Por que Testes Automatizados Não Detectam Falhas de Segurança?
Quando tudo passa, mas algo está errado
Você criou os testes. O CI/CD rodou tudo. Todos os status vieram verdinhos.
Deploy feito. Fim de papo? Não tão rápido.
Mesmo com uma suíte robusta de testes automatizados, o seu sistema pode estar vulnerável.
Isso não é exagero. É realidade.
Sistemas com cobertura de testes de 90% já foram invadidos.
O motivo? Os testes estavam olhando para um lado — enquanto a falha estava do outro.
O que realmente são os testes automatizados?
Testes automatizados são ótimos para garantir que:
- O sistema faz o que deveria fazer
- Um botão retorna o resultado esperado
- Um fluxo não está quebrado após uma alteração
- As regras de negócio estão sendo respeitadas
Isso é essencial. Mas aqui vai a pergunta-chave:
Eles também verificam o que o sistema não deveria fazer?
A resposta na maioria dos casos: não.
O que os testes automatizados normalmente ignoram?
Vamos aos exemplos. Testes automatizados dificilmente detectam:
Acesso indevido a dados de outros usuários
(Ex: alterar o id=123
na URL para id=124
e ver dados de outro usuário)
Injeções de código malicioso (XSS, SQLi)
(Ex: scripts inseridos em campos de formulário)
Erros que revelam informações internas
(Ex: stack traces, mensagens de debug em produção)
Tokens manipulados manualmente
(Ex: modificar o JWT no navegador e ganhar privilégios)
Falhas em configurações de permissões
(Ex: endpoints “admin” acessíveis sem autenticação adequada)
Essas situações não fazem parte do “roteiro padrão” dos testes. Mas fazem parte da realidade dos ataques.
A diferença entre testar e atacar:
QA tradicional:
“Quero ter certeza de que o usuário consegue alterar o e-mail corretamente.”
QA com mentalidade ofensiva:
“E se eu tentar alterar o e-mail de outro usuário? Ou colocar um script em vez de um e-mail válido?”
A maioria dos testes automatizados valida o fluxo feliz.
Hackers e pentesters exploram os caminhos quebrados, escondidos ou mal protegidos.
Por que segurança exige outro tipo de teste?
Porque segurança é contexto. É imprevisível.
Uma falha de segurança não depende só da lógica estar certa — mas do que pode ser abusado fora do esperado.
E testar maliciosamente o sistema não está nos requisitos funcionais.
Mas então, como QA posso contribuir com segurança?
Você não precisa ser um hacker para ajudar a proteger seu sistema. Veja como começar:
Inclua testes negativos nos seus fluxos
Tente entradas inválidas, campos em branco, valores extremos, e o que ninguém usaria normalmente.
Valide os limites de acesso
Verifique se usuários comuns conseguem acessar áreas restritas.
Teste erros com atenção
Erros não devem revelar mais do que o necessário (evite mensagens como NullPointerException
visíveis).
Use scanners automáticos no CI/CD
Ferramentas como ZAP ou Trivy ajudam a complementar seus testes.
Aprenda com a comunidade Bug Bounty
Veja como caçadores de bugs pensam e o que eles costumam explorar.
Segurança não é só responsabilidade do time de segurança
Muita gente pensa que segurança é função exclusiva de um Security Engineer.
Mas o ideal é aplicar o conceito de “Security by Design”, onde o sistema já nasce com a segurança pensada desde o início.
E é aí que o QA faz toda a diferença.
Conclusão: Testes verdes não garantem segurança.
Só porque tudo passou, não significa que ninguém consiga passar pelas suas defesas.
Segurança real exige ir além do "funciona como esperado". É preciso testar o inesperado.