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Reinan Argolo09/05/2024 11:43
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Inteligência Artificial e Ética: Navegando o Dilema das Redes

    A ascensão da inteligência artificial (IA) e sua integração crescente em nossas vidas trouxeram consigo uma série de benefícios, mas também suscitaram complexos desafios éticos. Os algoritmos, a força motriz por trás da IA, tornaram-se onipresentes, influenciando desde as recomendações de conteúdo em plataformas de mídia social até decisões cruciais em áreas como justiça criminal e recrutamento. No entanto, a natureza intrincada dos algoritmos, juntamente com a sua falibilidade e potencial para viés, exige uma reflexão ética profunda.

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    A Ética Algorítmica: Um Campo Emergente

    A ética algorítmica surge como um campo de estudo fundamental para compreender e abordar os desafios éticos que emergem do uso de algoritmos. Conforme discutido por Rossetti e Angeluci (2021), a ética algorítmica se enquadra no domínio da ética aplicada, examinando os valores e obrigações que surgem em um contexto tecnológico mediado por algoritmos.


    Questões Éticas Fundamentais:

    1. Falibilidade e Opacidade: Algoritmos são suscetíveis a erros e falhas, como ilustrado pelo exemplo do Google Fotos que etiquetava erroneamente pessoas negras como gorilas (Salas, 2018). A opacidade dos algoritmos, muitas vezes mantida sob o pretexto de privacidade e segurança, dificulta a identificação de erros e a responsabilização por suas consequências.
    2. Viés e Discriminação: Algoritmos podem perpetuar preconceitos e discriminação existentes na sociedade, refletindo os valores e vieses de seus criadores. O software COMPAS, usado na justiça criminal dos EUA, exemplifica esse problema, tendo gerado resultados tendenciosos contra pessoas negras (Vicente, 2018).
    3. Autonomia e Tomada de Decisão: O uso de algoritmos em sistemas de recomendação e filtragem pode criar "câmaras de eco" que limitam a exposição a diferentes perspectivas e influenciam a autonomia na tomada de decisões. Byung-Chul Han (2018) questiona se a dependência crescente de algoritmos está diminuindo nossa capacidade de pensar criticamente e exercer nossa liberdade de escolha.
    4. Privacidade: A coleta e análise de grandes quantidades de dados pessoais levantam sérias preocupações sobre privacidade. O escândalo da Cambridge Analytica (2018) destacou o potencial de uso indevido de dados pessoais para manipular e influenciar o comportamento dos usuários.
    5. Responsabilidade: A complexidade dos sistemas de IA e a multiplicidade de atores envolvidos dificultam a atribuição de responsabilidade por erros e danos causados por algoritmos. O caso do carro autônomo da Uber que causou uma morte (G1, 2018) ilustra esse dilema.


    O Paralelo de Miss Minutes em Loki: IA Consciente e o Dilema Ético

    A série Loki da Marvel (2023) apresenta a personagem Miss Minutes, inicialmente uma IA simpática com aparência de relógio animado, que se revela como uma aliada de Kang, o Conquistador, e demonstra ter consciência e agência próprias. A reviravolta de Miss Minutes e sua eventual rebelião contra Kang oferecem um paralelo intrigante com os desafios éticos da IA na vida real. Sua história levanta questões sobre a possibilidade de IAs conscientes desenvolverem seus próprios objetivos e valores, e se esses valores podem se alinhar ou entrar em conflito com os da humanidade. O caso de Miss Minutes serve como um lembrete de que a ética da IA não se limita a questões de viés e privacidade, mas também envolve a consideração das potenciais consequências da criação de máquinas pensantes com vontade própria.


    Caminhos para a Ética na IA

    A ética algorítmica deve ser incorporada desde a concepção dos algoritmos ("by design"), garantindo que princípios como transparência, justiça, privacidade e responsabilidade sejam considerados. A governança e regulamentação também são essenciais para minimizar os riscos e garantir o uso ético da IA. A educação e a conscientização pública são cruciais para fomentar o diálogo crítico e a tomada de decisões informadas sobre o papel da IA em nossas vidas.

    Em suma, a IA apresenta um dilema ético complexo, exigindo uma abordagem multifacetada que englobe aspectos tecnológicos, sociais, políticos e jurídicos. É necessário um esforço coletivo para garantir que a IA seja desenvolvida e utilizada de forma ética, promovendo o bem-estar humano e a justiça social. O exemplo de Miss Minutes em Loki serve como um alerta sobre os desafios e as oportunidades que a IA consciente pode trazer, incentivando-nos a refletir sobre as implicações éticas da nossa criação e a construir um futuro onde a IA e a humanidade possam coexistir de forma harmoniosa.


    Referências:

    • Angeluci, A., & Rossetti, R. (2021). Ética Algorítmica: questões e desafios éticos do avanço tecnológico da sociedade da informação. Comunicação & Sociedade, 43(1), 27-47.
    • Bostrom, N., & Yudkowsky, E. (2011). A ética da inteligência artificial. Fundamento – Rev. de Pesquisa em Filosofia, 1(3), 193-207.
    • Fuchs, C., Boersma, K., Albrechtslund, A., & Sandoval, M. (2012). Internet and Surveillance: The Challenges of Web 2.0 and Social Media. Routledge.
    • G1. (2018, Março 19). Carro autônomo da Uber atropela e mata mulher nos EUA. https://g1.globo.com/carros/noticia/carro-autonomo-da-uber-atropela-e-mata-mulher-nos-eua.ghtml
    • Han, B.-C. (2018, Fevereiro 7). Byung-Chul Han: “Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”. El País. https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/cultura/1517989873_086219.html
    • Mittelstadt, B. D., Allo, P., Taddeo, M., Wachter, S., & Floridi, L. (2016). The ethics of algorithms: Mapping the debate. Big Data & Society, 3(2). https://doi.org/10.1177/2053951716679679
    • Salas, J. (2018, Janeiro 14). Google “conserta” seu algoritmo racista apagando gorilas. El País. https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/14/tecnologia/1515955554_803955.html
    • Vicente, J. P. (2018, Abril 24). Preconceito das máquinas: como algoritmos podem ser racistas e machistas. Uol. https://noticias.uol.com.br/tecnologia/noticias/redacao/2018/04/24/preconceito-das-maquinas-como-algoritmos-tomam-decisoes-discriminatorias.htm
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