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Paulo Oliveira07/03/2024 16:12
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As gerações seculares já estão entre nós, as milenares estão chegando. O que a tecnologia tem a ver com isso?

    OLIVEIRA, Paulo de Tarso Roma de*. As gerações seculares já estão entre nós, as milenares estão chegando: o que a tecnologia tem a ver com isso?


    * O autor é Doutor em Ciências Sociais pela PUCSP.


    INTRODUÇÃO

     

    A vida eterna, outrora vinculada apenas à dimensão espiritual e reivindicada como projeto divino sob a tutela de eventos míticos de grande envergadura envolvendo ritos, sacrifícios, morte e renascimento, surge no atual contexto como possibilidade concreta de realização sem a intervenção de qualquer deus, mas como resultado de ações eminentemente humanas. Demonstrar isto de forma sintetizada é o que se propõe no presente artigo.

    Esta percepção não envolve ruptura abrupta ou virada repentina em nosso eixo existencial de vida; pelo contrário, emerge em consonância à instalação de um novo estágio evolutivo do desenvolvimento humano, que no atual contexto se manifesta por um inédito padrão de sobreposição, a partir de uma dinâmica notável pela qual pensar esta questão é tanto possível quanto inevitável.

    Com efeito, experimentamos hoje um aumento exponencial do conhecimento humano em todas as áreas, notadamente pela capacidade da tecnologia, via Inteligência Artificial (IA), de realizar tarefas e cálculos complexos em velocidade extraordinária e em grandes quantidades, com avançado grau de precisão e num movimento contínuo de desenvolvimento, a partir de um fato constatado: o conhecimento que é produzido se retro-alimenta de si mesmo e se expande.

    Frente ao exposto, e como resultado disto, o que se constata é que conhecimentos sobre o ser humano, sua natureza, sua biologia, sua constituição, o mapeamento e o controle doenças, a capacidade de produção de novos tipos inéditos e altamente eficientes de medicamentos, estão avançando numa velocidade extraordinária, a ponto de haver previsões animadoras quanto à longevidade e a supressão de doenças em curto e médio prazo, e da morte em médio e longo prazo.

    Nesse sentido, é preciso considerar que muitos países já se despertaram para esta questão, instituindo programas avançados de pesquisa em larga escala, visando entender e enfrentar os desafios desta nova realidade. E o Brasil não pode ficar para trás.

     

    CONSIDERAÇÕES BÁSICAS

     

    Qualquer pessoa atualizada em relação às questões geracionais sabe que já estão entre nós crianças que viverão por séculos. O interessante é que existem estudos atuais voltados a derrotar o envelhecimento, e que apontam para uma vida longeva, de centenas de anos, sem que os efeitos do tempo sejam sentidos, o que traz uma expectativa nova em relação ao ciclo da velhice, geralmente associado à paralisação das atividades, doença e morte.

    Esses estudos estão sendo realizados em várias frentes distintas, e todos eles contam com o suporte da tecnologia. Neste artigo quero, de forma sintetizada, destacar apenas dois, com perspectiva de, em artigos posteriores, promover aprofundamento de ambos.

    Inicialmente na área de Gerontologia. Cito, a guisa de exemplo, as pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelo Dr. Aubrey De Grey, pesquisador vinculado à Universidade de Cambridge, com foco em questões de natureza biológica. As bases de seus estudos são a teoria genética e o desenvolvimento de mecanismos avançados de reparação.

    O interessante, e ao mesmo tempo extraordinário nos estudos deste renomado pesquisador, é que ele encara a velhice como um processo capaz de ser revertido, ou seja, os seres humanos terão idades avançadas, mas não serão considerados velhos. Ele idealiza isso a partir da adoção de uma medicina regenerativa, com intervenções no âmago do processo biológico do envelhecimento: as células e as moléculas.  

    Noutro artigo poderei demonstrar isto com maiores detalhes, porém aqui a perspectiva é apenas sinalizar as perspectivas promissoras nesta área, por conta dos avanços pautados em IA.

    Noutro extremo a longevidade é pensada a partir do suporte das máquinas.

    Nesta linha são importantes os estudos desenvolvidos pelo doutor Raymond Kurzweil, considerado uma das mentes mais geniais de nosso contexto, uma referência hoje em inteligência artificial. Ele idealiza uma humanidade fundida com a máquina, numa releitura atual de clássicos como “o homem de 6 milhões de dólares”, “a mulher biônica”, “Robocop” etc., que na época de seus respectivos lançamentos, não obstante avanços ainda iniciais na área da tecnologia e da inteligência artificial, contudo já vislumbravam essa possibilidade futura. O último, Robocop, era definido como “o policial do futuro”.

