Engenheiro ou operador de ferramentas?
A engenharia de software, outrora sinônimo de rigor técnico e compreensão profunda dos sistemas computacionais, parece ter se transformado em um rótulo distribuído com facilidade. Inspirado no provocativo artigo publicado por @all.technology.stories no Medium (“Onde está o engenheiro no engenheiro de software?”), este texto propõe uma reflexão sobre o estado atual da profissão — especialmente no contexto brasileiro — e o que realmente significa ser um engenheiro de software.
🧠 Engenharia ou automação glorificada?
No Brasil, o mercado de tecnologia cresceu exponencialmente nos últimos anos. Startups surgem aos montes, e com elas, uma demanda voraz por desenvolvedores. Mas será que estamos formando engenheiros ou apenas operadores de ferramentas?
Hoje, é comum ver profissionais que se intitulam “engenheiros de software” sem saber explicar o funcionamento de um loop, o conceito de ponteiros ou o que acontece por trás de uma chamada de API. Muitos se apoiam em frameworks e bibliotecas sem entender os fundamentos que sustentam essas abstrações. Como bem pontuado no artigo original, “costumávamos construir coisas. Agora nós os configuramos”.
🔍 A superficialidade como padrão
A realidade brasileira não é muito diferente da descrita no texto. Cursos rápidos, bootcamps e tutoriais no YouTube formam profissionais que sabem “fazer funcionar”, mas não sabem “por que funciona”. O uso de ferramentas como React, Docker e AWS Lambda é comum, mas poucos sabem o que é o DOM, como funciona um contêiner ou o impacto da latência de inicialização a frio.
Essa dependência de abstrações cria um vício perigoso: estamos nos abstraindo na irrelevância. E quando algo quebra fora do “caminho feliz”, muitos entram em pânico. A depuração vira um ritual de reiniciar o terminal até o erro desaparecer.
🧱 Engenharia exige fundamentos
Engenharia, em qualquer área, exige compreensão, responsabilidade e tomada de decisões com base em restrições reais. Um engenheiro civil não constrói pontes com base em tutoriais genéricos. Ele estuda tensão, compressão, materiais e modos de falha. Por que no software seria diferente?
No Brasil, ainda há profissionais que honram o título. Estão nos bastidores, lendo RFCs por diversão, escrevendo scripts bash que resolvem problemas reais, depurando vazamentos de memória com ferramentas de profiling. Eles não apenas escrevem código — eles projetam soluções.
📚 O caminho de volta à engenharia
Se queremos continuar nos chamando de engenheiros de software, precisamos resgatar a disciplina. Isso significa:
• Estudar os fundamentos da computação: estruturas de dados, algoritmos, sistemas operacionais, redes.
• Entender como o computador executa o código, não apenas como usar uma biblioteca.
• Projetar soluções que resistem à carga e ao tempo, não apenas que funcionam na demo.
• Escrever testes, documentar, pensar em arquitetura e confiabilidade.
🧭 Conclusão: a decisão é nossa
Como bem finaliza o autor do artigo original, “a palavra engenheiro implica disciplina, compreensão e responsabilidade”. No Brasil, onde o título de engenheiro ainda carrega prestígio, é hora de honrá-lo com prática e conhecimento. Podemos continuar construindo pontes metafóricas com fita adesiva — ou podemos projetar sistemas robustos que resistem ao tempo e à pressão.
A decisão é nossa.
Referência:
Texto original por @all.technology.stories no Medium.



