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Douglas Monquero
Douglas Monquero10/11/2025 15:31
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Scrum na educação: o case eduScrum no Ashram College

  • #Scrum

Scrum na educação: o case eduScrum no Ashram College

 

1. Contexto do case

No livro “Scrum: a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo”, Jeff Sutherland descreve como o Scrum começou a ser usado fora da TI, inclusive em escolas. Um dos exemplos mais marcantes é o do Ashram College, uma escola pública de ensino médio em Alphen aan den Rijn, na Holanda, com cerca de 1.800 estudantes.

Nessa escola, o professor de Química e Física Willy Wijnands passou a aplicar Scrum em sala de aula, dando origem ao que hoje é conhecido como eduScrum, uma adaptação educacional do framework.

Com o eduScrum, os alunos são divididos em times de quatro estudantes, trabalham com um backlog de aprendizagem, usam um quadro visual na parede (com tarefas “a fazer”, “em andamento” e “concluídas”) e organizam o estudo em sprints, ao final dos quais há provas, apresentações ou entregas de trabalhos.

Relatos tanto de Sutherland quanto de artigos acadêmicos e reportagens indicam que essa forma de trabalho trouxe melhora nas notas, maior engajamento e desenvolvimento de habilidades sociais e de trabalho em equipe.

 

2. Por que a abordagem ágil foi utilizada, e não a tradicional?

 

O problema inicial identificado pelos professores era bastante comum:

·        alunos pouco engajados;

·        trabalhos em grupo mal distribuídos (alguns “carregando” o time, outros quase não contribuindo);

·        dificuldade de desenvolver competências como colaboração, responsabilidade e auto-organização.

A abordagem tradicional, centrada em aulas expositivas e avaliações apenas no final do período, não dava visibilidade ao esforço de cada aluno ao longo do processo nem oferecia ciclos curtos de feedback.

A abordagem ágil (via Scrum) foi escolhida porque:

·        trabalha em ciclos curtos (sprints), permitindo ajustar o ritmo de estudo rapidamente;

·        valoriza feedback contínuo (reviews, retrospectivas);

·        incentiva auto-organização de times e responsabilidade compartilhada;

·        combina bem com metodologias ativas, como Project-Based Learning.

Ou seja, a agilidade foi usada porque ensino também é um problema complexo, com muita incerteza, onde aprender/inspecionar/adaptar faz mais sentido do que planejar tudo de uma vez e só “ver o resultado” na prova final.

 

3. Por que especificamente Scrum?

 

Entre as abordagens ágeis, o Scrum se destaca por ser um framework simples, mas com eventos, papéis e artefatos bem definidos. Isso facilitou o mapeamento para o contexto escolar:

·        Product Owner → professor, responsável pelos objetivos de aprendizagem e priorização do backlog.

·        Scrum Master / eduScrum Master → aluno que ajuda o time a seguir o processo e remover impedimentos.

·        Time → grupo de alunos responsável por atingir os objetivos da sprint.

·        Backlog → lista de conteúdos, exercícios, experimentos e entregas.

·        Sprint → período de algumas semanas de estudo focado em certos objetivos.

Jeff Sutherland cita o eduScrum como um dos principais exemplos de uso de Scrum fora da TI, reforçando que o framework foi pensado desde o início para ser geral, não restrito a software.

 

4. Como o case se enquadra nos pilares TIA do Scrum

 

Os pilares do Scrum são Transparência, Inspeção e Adaptação (TIA).

 

 4.1 Transparência

No Ashram College, a transparência aparece de várias formas:

Quadro eduScrum na sala, mostrando tarefas, responsáveis e status do trabalho;

·        objetivos da sprint e critérios de aceitação visíveis para todos;

·        professor e alunos acompanham juntos o progresso do time.

Artigos sobre Scrum na educação destacam que gestão visual e clareza de tarefas são percebidas pelos alunos como uma das maiores vantagens do método.

 

4.2 Inspeção

A inspeção acontece em ciclos curtos:

·        a cada aula/sessão, os times verificam o que foi feito e o que ainda falta;

·        no final da sprint há avaliações (provas, apresentações, entregas) que funcionam como um “Sprint Review” do aprendizado;

·        retrospectivas são usadas para inspecionar não só o resultado, mas também o processo de estudo em grupo.

Professores envolvidos com eduScrum desenvolveram instrumentos específicos de retrospectiva para adolescentes, reforçando esse pilar de inspeção constante.