    Para esse renomado pesquisador, peça chave em congressos e encontros sobre tecnologia, estamos vivendo no apogeu da transcendência biológica, num momento de transição, e daqui para frente o que irá nos determinar enquanto pessoas não é a biologia, mas a tecnologia. Ele aprofunda esta questão em seu livro The singularity is near: when humans transcend biology. E ele próprio define singularity:

     

    “It's a future period during which the pace of technological change will be so rapid, its impact so deep, that human life will be irreversibly transformed. Although neither utopian nor dystopian, this epoch will transform the concepts that we rely on to give meaning to our lives, from our business models to the cycle of human life, including death itself.” (Kurzweil, 2005, p. 22).

     

    Ele usa o termo “vida eterna” como uma consequência natural desse progresso, sinalizando que esse efeito será precedido de humanos que viverão por séculos num futuro de curto prazo, já nesse século XXI. E se isso nos parece loucura num primeiro momento, atentemos para algumas questões práticas já observadas em relação à produção do conhecimento via IA, e que ele tem apresentado em seminários e encontros que participa. Vejamos.

    Inicialmente, a capacidade de produção de conhecimento pela tecnologia está passando por um avanço exponencial e contínuo, inimaginável para os padrões humanos. Ela produz conhecimentos inéditos numa velocidade incompatível com a capacidade de produção e até de absorção e prática humanas. Levando em conta esse ritmo, já se pode prever com exatidão e certeza, segundo o autor, que o conhecimento se multiplicará em trilhões de vezes em algumas décadas e isso ainda não pode ser mensurado por qualquer lógica humana, embora seja possível prever alguns desdobramentos práticos.

    Ele coloca esta lógica em números. Sincroniza o passado, o presente e o futuro, destacando o processo de evolução do conhecimento. Vejamos:

    Sequência de evolução e duplicação do conhecimento 500 anos atrás – 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 anos. Pensemos que nessa fase o conhecimento levava séculos para evoluir.

    Sequência de evolução e duplicação do conhecimento em nosso contexto – 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256. Pensemos que nessa fase o conhecimento leva alguns anos para evoluir.

    Sequência de evolução e duplicação do conhecimento no futuro de médio e longo prazo – 1, 5, 15, 40, 100, 250, 700, 2.000, 30.000. Pensemos que nessa fase o conhecimento levará dias para evoluir.

    O autor caracteriza esse fenômeno como “Lei do retorno acelerado”.

    Ou seja, será produzido um conhecimento que tende a crescer automaticamente, sem intervenção, se retro-alimentando de si mesmo, num processo ainda não plenamente entendido, sequer calculado, e que trará uma virada no nosso mundo e na nossa existência tal como é, considerando que o conhecimento é sempre um fenômeno transformador e revolucionário.

    Nesse sentido, o conceito de Eras, assim como a divisão de processos históricos (A. antes de; D. depois de) serão processos contínuos, ininterruptos, difíceis de catalogar, classificar e conceituar.

    Não obstante várias questões estejam sendo já pensadas, até mesmo a necessidade de transformação do ser humano para que possa acompanhar tudo isso pari passu, algo impossível sem uma reedição de nossa natureza, contudo para efeito do presente artigo irei focar nos efeitos para os seres humanos em relação à longevidade, considerando que já estão em estágios bem avançados conhecimentos em biologia, genética, realização precisa de diagnósticos, cirurgias avançados com suporte de robótica e nanotecnologia, telemedicina, medicina preventiva em larga escala, desenvolvimento de medicamentos customizados, entre outros, que são prenúncios desse novo tempo.

    A Inteligência Artificial (IA) vai gerenciar essa exponencial transformação em nosso mundo, reeditando nossa realidade, nossos conceitos, nossos padrões, nosso entendimento sobre a vida. Ela será um divisor entre a antiga e a nova civilização que está nascendo, e que terá como uma de suas marcas mais singulares a extensão exponencial da vida.

     Ora, quando considerado o crescimento, também exponencial, do conhecimento em nosso contexto, e que essa tendência tende a se tornar cada dia mais recorrente por conta da capacidade do conhecimento de se retro-alimentar de si mesmo, o que teremos como fase posterior ao alcance da longevidade secular será a longevidade milenar e, por fim, a vida eterna. Estas são suposições previstas pelo autor e ancoradas na lógica já observável do aprofundamento do conhecimento.    


    CONSIDERAÇÕES FINAIS


    Portanto, essa questão é urgente de ser pensada, refletida, calculada, projetada, quando consideramos que já está se tornando uma realidade. Já podemos identificar hoje, com maior recorrência, pessoas que ultrapassam os cem anos e que continuam operantes, ainda que com algumas limitações. Essas pessoas já experimentam efeitos das conquistas na área de saúde, genética, biologia, que continuam avançando e sendo aprofundadas.

    Enfim, estamos num processo dinâmico, e temos que nos preparar para ele.

       Assim, esse artigo é uma pequena centelha que brilha no ofuscante cenário de transformação que vivemos.

    Na medida em que outros avanços forem sendo incorporados aos já existentes, irei produzir novos artigos, como forma de manter atualizado o conhecimento sobre o tema.

     

    REFERÊNCIAS

     

    KURZWEIL, Ray. The Singularity is Near: when humans transcend biology. New York: Penguin Books Ltda., 2005.

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