A tecnologia do sexo frágil
Por que algo que foi fortalecido por uma mulher é visto como algo tão masculino e ausente da presença feminina nos dias atuais?
Quando alguém te pergunta sobre computação, qual a imagem de profissional vem primeiro à sua cabeça? Não vamos generalizar, mas imagino que seja a imagem de um homem, se eu arriscar mais ainda esse homem veste um moletom - geralmente preto - usa óculos e passa horas em um quarto escuro, em frente ao computador. Mas por que não uma mulher ? Por que não uma garota?
Se você pensar bem, até o primeiro contato de muitas meninas com a tecnologia é masculino, talvez é pelo irmão que joga videogame, o primo que passa o dia no computador ou o pai que precisa resolver negócios no notebook. Desde pequenas, nosso contato com a tecnologia muitas vezes se resume também a um contato masculino, onde a sociedade normaliza que homens podem jogar videogames até a fase adulta, enquanto mulheres devem ter interesses e responsabilidades desde cedo.
Pois bem, vamos agora analisar de o por que isso acontece, envolvendo não só tecnologia, mas história cheia de questionamentos. Aos homens que estão lendo: isso não é um ataque. E às mulheres aqui presentes: sejam bem-vindas.
Através de alguns dados é possivel reparar na diferença exorbitante de homens em relação a quantidade de mulheres no mundo da T.I.
Em uma lista extensa de mulheres, muitas vezes, apagadas pela história, poderíamos citar Ada Lovelace. O que a “mãe da programação” pensaria ao saber que o que antes era apenas um “trabalho feminino” - resolver problemas computacionais ou realizar cálculos - se tornou o oposto nos dias atuais? Sim, isso mesmo, um trabalho feminino, talvez muitos não saibam mas no século XIX, devido aos estereótipos da época, trabalhos que envolviam tarefas minuciosas, repetitivas, auxiliares, técnicas e matemáticas combinavam com o “perfil feminino”.
Enquanto programar era para moças - exatamente por não ser considerado tão importante e ser visto como trabalho de apoio - ,os homens atribuiam papéis que julgavam ter maior importância - como cargos de engenharia de hardware.
Mas, é claro, a tecnologia e a humanidade evoluem, e em meados dos anos 60 a programação acabou ganhando um novo perfil, o que antes não era tão importante passou a ser visto como essencial para o desenvolvimento e crescimento tecnológico e econômico, sendo assim, o mercado passou a considerar que, na verdade, programar era um “trabalho de homens”, o que afastou as mulheres desse meio, antes feminino, e consolidou a imagem masculina à TI, algo que como podemos ver, resiste até hoje.
Hedy Lamarr, Grace Hopper, Margaret Hamilton, Radia Perlman. Todas mentes brilhantes presentes em momentos marcantes da história e responsáveis por tecnologias e eventos que nos fizeram chegar até ao que temos hoje - tecnologia que originou o Wi-Fi, GPS e Bluetooth, primeiro compilador e pioneira da linguagem COBOL, software que levou o homem à lua e desenvolvimento do protocolo que sustenta a internet - mulheres incríveis ofuscadas pela imagem masculina e, consequentemente, esquecidas na história, muitas tendo o mínimo de reconhecimento ou prestígio décadas depois de seus feitos. Sendo assim, o que isso te faz pensar? Por que mesmo as mulheres mais prestigiadas eram apagadas da história? A resposta é simples, mas nem todos estão aptos a responder.
Entretanto tudo é cíclico: toda tendência que se esvai acaba voltando, e o mesmo acontece no mundo tecnológico, onde existem mulheres que ainda lutam por um lugar de fala, por espaço no meio competitivo da TI. Lutando contra um sistema moldado para menosprezá-las e que, felizmente, nunca conseguirá vencer totalmente.
No segmento de liderança em tecnologia, houve uma evolução: a presença feminina saiu de 8% em 2015 para aproximadamente 14% em 2023, marcando um crescimento de 6 pontos percentuais (AIPRM). No Brasil, em apenas 1 ano (entre 2023 e 2024), o número de profissionais mulheres em TI cresceu 4,6%, passando de 69,8 mil para 73 mil (IpesíSerasa Experian).
📊 Crescimento recente da presença feminina na TI
Esses números, ainda que crescentes, mostram que as mulheres ainda são minoria e o caminho a ser percorrido, para que a presença feminina deixe de ser exceção e se torne regra, ainda é longo.
A verdade é simples, a tecnologia do sexo frágil é essencial para a humanidade e a mente feminina é indispensável no meio tecnológico, que com isso possamos entender o quanto as mulheres são necessárias e o quanto devem ser vistas, recebendo seu devido reconhecimento. Está na hora de reescrevermos esse código.