Transparência no Terceiro Setor: Como a Tecnologia Pode Transformar a Gestão das Nossas Comunidades
Imagine uma comunidade unida, onde as doações e os dízimos são a força vital para ações sociais e manutenção do espaço. Agora, pense na inquietação que surge quando há dúvidas sobre como cada centavo é usado. Foi exatamente isso que vivi na Comunidade São João Bosco, da Paróquia Imaculada Conceição, um lugar tão especial que escolhi para meu casamento. Participando das reuniões como ouvinte e como parte do grupo de música no qual eu era coordenador, percebi um desafio palpável: a transparência na gestão financeira era o maior anseio, mas faltavam ferramentas e conhecimento prático. É aqui que minha jornada como aluno de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) da Uniamérica colidiu com uma necessidade real, dando origem a um projeto desafiador e promissor e que já comecei a colocar em prática, passo a passo.
Minha imersão na realidade da comunidade foi profunda e intencional. Até o momento, realizei quatro encontros diretos com a coordenação (formada pela coordenadora, secretária e tesoureira). No primeiro encontro, mergulhei no cotidiano delas, acompanhando de perto o árduo processo de contabilidade mensal feito totalmente de forma manual, incluindo a minuciosa conferência do mês anterior. Foi uma experiência crucial para sentir na pele as dores e a complexidade envolvidas. No segundo encontro, já com um olhar mais analítico, fiz anotações detalhadas sobre cada etapa do trabalho delas. Paralelamente, busquei orientação especializada, conversando com um contador para entender as melhores práticas e obrigações legais, e me apoiei em referências sólidas como o livro "Contabilidade para Igrejas - Manual Prático: Terceiro Setor", buscando alinhar a solução às necessidades reais do contexto eclesial.
Foi com esse conhecimento prático e teórico em mãos que o projeto realmente começou a tomar forma. No terceiro encontro, comecei a idealizar concretamente como o sistema funcionaria. Decidi construir o backend em Java utilizando o framework Spring. Essa escolha tem dois motivos fortes: primeiro, estou imerso no aprendizado dessa tecnologia robusta e amplamente adotada, segundo minha experiência anterior trabalhando para uma consultoria onde o cliente era do ramo financeiro me mostrou o poder do Java para lidar com dados críticos e processos bem definidos como por exemplo entrada e saída de recursos, algo essencial para um sistema de gestão financeira confiável. Para o frontend, estou em fase de avaliação entre React e Angular, duas ferramentas poderosas que também faço questão de dominar num futuro próximo. Como ainda estou aprendendo ambas, esta etapa inicial de prototipação é vital para testar qual se integra melhor não só ao backend, mas também ao meu fluxo de aprendizado e, claro, às necessidades de usabilidade da equipe da comunidade.
Instituições do Terceiro Setor, como a nossa Comunidade São João Bosco, são pilares essenciais da sociedade, preenchendo lacunas onde o poder público e o mercado nem sempre chegam. Elas existem pela força do voluntariado e da doação, sustentadas pela confiança. Porém, seu maior desafio contemporâneo é justamente a transparência. Muitas, especialmente comunidades menores como a nossa, operam com planilhas manuais, livros caixa, recibos avulsos e dependem da dedicação de voluntários que, como nossas coordenadoras, muitas vezes não têm formação específica em gestão e é algo que raramente se aprende no dia a dia ou nas escolas.
Observando essa realidade de perto, e após os encontros iniciais, a solução tecnológica ganhou contornos mais nítidos. O projeto em desenvolvimento vai além da automação financeira básica. Pense, por exemplo, em mensagens automáticas de aniversário para os membros da comunidade no caso os dizimistas, gerando calor humano sem esforço manual, porém com o cuidado e atenção necessários para minimamente cativá-los visto que sabemos a importância da lembrança de data tão especial, ou no agendamento eficiente da nossa festa mensal, detalhes logísticos que hoje consomem tempo precioso dos voluntários. Para isso, ferramentas como o n8n estão sendo consideradas para orquestrar essas automações auxiliares.
A ambição maior, porém, está no núcleo financeiro. A proposta é criar um sistema que não só registre entradas e saídas de forma digital e organizada, mas que seja capaz de projetar o orçamento do próximo mês, comparar resultados com meses anteriores e até sugerir ações focadas em economia, tudo apresentado de forma visual e intuitiva. O objetivo é claro: reduzir drasticamente o tempo e o estresse do atual fechamento mensal e da prestação de contas, que hoje consome 12 horas ou mais do tempo valioso das nossas coordenadoras. É essa eficiência e clareza transformadora que busco trazer, convertendo dados brutos em informação útil para decisões estratégicas e, principalmente, para fortalecer a confiança de toda a comunidade.
Sou Pedro Henrique, aluno de Análise e Desenvolvimento de Sistemas na Uniamérica. Minha motivação não vem apenas da sala de aula, mas do desejo genuíno de aplicar a tecnologia para resolver problemas reais do meu entorno. Ver a insegurança sobre os recursos na comunidade que acolheu meu matrimônio foi o impulso definitivo. Cada encontro com a coordenação, cada linha de código escrita em Java, cada protótipo de interface testado, reforça minha crença: o conhecimento técnico, aliado à sensibilidade social, pode gerar impactos profundos e transformadores.
O caminho da transparência no Terceiro Setor passa necessariamente por simplificar a gestão e empoderar as comunidades com ferramentas adequadas. Meu projeto, ainda em construção e aprendizado constante (tanto no backend Java quanto na escolha do frontend React ou Angular), mas já bem encaminhado após esses encontros fundamentais, é um passo concreto nessa direção. É uma prova viva de que soluções tecnológicas acessíveis e eficazes podem, e devem, nascer da escuta atenta das necessidades locais e do compromisso com as pessoas que fazem a comunidade existir.