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Allan Lauzid
Allan Lauzid11/12/2025 03:32
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A Música e a Inteligência das Coisas

  • #IA Generativa

Há mais de mil anos já existiam máquinas capazes de fazer música, muito antes de se falar em inteligência artificial. Não eram robôs como os de filmes de ficção científica, mas instrumentos e mecanismos que tocavam sozinhos graças à engenharia e à criatividade humana.

O escritor futurista Arthur C. Clarke, em seu livro Profiles of the Future, em uma reflexão sobre o avanço tecnológico, formulou as famosas Leis de Clarke. E a lei que ilustra bem esse cenário é a Terceira Lei. Ela afirma que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. Essa ideia ajuda a entender por que a música produzida por máquinas hoje parece mágica, já que ela é resultado de séculos de evolução tecnológica. E a medida que nos familiarizamos com as novas tecnologias, essa mágica vai se esvaindo. Dando espaço para as inovações impregnarem novamente essa sensação.

A música possui uma forte influência na percepção dos sentimentos humanos, e quando gerada por IA pode soar como algo totalmente novo, cruzando idéias antes inconcebíveis, de forma quase mística, Mas na realidade representa apenas o capítulo mais recente da longa relação entre tecnologia e criação musical. O mesmo vale para outras áreas em que a IA é aplicada, e que também passaram por fases anteriores de automação e experimentação.

Instrumentos automáticos como flautas mecânicas, pianolas e orquestrions pavimentaram o caminho para a música generativa. O orquestrion ilustra perfeitamente essa 'programação física'. Essa máquina composta por cilindros e martelos animava bailes do século XIX, funciondo como uma espécie de 'jukebox analógica' ativada por moedas. É a prova tangível de que a execução musical complexa já era automatizada mecanicamente muito antes da existência do software.

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De modo semelhante, outras áreas também criaram seus próprios “autômatos” antes da IA moderna. Sistemas especialistas em medicina, como o MYCIN, simulavam raciocínio clínico com regras lógicas. Motores de decisão em finanças automatizavam análises de crédito e detecção de fraudes. Máquinas de cartões perfurados e calculadoras mecânicas introduziram o conceito de “software físico”. Nos anos 60, projetos como o DENDRAL ajudavam químicos na interpretação de espectros muito antes dos modelos atuais. Não faltam exemplos de projetos autômatos, e a música trouxe muitas invenções fantásticas.

Em um vídeo de Felipe Vassão chamado A Verdadeira História da Música Feita por Máquinas (Muito Antes da IA), disponível no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=bQXq4yulwq4), ele apresenta um passeio pela história da música mecânica. Desde as flautas automatizadas descritas pelos irmãos Banū Mūsā no século IX, os autômatos de Al-Jazari, as caixinhas de música, as pianolas e os orquestrions, até o fonógrafo no início do século XX. O fonógrafo foi visto como uma ameaça à música tradicional, já que a possibilidade de gravar e reproduzir áudio alterou completamente a prática da música.

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No vídeo de Felipe, ele explora sistemas de composição algorítmica como a Arca Musarithmica de Athanasius Kircher e os Musikalisches Würfelspiel (Jogos Musicais de Dados), utilizados até por Mozart em suas composições. Felipe narra essa história contando até sobre os primeiros computadores, e os projetos que tinha o objetivo de gerar composições originais baseadas em regras e algoritmos.

Ele mostra que até então era possível automatizar a composição. Mas a execução permanecia dependente de músicos humanos.E com o tempo, chegou o deep learning, os espectrogramas digitais e finalmente os modelos modernos de IA musical, como os utilizados por ferramentas como Suno, Udio e Moises AI Studio.

Mas, entre os autômatos mencionados no vídeo, o que mais chamou minha atenção foi a Arca Musarithmica, também mencionada como 'Harmony Machine', a Máquina de Harmonias. Esse dispositivo dos anos 1650 permitia que qualquer pessoa, mesmo sem formação musical, criasse partituras polifônicas usando tabelas e mecanismos específicos. Essa máquina tinha como base que 'princípios musicais podiam ser traduzidos em regras matemáticas'. Isso soa familiar? Para quem é da área de computação, sim. Pois tudo que é reproduzido através da IA, tem que ser representado através de números. Para depois ser reproduzido por computadores.

