Uso Consciente da Inteligência Artificial no Desenvolvimento de Software

Introdução

Atualmente, a Inteligência Artificial está cada vez mais presente nas tarefas do cotidiano, especialmente na rotina dos desenvolvedores. No entanto, algo que deveria servir como um auxílio pode se tornar um verdadeiro obstáculo na vida do estudante de programação, ou, se bem utilizada, uma grande aliada. Para isso, é fundamental compreender o uso consciente da IA na hora de criar ou estudar.

Hoje, temos diversas ferramentas à disposição. Entre as principais estão o GitHub Copilot, que atua diretamente no VSCode com acesso completo ao código, além de assistentes como o ChatGPT e o Gemini, capazes de gerar textos, imagens e até vídeos.

Diante de tantas opções, surge a questão: como utilizar essas ferramentas de forma consciente, de modo que realmente auxiliem nos estudos e no desenvolvimento, de maneira prática e intuitiva? E quais os perigos da dependência da IA?

Os perigos da dependência da IA

Recentemente, o G1 lançou uma matéria mostrando como a IA tem agido no meio estudantil. Foi feita uma pesquisa em que três grupos de estudantes deveriam escrever uma redação: o primeiro grupo deveria escrever unicamente por meio do ChatGPT, o grupo dois escreveria com ajuda do Google, e o terceiro grupo iria escrever a partir das próprias ideias e conhecimentos.

O resultado foi que o grupo que utilizou o ChatGPT teve menos atividade cerebral, 83% dos alunos nem lembravam o que foi dito no texto.

Isso mostra que simplesmente jogar códigos no ChatGPT e pedir para ele corrigir erros não gera aprendizado. É apenas uma solução rápida, sem base sólida, e que provavelmente virá acompanhada de falhas. A IA não tem noção de arquitetura, escalabilidade ou organização de código, o que pode resultar em implementações desorganizadas e cheias de “gambiarras”. No fim, será necessário um desenvolvedor para corrigir esses erros, o que apenas reforça que as IAs não substituirão os programadores, mas podem servir como ferramentas de apoio quando usadas com consciência.

Sair delegando todas as tarefas para chatbot, geram alguns custos como:

• Reduzir o aprendizado prático e o raciocínio lógico.
• Não retém informações a longo prazo.
• Problema de “aceitar o código pronto” sem entender o funcionamento.
• Falta de evolução real como desenvolvedor quando tudo é delegado à IA.

Dicas para estudar com ajuda de IA

Nem tudo está perdido. as IAs podem ser grandes aliadas quando usadas de modo inteligente durante os estudos, algumas dicas são:

Utilizá-la como um aluno.

Pesquisas mostram que, quando ensinamos algo a alguém, acabamos aprendendo ainda mais, pois retemos mais conteúdo e precisamos ter informações mais sólidas. Assim, podemos preparar um prompt inicial para configurar o chatbot como um aluno. O prompt pode ser algo como:

“Você será meu parceiro de estudos em programação, ouvindo minhas explicações e avaliando se estão corretas. Quando eu acertar, confirme e explique claramente o porquê, reforçando o conceito com exemplos simples. Se eu errar, corrija com clareza, mostrando o erro e a forma certa de pensar. Se eu estiver parcialmente certo, reconheça o acerto e complete o que faltar. Use uma linguagem didática, direta e fácil de entender, mantendo o foco no que eu disser e me ajudando a pensar como um programador.”

Dessa forma, será possível explicar conceitos que foram estudados, revisá-los e entendê-los ainda melhor.

Recall.

É uma extensão de navegador que tem acesso à página visitada e gera um resumo que pode ser usado como apoio nos estudos. Além de resumir e organizar as informações, também é possível criar perguntas em formato de cards para ajudar a fixar ainda mais o conteúdo.

Peça analogias e comparações.

As analogias tornam conceitos técnicos mais claros. Podemos usar prompts como:

“Explique closures em JavaScript como se fossem caixas de ferramentas.”

Isso torna o aprendizado mais intuitivo e fácil de memorizar.

Utilize a ia como revisora, não como autora.

