Tecnologia é coisa pra menina?
- #Desperte o potencial
Quando eu tinha treze anos de idade, lá no início da década de 80, ganhei do meu pai um computador pessoal TK85. Era uma caixinha pequena, um pouco maior que um teclado, que usava como monitor uma televisão e como memória auxiliar um gravador de fita cassete. Junto com o computador, ganhei um livro didático que ensinava a programar na linguagem Basic. O primeiro programa que eu escrevi calculava as raízes de uma equação de segundo grau.
Naquela mesma época, fui matriculada num curso de datilografia em máquina de escrever mecânica, depois máquina elétrica e, por fim, em máquina perfuradora de cartões. Tenho quase certeza que meus primos e amigos da escola me consideravam estranha. Nos dias de hoje, eu certamente seria rotulada de “nerd”.
Passados alguns anos, ingressei na graduação em Ciência da Computação, na Universidade Federal Fluminense. Havia poucas meninas na turma, como tem sido habitual em cursos da área de exatas. Mas, porque é assim? Será preciso se enquadrar no estereótipo “nerd” para ser bem sucedido nessa área? O que faz com que, ainda hoje, tão poucas meninas escolham estudar e trabalhar com tecnologia?
Há pesquisas científicas, no Brasil e no exterior, conduzidas com o objetivo de entender este problema e fornecer subsídios para que haja uma distribuição mais equitativa de gênero nos cursos da área de ciências exatas. Essas pesquisas mostram que, em muitas regiões geográficas, o número de mulheres e homens nos cursos de ensino superior é equilibrado, porém, as mulheres concentram-se mais nos cursos de ciências humanas, biológicas e sociais.
E porque isso é um problema? Alguém poderia pensar que se trata de uma vocação inata. Que, “naturalmente” as mulheres são mais propensas a se interessar por essas áreas do conhecimento. Se fosse assim, não haveria problema, certo? Talvez. Entretanto, basta uma rápida pesquisa na internet para que se verifique que a situação não foi sempre assim.
Houve um tempo em que havia muitas mulheres interessadas em estudar matemática, engenharia e computação, por exemplo. A história está cheia de exemplos de mulheres que tiveram grande importância para o desenvolvimento das ciências exatas. Se o problema não é a vocação inata, então o que está impedindo as meninas de se interessarem por essa área?
Algumas pesquisas apontam para a insegurança das meninas com relação a sua capacidade intelectual na área da tecnologia ou o medo de não conseguir superar o desafio de vencer em meio a um ambiente supostamente masculino.
Camila Achutti, idealizadora do movimento Mulheres na Computação, alerta sobre a importância de incentivar as meninas e jovens a buscarem esse mercado de trabalho, para combater a desigualdade de gênero. Segundo ela, quanto mais diversas as equipes, melhores as soluções que podem desenvolver. Além disso, existe uma carência enorme de profissionais nesta área. Sem a inclusão das mulheres, a conta não fecha.
Voltando ao meu exemplo pessoal, tenho certeza que o apoio e o exemplo dos meus pais foi essencial para que eu pudesse me desenvolver continuamente no campo da tecnologia da informação. Tive minha dose de preconceito, mas sempre encarei isso como um problema do outro. Se outra pessoa não consegue enxergar minha capacidade intelectual apenas pelo fato de eu ser mulher, lamento por ela, e sigo em frente.
Sendo assim, cara leitora, sugiro que procure conhecer um pouco mais sobre tecnologia. Não tenha medo de se aventurar pelos termos técnicos, são apenas palavras. Desafie-se a estudar um de cada vez. Tecnologia é feita por seres humanos, para seres humanos. Não é “coisa de homem”, nem “coisa de gênio”. É muito mais fácil gostar daquilo que somos capazes de entender.
E vocês, senhores leitores, incentivem suas filhas, irmãs, esposas, namoradas e amigas a buscar esse conhecimento. Procurem ajudá-las a vencer os preconceitos e desenvolver seus potenciais. Vocês estarão cultivando um relacionamento de gratidão e ajudando a construir um mundo mais igualitário.