Disciplina de lógica de programação: ensino para o mercado de trabalho ou para o desenvolvimento humano e cultural?
É impossível não perceber que algo está muito errado (ou muito certo, se esse for o objetivo do sistema educacional) com a educação de crianças e jovens no Brasil. Qualquer teste nacional ou internacional apresenta dados que demonstram os baixos desempenhos dos alunos em todas as áreas, especialmente as de matemática, raciocínio lógico e, pasmem, nas de leitura e interpretação de textos.
Se nossos docentes da educação básica são formados nas nossas universidades e foram instruídos por outros professores (funcionários públicos) qualificados para o ensino, tentar encontrar a raiz para a situação da educação torna-se no mínimo polêmico. Enquanto isso, poucos autores têm se disposto a descortinar ao público a pedagogia que tem orientado a educação até o momento em que nos encontramos.
De um lado, temos a opinião pública difusa, que se manifesta descontente com o estado atual da Educação e culpa (intuitivamente) os teóricos da Pedagogia, como Paulo Freire. São vozes ingênuas que não percebem a importância do trabalho do referido professor para ultrapassar problemas pontuais no ensino. Do outro, temos ideias predominantes na política educativa como o “ensino centrado no aluno”, “ninguém ensina ninguém”, por um “currículo menos conteudista e mais preenchido com competências socioemocionais”, “por um aluno com pensamento crítico”, entre outros slogans praticados pelos defensores da educação integral do aluno.
O objetivo desse artigo é trazer cada um de você para pensar mais motivos pelo qual não é ensinado “Lógica de programação nas escolas como disciplina obrigatória”, entre outras questões.
Você já se perguntou qual é o papel da escola, da educação e do currículo escolar?
A educação é considerada uma prática social, uma prática social que tem como lócus privilegiado a escola. Por sua vez, a escola é um lugar de garantia de direitos. O objetivo da escola não é garantir mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, é um lugar para qualificar os estudantes para o ambiente social. Para o currículo preenchido com dimensões socioemocionais, o protagonismo prático do aluno é a capacidade dele de reconhecer seu lugar na sociedade. E seu lugar é aquele como protagonista da transformação da sua realidade, ou seja o lugar daquele que sofre a ação de sistemas opressores como capitalismo (os ricos, empresários, grandes empresas, etc). Lutar por seus direitos, se inserindo no grupo a qual pertence, seria o objetivo final da educação para o aluno?
A BNCC traz competências como “Pensamento científico, crítico e criativo” e “Cultura digital”, mas será que é de interesse dos gestores da educação pública trazer para a escola um movimento surgido da necessidade do mercado de trabalho? um movimento impulsionado e promovido pela indústria tecnológica, ou seja, de fora para dentro das escolas? Não é papel da escola resolver uma demanda econômica, e se tem algo que não podemos negar na área da tecnologia é um mercado de trabalho ávido por profissionais qualificados.
Desenvolver um país tem mais a ver com uma população com sólida formação humana, histórica e cultural ou com uma população que estuda e se qualifica para o mercado de trabalho? Os gestores da educação tem muito trabalho para impedir que tendências econômicas (globais) possam interferir na educação.
Você já tinha pensado o papel da educação desse ponto de vista?