 

4.3 Adaptação

 

Com base nessa inspeção frequente, o time pode se adaptar:

·        mudar estratégia de estudo (divisão de tarefas, ordem dos tópicos);

·        ajustar ritmo da turma;

·        adaptar o próprio uso do eduScrum ao contexto (por exemplo, em disciplinas, formatos híbridos ou flipped classroom).

Relatos de implementação em universidades e escolas mostram que, após cada ciclo, os professores ajustam o desenho das sprints, o tamanho das equipes e até os artefatos usados, exatamente como o Scrum propõe.

 

5. Como o case se conecta aos valores do Scrum

 

Os valores do Scrum, também reforçados na apresentação da DIO, são: Compromisso, Foco, Abertura, Respeito e Coragem.

Estudos sobre Scrum em educação apontam esses mesmos valores como benefícios diretos para times de alunos.

Compromisso:

Os times são co-responsáveis por atingir os objetivos de aprendizagem definidos para a sprint. Em eduScrum, o resultado “produto” é o próprio conhecimento adquirido pelo time, não apenas a nota individual. Isso estimula que todos assumam compromisso com o grupo.

Foco:

Com um backlog priorizado e objetivos claros por sprint, os estudantes sabem exatamente em que concentrar energia naquele ciclo, evitando dispersão com muitos assuntos ao mesmo tempo.

Abertura:

Reuniões frequentes e retrospectivas estimulam que os alunos falem de dificuldades, conflitos de time e dúvidas sobre o conteúdo. A transparência do quadro também facilita conversas honestas sobre quem está sobrecarregado ou precisando de ajuda.

Respeito:

No relato do eduScrum, professores destacam que alunos mais “quietos” passam a ter seu trabalho reconhecido, e as equipes são formadas considerando qualidades complementares, o que aumenta o respeito pelas diferenças dentro do time.

Coragem:

Aplicar Scrum em uma escola tradicional já exige coragem dos professores. Para os estudantes, há coragem em assumir responsabilidade, expor erros nas retrospectivas, experimentar novas formas de aprender e apresentar resultados em público.

 

6. O resultado final era inovador? Por quê?

 

Sim, o resultado pode ser considerado inovador em vários sentidos:

·        leva um framework de gestão de projetos (Scrum) para um contexto não óbvio (ensino médio);

·        transforma a aula de uma experiência passiva (professor falando, aluno ouvindo) em uma experiência ativa e colaborativa;

·        evidências indicam melhora nas notas, maior motivação e desenvolvimento de soft skills como colaboração, comunicação e pensamento crítico.

Além disso, esse case serviu como base para disseminar o eduScrum em outras escolas e universidades, mostrando que práticas ágeis podem ser uma forma concreta de implementar educação centrada no aluno.

 

7. O que eu faria diferente (análise crítica pessoal)

 

Apesar dos resultados positivos, há pontos que merecem reflexão crítica:

Risco de “Scrum de fachada”

Se a escola só copiar quadros e cerimônias sem trabalhar profundamente pilares e valores, o método vira só mais uma burocracia visual. Eu reforçaria formações específicas sobre valores ágeis para professores e alunos, não apenas sobre eventos.

Equilíbrio entre processo e conteúdo

Existe o risco de gastar tempo demais na gestão do processo (boards, reuniões, papéis) e de menos no estudo profundo do conteúdo. Uma melhoria seria definir métricas de aprendizagem (competências, habilidades) além das notas, para garantir que o foco não desvie.

Desigualdade de competências dentro dos times

Estudos mostram que, mesmo com Scrum, alguns alunos podem continuar contribuindo menos.

Eu incluiria mecanismos formais de autoavaliação e avaliação por pares dentro da retrospectiva, para trazer visibilidade e correção para esse tipo de desequilíbrio.

Adaptação a contextos digitais/remotos

Muitos relatos ainda focam em ambientes presenciais. Casos mais recentes, como o uso de eduScrum em ambientes híbridos e flipped classroom, já existem, mas ainda são pouco explorados.

Eu exploraria mais ferramentas digitais (quadros online, métricas automáticas) para manter TIA mesmo fora da sala física.

 

8. Conclusão

 

O case do eduScrum no Ashram College mostra que o Scrum pode ser aplicado com sucesso fora da TI, mantendo fielmente seus pilares (Transparência, Inspeção, Adaptação) e valores (Compromisso, Foco, Abertura, Respeito, Coragem) em um contexto complexo como a educação.

Ao transformar estudantes em times auto-organizados, tornar o aprendizado transparente e iterativo e incorporar feedback contínuo, o eduScrum aproxima a escola da realidade do trabalho moderno e do espírito ágil. Ao mesmo tempo, o case abre espaço para críticas e melhorias – exatamente como um bom time Scrum faria a cada sprint.

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