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Silvia Rocha
Silvia Rocha14/12/2022 13:56
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Tecnologia é coisa pra menina?

  • #Desperte o potencial

Quando eu tinha treze anos de idade, lá no início da década de 80, ganhei do meu pai um computador pessoal TK85. Era uma caixinha pequena, um pouco maior que um teclado, que usava como monitor uma televisão e como memória auxiliar um gravador de fita cassete. Junto com o computador, ganhei um livro didático que ensinava a programar na linguagem Basic. O primeiro programa que eu escrevi calculava as raízes de uma equação de segundo grau. 

Naquela mesma época, fui matriculada num curso de datilografia em máquina de escrever mecânica, depois máquina elétrica e, por fim, em máquina perfuradora de cartões.  Tenho quase certeza que meus primos e amigos da escola me consideravam estranha. Nos dias de hoje, eu certamente seria rotulada de “nerd”. 

Passados alguns anos, ingressei na graduação em Ciência da Computação, na Universidade Federal Fluminense. Havia poucas meninas na turma, como tem sido habitual em cursos da área de exatas. Mas, porque é assim? Será preciso se enquadrar no estereótipo “nerd” para ser bem sucedido nessa área? O que faz com que, ainda hoje, tão poucas meninas escolham estudar e trabalhar com tecnologia?

Há pesquisas científicas, no Brasil e no exterior, conduzidas com o objetivo de entender este problema e fornecer subsídios para que haja uma distribuição mais equitativa de gênero nos cursos da área de ciências exatas. Essas pesquisas mostram que, em muitas regiões geográficas, o número de mulheres e homens nos cursos de ensino superior é equilibrado, porém, as mulheres concentram-se mais nos cursos de ciências humanas, biológicas e sociais. 

E porque isso é um problema? Alguém poderia pensar que se trata de uma vocação inata. Que, “naturalmente” as mulheres são mais propensas a se interessar por essas áreas do conhecimento. Se fosse assim, não haveria problema, certo? Talvez. Entretanto, basta uma rápida pesquisa na internet para que se verifique que a situação não foi sempre assim. 

Houve um tempo em que havia muitas mulheres interessadas em estudar matemática, engenharia e computação, por exemplo. A história está cheia de exemplos de mulheres que tiveram grande importância para o desenvolvimento das ciências exatas. Se o problema não é a vocação inata, então o que está impedindo as meninas de se interessarem por essa área?

Algumas pesquisas apontam para a insegurança das meninas com relação a sua capacidade intelectual na área da tecnologia ou o medo de não conseguir superar o desafio de vencer em meio a um ambiente supostamente masculino.

Camila Achutti, idealizadora do movimento Mulheres na Computação, alerta sobre a importância de incentivar as meninas e jovens a buscarem esse mercado de trabalho, para combater a desigualdade de gênero. Segundo ela, quanto mais diversas as equipes, melhores as soluções que podem desenvolver. Além disso, existe uma carência enorme de profissionais nesta área. Sem a inclusão das mulheres, a conta não fecha.

Voltando ao meu exemplo pessoal, tenho certeza que o apoio e o exemplo dos meus pais foi essencial para que eu pudesse me desenvolver continuamente no campo da tecnologia da informação. Tive minha dose de preconceito, mas sempre encarei isso como um problema do outro. Se outra pessoa não consegue enxergar minha capacidade intelectual apenas pelo fato de eu ser mulher, lamento por ela, e sigo em frente.

Sendo assim, cara leitora, sugiro que procure conhecer um pouco mais sobre tecnologia. Não tenha medo de se aventurar pelos termos técnicos, são apenas palavras. Desafie-se a estudar um de cada vez. Tecnologia é feita por seres humanos, para seres humanos. Não é “coisa de homem”, nem “coisa de gênio”. É muito mais fácil gostar daquilo que somos capazes de entender.

E vocês, senhores leitores, incentivem suas filhas, irmãs, esposas, namoradas e amigas a buscar esse conhecimento. Procurem ajudá-las a vencer os preconceitos e desenvolver seus potenciais. Vocês estarão cultivando um relacionamento de gratidão e ajudando a construir um mundo mais igualitário.

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Comentários (4)
Cleidson Souza
Cleidson Souza - 14/12/2022 18:06

Olá Silvia,

Lendo seu artigo eu me coloquei em modo lembrança. E vamos há algumas:

Augusta Ada Byron King, Condessa de Lovelace, conhecida como Ada Lovelace, matemática e escritora. Reconhecida por ter escrito o primeiro ALGORITMO para ser processado pela máquina desenvolvida por Charles Babbage. É uma inspiração.

 

Há um filme que adoro: Estrelas além do tempo, em português, em inglês é Hidden Figures, que conta a história de 3 mulheres negras, que colaboraram com o programa espacial americano a ir onde está, nos idos dos anos 60. É outra inspiração.

 

Minha PROFESSORA de lógica de programação I e II.

Minha PROFESSORA de redes.

Todas duas, mestradas na época e, hoje, doutoras na Universidade onde cursei minha graduação.  

Minha coordenadora no curso de Pós-graduação, que já era doutora. 


Sílvia, sou pai de uma menina. Se ela vai querer ser uma pessoa da área de TI eu não sei.

O estímulo está em casa. E, independentemente do que queira, ela vai ter o meu apoio. Mas, gostaria de agradecer pelo seu post. Motivador.

Inajara Lemos
Inajara Lemos - 14/12/2022 16:07

Uma coisa que eu sempre critiquei em pesquisas comportamentais é que pouco ou nunca se leva em conta o contexto cultural. Na minha família, apesar de eu sempre gostar de vídeo games e ciências no geral, eu nunca fui incentivada pelos parentes. Ele esperavam que eu seguisse para pedagogia ou licenciatura ou qualquer outra carreira classificada como "feminina", e nunca notaram o quanto eu odiava brincar de casinha.

Eu sempre sofri bulling antes de entrar na escola técnica, então rótulo de nerd era uma coisa que eu tomava como elogio. Enfim, fui eu mesma quem me incentivou a seguir por um caminho diferente do que esperavam, porque nem meu namorado na época me incentivava, dizendo que eu não seria uma boa programadora.

Diogo Dantas
Diogo Dantas - 14/12/2022 15:08

O meu professor de programação para games tem uma irmã que, segundo ele, programou uma calculadora sozinha quando ela tinha 10 anos de idade.


Sobre esse lance de você ser rotulada de "nerd" nos dias de hoje, isso me fez lembrar da seguinte frase de Bill Gates: "Não brinque com o nerd da sua turma, pois um dia ele pode ser o seu chefe."

Monica Cardoso
Monica Cardoso - 14/12/2022 14:41

Nossa, isso me lembrou quando fiz meu primeiro personagem andar em Basic décadas atrás! Hoje sigo com o hobby de criar jogos e amo! Todo o seu discurso faz sentido pra várias outras áreas além da tecnologia, eu acredito muito que nenhuma criação humana deveria ser segmentada pra um gênero específico e definitivamente não é coisa de gênio, existem vários tipos diferentes de inteligência e nós só precisamos descobrir a nossa e aproveitar as vantagens que ela traz!