Quando você se deparar com um bug difícil de resolver, será inevitável recorrer à IA para investigar o código. No entanto, para evitar o simples “copiar e colar” sem aprendizado, é melhor utilizá-la para explicar passo a passo o que foi feito e sugerir possíveis melhorias. Você pode, por exemplo, dizer:

“Eu tentei resolver assim. Pode revisar e me dizer o que pode melhorar?”

Assim, você entende a lógica do problema e evolui como desenvolvedor.

Perguntas de revisões.

Outro método de estudo muito eficiente é responder perguntas sobre o conteúdo aprendido. Dessa forma, é possível medir o próprio nível de conhecimento e revisar os pontos que ainda precisam de reforço.

Uso consciente do GitHub Copilot

Hoje o próprio VSCode já conta com uma inteligência artificial integrada através do GitHub Copilot, que tem acesso direto ao que o desenvolvedor está escrevendo e sugere trechos de código automaticamente, conforme o contexto. Dentro do Copilot existem diferentes modos de uso (Ask, Agent e Edit), cada um voltado para uma necessidade específica.

O modo Ask é interessante para tirar dúvidas e pedir explicações sobre linhas específicas do código. Já o modo Edit pode ser utilizado para solicitar pequenas alterações em blocos de código selecionados, ajudando a otimizar o que já foi escrito. O modo Agent, por sua vez, é mais voltado para resolver tarefas mais complexas, funcionando como um assistente de programação mais autônomo.

Mesmo sendo uma ferramenta muito útil, é importante ter em mente que o Copilot nem sempre entrega códigos prontos para uso. Muitas vezes, as sugestões vêm com trechos desnecessários ou abordagens que não se encaixam perfeitamente na situação em que você está trabalhando. Por isso, será necessário refatorar o código gerado, ajustar variáveis, funções e lógicas, removendo o que não faz sentido e adaptando ao contexto do projeto.

O uso consciente do Copilot está justamente em entender o que ele faz e aprender com as sugestões, em vez de apenas aceitá-las. Quando usado dessa forma, o Copilot se torna uma excelente ferramenta de apoio para estudo e produtividade, sem substituir o raciocínio lógico e a prática do desenvolvedor.

Conclusão

Podemos compreender que a inteligência artificial é uma ferramenta extremamente útil e poderosa, capaz de otimizar o trabalho de desenvolvedores e acelerar o processo de aprendizado. No entanto, o uso inconsciente pode gerar dependência, reduzir o raciocínio lógico e comprometer a assimilação de novos conhecimentos. É fundamental compreender que a IA deve atuar como auxílio, e não como substituto da prática e do esforço humano.

No contexto da programação, ferramentas como o GitHub Copilot e as integrações do VSCode representam um grande avanço, mas exigem que o desenvolvedor mantenha o senso crítico e a responsabilidade sobre o código que produz. A IA não substitui o pensamento criativo nem a capacidade de resolver problemas de forma estratégica, ela apenas amplia o potencial de quem sabe utilizá-la de forma ética e inteligente.

Dessa forma, o uso consciente da inteligência artificial se torna um diferencial. Saber equilibrar o apoio tecnológico com o aprendizado prático é o que garantirá que os programadores do futuro não sejam apenas usuários de IA, mas profissionais capazes de pensar, criar e inovar com ela.

Referências:

FANTÁSTICO. Pesquisa indica que Inteligência Artificial pode impactar atividade cerebral. G1, 28 set. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/video/pesquisa-indica-que-inteligencia-artifical-pode-impactar-atividade-cerebral-13968085.ghtml. Acesso em: 7 out. 2025.

MICROSOFT. GitHub Copilot in VSCode – Overview. Visual Studio Code. Disponível em: https://code.visualstudio.com/docs/copilot/overview. Acesso em: 9 out. 2025.

SANTOS, Alanis Soares dos; SIMÕES, Lucas de Brito; NEVES, João Emmanuel D Alkmin. Inteligência artificial e suas dependências na vida humana. Revista Brasileira em Tecnologia da Informação, Campinas, v. 5, n. 2, p. 96–106, ago./dez. 2023. Disponível em: https://www.fateccampinas.com.br/rbti/index.php/fatec/article/view/106/60. Acesso em: 9 out. 2025.