Um farol para além do seu tempo!
A lei áurea foi promulgada em 13 de maio de 1888, assinada pela princesa Isabel filha de Dom Pedro II. Ocupou metade da lauda do jornal Cazeta de Notícia e extinguia a escravidão, dando a tão sonhada liberdade. Aqui me atenho apenas a fatos históricos, me abstendo de opiniões e impressões pessoais sobre tal acontecimento. Os negros antes escravizados e agora alforriados contaram com a sorte para sub existirem.
O estudo sempre foi considerado um passaporte pra um futuro melhor, porém algumas profissões carregavam mais garbo, elegância e traziam mais soldo ao bolso do diplomado. Por exemplo medicina, advocacia e as engenharias, graduar em alguma destas era quase que uma Utopia de Galeano para a maioria dos brasileiros, impossível para uma mulher e intangível para uma mulher negra.
Mas acredito que esqueceram de contar para uma curitibana que nasceu em 13 de janeiro de 1913 e batizada como Enedina Alves Marques. Para ela, sem saber que era impossível foi lá e fez; filha de doméstica, cresceu na casa dos patrões da mãe, o delegado Domingos do Nascimento que para ter uma companhia pra filha nascida na mesma época, matriculou Enedina na escola. Assim as meninas se alfabetizaram na escola particular Professora Luiza Dorfmund em 1926, logo em seguida foi pra escola normal de onde saiu professora.
Apenas esta passagem de sua biografia já seria louvável para os moldes da época mas era pouco, Enedina fez um curso complementar de pré-engenharia em 1938, tomando gosto pelo ofício decide ingressar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Pará, onde em 1945 conclui o curso de engenharia Civil. Na foto antiga de formatura, muitos formandos, algumas mulheres e Enedina, sim um destaque para ela pois naquela moldura se perpetuava o retrato da primeira mulher negra engenheira no Brasil.
Muitos contaram fatos curiosos sobre sua passagem nas obras das ruas e da vida, contaram que ela tinha um companheiro inseparável: seu trabuco. Um três oitão que disparava em certas ocasiões em direção as nuvens, trazendo o silêncio e a atenção desejada por seus subordinados, todos homens. Contam que era difícil separá-la de seu fiel amigo e que este esteve com ela até o seu último suspiro. Tirando os mitos e nos apegando aos fatos, Enedina foi muito competente, fato este reconhecido pelo governador Ney Braga no ato de sua aposentadoria.
Por favor, sem mimi ou qualquer espécie de vitimismo, aqui evidencio a história de uma mulher que soube se conduzir nas oportunidades, a frente de seu tempo e com visão de futuro como um farol a iluminar todas nós que a sucedemos. E evidenciando a cultura africana e afro – brasileira, dentro do conceito ubuntu: nós, eu sou (somos) por que ela foi.