Isso mostra que métodos computacionais não dependem necessariamente de eletrônicos. Muito antes dos computadores modernos, técnicas manuais já produziam resultados impressionantes. A percepção de padrões e sua representação matemática permitiam abordagens criativas, como os Jogos Musicais de Dados utilizados Mozart. A automatização da criação musical acompanha a humanidade há muitos séculos e muitas áreas passaram por processos semelhantes antes da IA moderna.

Existe uma reconstrução digital funcional da Arca Musarithimica (https://www.arca1650.info/) que faz parte de um projeto de arqueologia digital e musicologia. Esse projeto consiste em um site que não só explica a história, como prova que a Arca de fato funcionava. Andrew Cashner, o autor do projeto, transcreveu os dados das tabelas originais de Kircher e implementou a lógica do dispositivo na linguagem de programação Haskell.

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A história da tecnologia nos mostra que a engenhosidade humana buscou criar 'autômatos' funcionais em praticamente todas as áreas de atuação, experimentando soluções de automação e sistemas baseados em regras muito antes do surgimento de qualquer dispositivo eletrônico. Alguns exemplos de como diferentes setores já experimentavam a automação antes da inteligência artificial são:

Saúde e medicina

Na década de 1970, sistemas como INTERNIST-1 e MYCIN buscavam formalizar o raciocínio clínico usando regras lógicas, muito antes das redes neurais e do deep learning. Eles funcionavam como consultores eletrônicos que sugeriam diagnósticos e tratamentos, abrindo caminho para modelos capazes de interpretar exames e prontuários.

Finanças e negócios

Os primeiros sistemas desenvolvidos pela FICO para análise de crédito e detecção de fraudes operavam com regras e padrões estatísticos. Esses motores automatizavam aprovações, avaliações de risco e processos internos, funções que hoje são ampliadas pela IA preditiva e generativa.

Indústria e automação

Máquinas de cartões perfurados, como os teares Jacquard e os sistemas IBM, codificavam tarefas repetitivas por meio de furos, criando uma forma primitiva de automação programável. Calculadoras mecânicas e a Analytical Engine de Charles Babbage representam etapas iniciais da computação baseada em algoritmos.

Ciência e pesquisa

Nos anos 1960, o DENDRAL auxiliava químicos na interpretação de espectros de massa usando regras e heurísticas. Ele demonstrou que conhecimento especializado podia ser transformado em software e antecipou assistentes científicos modernos.

Administração e dados

Antes da IA contemporânea, a automação de processos dependia de planilhas, macros, motores de regras, ETL e linguagens de consulta para organizar informações, gerar relatórios e disparar ações. Cartões perfurados e sistemas de workflow foram equivalentes administrativos das caixinhas de música, preparando o terreno para ERPs, CRMs e copilotos de IA.

Tudo isso nos leva ao núcleo da IA moderna, a Matemática, especialmente a Estatística. Quando conseguimos transformar elementos do mundo em números que descrevem suas características, é possível permitir que computadores os interpretem e simulem. Daí surge o conceito de embedding ou vetorização, a forma numérica que se representa qualquer informação dentro de uma IA.

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A aplicação da inteligência artificial em diferentes áreas mostra que ela é apenas mais uma forma de expressar o desejo humano de reproduzir, de maneira artificial, capacidades que já desenvolvemos. Muitas vezes, essas tecnologias acabam superando aquilo que conseguimos fazer manualmente. É isso que torna cada inovação “indistinguível da magia”, como dizia Clarke. A cada geração, surgem novos meios de alcançar essa sensação de maravilhamento tecnológico. Cabe a nós compreender essas ferramentas para continuar inovando, evoluindo e revolucionando.

Se quiser conhecer inspiração que gerou esse artigo, clique no link abaixo do vídeo do produtor musical Felipe Vassão, 'A Verdadeira História da Música Feita por Máquinas (Muito Antes da IA)':

https://www.youtube.com/watch?v=bQXq4yulwq4

Referências

ARCA MUSARITHMICA. Arca Musarithmica – 1650. Disponível em: https://www.arca1650.info/. Acesso em: 09 dez. 2025.

YOUTUBE. À descoberta do Maravilhoso Mundo da Música Mecânica | Episódio 19 "Orquestrion”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8oFG1n3cHGE. Acesso em: 09 dez. 2025.

YOUTUBE. Automated Musical Instruments – Historical Overview. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ko3kZr5N61I. Acesso em: 09 dez. 2025.

YOUTUBE. Felipe Vassão – A história da música mecânica. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bQXq4yulwq4. Acesso em: 09 dez. 2025.

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