto com uma confissão que talvez faça alguns recrutadores fecharem a aba do navegador agora mesmo, mas eu preciso dizer: nós estamos jogando a experiência no lixo e chamando isso de "inovação".

    Se você trabalha com tecnologia, já viu essa cena. O LinkedIn brilha com postagens coloridas sobre diversidade, inclusão e cultura humanizada. As empresas postam fotos de escritórios com puffs coloridos, videogames e geladeiras de cerveja. Mas, se você olhar com atenção para as fotos dos times de engenharia de software, de produto ou de design, vai notar um padrão perturbador.

    Onde estão os cabelos brancos? Onde estão as rugas de preocupação de quem já derrubou um servidor em produção numa sexta-feira à noite em 2005 e teve que resolver na unha? Onde estão os profissionais com mais de 45, 50 anos?

    A resposta é um silêncio ensurdecedor que o mercado de tecnologia atual finge não ouvir: eles estão sendo sistematicamente ignorados.

    Vivemos hoje um paradoxo cruel. De um lado, CTOs e Diretores de RH gritam aos quatro ventos que existe um "apagão de talentos", que faltam profissionais qualificados, que as vagas não fecham. Do outro, tenho amigos brilhantes, arquitetos de software com 20, 30 anos de estrada, profissionais que viram a internet nascer, enviando currículos para o vácuo. Ou pior: ouvindo que não têm "fit cultural".

    Vamos traduzir o que "fit cultural" virou em muitas startups e empresas tech? Virou um código elegante para dizer: "Você é velho demais para aceitar ganhar pouco, trabalhar 14 horas por dia sem questionar e achar que pizza paga hora extra."

    A verdade dói, mas cura. O mercado viciou em juventude. Existe uma obsessão quase patológica pelo "Júnior de 20 anos com 10 anos de experiência". Queremos a energia inesgotável do jovem, mas com a sabedoria do sênior, pagando o salário do estagiário. Essa conta não fecha. E quem paga o pato é a qualidade do que estamos construindo.

    Eu vejo times inteiros batendo cabeça para resolver problemas que um profissional "antigo" resolveria em 15 minutos. Por quê? Porque ele já viu aquele problema antes. Ele já viu aquela "nova tecnologia revolucionária" quando ela tinha outro nome, 15 anos atrás.

    A tecnologia muda a cada seis meses. Frameworks nascem e morrem. Linguagens entram e saem da moda. Mas a lógica, a arquitetura, a resiliência emocional e a capacidade de resolver problemas complexos não têm prazo de validade.

    Pelo contrário: elas maturam.

    Quando descartamos um profissional de 50 anos porque ele "não sabe a última feature do React", estamos cometendo um erro estratégico primário. Ensinar uma nova sintaxe para quem tem uma base lógica sólida leva semanas. Agora, ensinar maturidade, visão de negócio e inteligência emocional para quem nunca levou um "não" na vida? Isso leva décadas.

    E aqui entra o ponto mais humano dessa conversa. Imagine como se sente esse profissional. Ele dedicou a vida a construir as bases desse mundo digital que hoje o rejeita. Ele estudou quando não existia Google, Stack Overflow ou ChatGPT. Ele aprendeu lendo manuais técnicos em inglês de 800 páginas. Ele tem uma bagagem que vale ouro. E hoje, ele é tratado como uma peça de hardware obsoleta. Como um iPhone 6 que "não roda mais os apps novos".

    Isso não é apenas etarismo (preconceito de idade). É um desperdício de inteligência.

    Recrutadores e Gestores, eu pergunto a vocês: Que tipo de times vocês querem construir? Times de executores que apenas copiam código sem entender o que estão fazendo? Ou times de pensadores, onde a energia do jovem se mistura com a temperança do veterano?

    A magia acontece na mistura. O jovem traz a velocidade, a ousadia, o questionamento do status quo. O profissional mais velho traz a direção, a segurança, a mentoria. Um corre, o outro aponta o caminho. Sem o jovem, a empresa para no tempo. Sem o antigo, a empresa corre muito rápido — para o abismo.

    Eu escrevo isso porque sinto na pele e vejo na vivência dos meus pares. A sensação de invisibilidade machuca. Você se sente um "estrangeiro" no país que você mesmo ajudou a construir.

    Mas eu tenho uma mensagem para você, profissional "antigo", que está lendo isso e talvez esteja desanimado: Não pare. O mundo está começando a acordar. A bolha das empresas que queimam dinheiro e gente está estourando. Em momentos de crise real, quando o "hype" passa e os problemas difíceis aparecem, a experiência volta a ser o ativo mais valioso da sala.

    Sua vivência não é descartável. Sua história importa. Você não é "velho". Você é sênior de verdade. E sênior de verdade não se define pelo cargo no LinkedIn, mas pela quantidade de tempestades que já atravessou sem deixar o barco afundar.

    E para as empresas, fica o desafio: Olhem para os seus processos seletivos. O filtro de idade do seu ATS está configurado para descartar currículos com base no ano de graduação? O seu "fit cultural" é sobre valores ou sobre idade? Abram as portas. Vocês vão se surpreender com a entrega, a lealdade e a capacidade técnica de quem não está ali para "fazer networking", mas para trabalhar de verdade.

    A tecnologia é feita de códigos, mas é movida por pessoas. E pessoas não têm prazo de validade.

    Se este texto te incomodou, ótimo. Era essa a intenção. Se te fez pensar, melhor ainda. Agora, eu quero saber de você: você já sentiu esse preconceito na pele ou já viu isso acontecer na sua empresa? O que estamos perdendo ao ignorar essa geração?

    Vamos conversar nos comentários. A mudança começa quando a gente para de fingir que o problema não existe.

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