Como estudar programação sendo uma pessoa neurodivergente
Este guia foi elaborado através das minhas experiências como uma pessoa neurodivergente enquanto estudante de programação. Eu sou uma pessoa autista com TDAH, e percebi que muitas das minhas dificuldades podem estar relacionadas às minhas neurodivergências. Por isso, esse guia pode ser útil para você que está tendo dificuldade, mesmo que não seja neurodivergente.
1) Você não precisa se aprofundar na parte eletrônica para programar
Creio que esse tópico seja pertinente até mesmo para neurotípicos. Antes de começar a aprender programação, eu tinha uma falsa visão de que eu precisaria saber no fundo como as coisas funcionam a nível eletrônico ou atômico. Por exemplo: Às vezes, quando eu mexia meu mouse, eu pensava: “Nossa, deve ser difícil programar isso, pois eu tenho que calcular os impulsos elétricos, gerados pela movimentação do mouse, que serão processado através de mais impulsos elétricos e então calcular como essa eletricidade vai mandar informações de volta para a tela”.
Mas na real, você não precisa saber TUDO tão fundo. Claro que uma base de como as coisas funcionam é essencial, mas você não precisa saber realmente a fundo como os capacitores, resistores, semicondutores estão agindo simultaneamente do ponto de vista físico, a nível atômico para começar a programar. Eu percebi que eu tendo a noção de que no nível mais básico as coisas se resumem a abrir ou fechar circuito elétrico na hora e local correto já é suficiente.
2) Escolha da linguagem/área
Uma das coisas que me dificulta fazer uma escolha é a grande variedade de opções. Na área tech você pode seguir por várias áreas, cada área contando com “N” tecnologias diferentes, cada tecnologia com X abordagens diferentes. Isso é algo que pode assustar uma pessoa com TEA. Afinal temos:
- Front-End
- Back-End
- Mobile
- Games
- Análise de Dados
- Big Data
- Segurança da Informação
- Outros
Se você escolher algo que realmente goste, seu aprendizado vai ser muito mais fácil, como se fluísse mais suavemente. Pode ser que você goste de uma área específica independente da linguagem, pode ser que goste de uma linguagem independente da área. Aqui não tem outro jeito senão pesquisar. Participe de bootcamps e de lives que ensinam programar ao vivo, conheça linguagens variadas, assista vídeos de áreas diferentes, ouça podcasts. A comunidade brasileira possui excelentes produtores de conteúdo e se você souber inglês você terá acesso à mais conteúdo ainda.
No Brasil, canais que recomendo para você ter uma noção mais geral são:
- Karol Attekita
- Código Fonte TV
Vale lembrar ainda que no caso de alguns, como Games e Mobile, também é necessário ter um computador um pouco mais potente do que em outras áreas, então tenha isso em mente.
Agora, quanto às linguagens que recomendo, essas são:
- Python(Dados, Machine Learning, Back-End). Fácil de aprender
- Kotlin (Mobile Android e Back-End). Ela veio para substituir o Java em algumas áreas e tem uma sintaxe muito boa.
- C#(Games e Back-End). Linguagem robusta, com uma boa comunidade, achará muito conteúdo sobre.
3) Quando você se sente preso/estagnado
Para explicar esse tópico, preciso dizer como comecei na programação: Foi através da linguagem C#, em cursos de Unity para desenvolvimento de jogos. Então segui a recomendação geral de estudar Javascript e Front-End. Cheguei a estudar, peguei bastante coisa, mas não foi algo que me motivou. Estudar JS para mim era algo mais chato do que estudar C#, e isso atrasava muito meus estudos. Não é que eu me arrependa de ter aprendido Front-End, mas não é algo que eu aprenda tão facilmente quanto outras linguagens (Como as que citei no tópico acima). Por isso a dica anterior é importante: Saber o que gosta para evitar estagnação. Mas é claro, talvez no seu caso seja apenas a didática do professor e não a linguagem em si, mas falarei sobre isso mais para frente. O importante aqui é você reconhecer se a área que você está estudando te satisfaz. Nesse caso, dê uma pausa do que está estudando e estude outras áreas. Alternar estudos faz bem.
4) Déficit de Atenção e dificuldades com a didática
Essa é uma parte problemática, pois é a mais difícil de contornar. Se você gosta do que estuda mas sente dificuldade por conta do TDAH ou da didática do professor, então algumas dicas que podem ajudar:
- Se estiver assistindo aulas gravada, ative a opção de legendas e leia junto com o vídeo. Seu cérebro vai se concentrar tanto em ler quanto em ouvir. Isso dificulta o desvio de atenção.
- Fique confortável. Ligue um ventilador se estiver calor, sente de forma confortável, ouça de fundo alguma música lo-fi calma e em volume baixo. Quanto mais confortável você estiver, mais fácil se concentrar. Por exemplo, eu gosto de luzes mais amenas, sem barulho e ambiente mais fresco.
- Dê pausas. Estude um pouco, vá fazer outras coisas e volte a estudar. Ás vezes essas pausas podem ser longas, mas em algum horário do dia você deve conseguir focar bem. Eu citaria o método Pomodoro, mas não acho que ele funcione bem para pessoas neurodivergentes.
- Se possível, procure na internet vídeos ou outros materiais de fontes diferentes. Talvez uma outra pessoa explicando te faça entender melhor. Ou talvez você consiga consumir um conteúdo que “amacie” o conteúdo para você.
- E finalmente: Talvez você esteja estudando algo muito avançado para o seu estado atual. Às vezes é necessário reforçar alguns conceitos antes de seguir em frente.
Bom, acho que essas são minhas dicas. Se tiverem alguma dúvida, fiquem à vontade para perguntar.