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Salustiano Muniz
Salustiano Muniz07/08/2024 22:32
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Precisamos falar sobre saúde mental

    Um comentário pessoal sobre os impactos das neurodivergências em vários âmbitos da vida, sobretudo no profissional

    Recentemente, venho enfrentando problemas crescentes relacionados à saúde mental, desde episódios de ansiedade até crises de depressão que se arrastaram por uma semana inteira. Por experienciar esses problemas na pele, decidi tratar do assunto neste artigo para ajudar pessoas que estão na mesma situação a buscarem ajuda e iniciarem suas jornadas para uma melhor qualidade de vida.

    Você não é uma panela de pressão

    Sejamos sinceros: a velocidade das mudanças na sociedade, o estabelecimento de padrões de sucesso que só existem nas redes sociais e a pressão para que façamos cada vez mais em menos tempo, entre outros fatores, têm nos adoecido. E isso não tem a ver com a máxima de que “é na adversidade que superamos nossos limites”, mas sim com essa enxurrada de desafios da vida contemporânea que nos pressiona cada dia mais, até o ponto em que explodimos.

    Prova disso são os estudos que demonstram que estamos em uma epidemia de quadros como depressão, TDAH e transtorno de ansiedade. Instituições como o Conselho Nacional de Saúde têm divulgado dados preocupantes sobre a saúde mental do brasileiro.

    image Porcentagem da população brasileira acometida por neurodivergências. Fonte: CNS

    Fervendo por dentro, silêncio por fora

    Um dos primeiros sintomas que me acometeu foi a perda crescente de foco, desde as tarefas mais cotidianas até as demandas de trabalho, ao ponto de não conseguir concluir nenhuma obrigação profissional. Ao mesmo tempo, eu procurava agir normalmente e “comprar” tempo para tentar dar prosseguimento às tarefas que já estavam atrasadas, mas sem sucesso.

    Segundo a Dra. Aline Rangel em seu artigo Dificuldade de concentração como sintoma psiquiátrico, a dificuldade de concentração pode ser sintoma de depressão, estresse, sobrecarga de trabalho, ansiedade, TDAH, entre outros problemas de ordem física, psicológica ou sentimental.

    Nessas horas, é importante entender e sinalizar essas dificuldades, mas ao mesmo tempo é necessário ter o apoio necessário, pois muitas vezes quem se vê em situações como essas tem vergonha de dizer que não conseguiu concluir o que lhe foi delegado, e isso vai gerando uma pressão interna crescente.

    Sem válvula de escape

    Nesse ponto, a pressão que me acometia não era mais externa, mas vinha de mim mesmo. Um sentimento de culpa, de fracasso e de “ser um impostor” era constante, e isso começou a virar um ciclo vicioso.

    Eu não conseguia fazer o que precisava fazer, não pedia ajuda porque não queria que me vissem como incompetente por ter demorado tanto para fazer algo que seria relativamente simples ou mesmo por demorar para pedir ajuda, e só de pensar no trabalho já me dava um mal-estar, falta de ar, uma sensação de pressão no peito, as mãos suavam e tremiam, eu não conseguia pensar ou falar direito.

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    Sintomas de Ansiedade. Fonte: Saúde Beneficência

    O surgimento de alguns ou todos esses sintomas combinados pode ser sinal de crise de ansiedade, ainda mais em casos de reincidência. Para essas situações, a melhor recomendação é buscar orientação médica e psicológica e iniciar tratamento, pois episódios como esses não deixam de acontecer de uma hora para outra.

    Quando o pino de segurança estoura

    O pico da minha experiência foi quando eu entrei em crise de depressão: fiquei praticamente uma semana inteira sem conseguir fazer absolutamente nada. E não só no trabalho, mas na vida pessoal também. Não conseguia conversar com amigos, não conseguia cozinhar ou lavar louça, em certas ocasiões não conseguia sair da cama.

    E o sentimento de falha passou a vazar para todos os âmbitos da minha vida. Se antes eu me sentia um impostor por não conseguir fazer as tarefas delegadas a mim no trabalho, nesse momento eu me sentia ainda pior porque não conseguia cumprir com funções básicas da vida, como preparar a própria comida, manter a limpeza do ambiente em que vivo ou minha própria higiene.

    Este estado em que a pessoa não tem ânimo para executar mesmo as ações mais simples é conhecido tecnicamente como Disfunção Executiva, um sintoma presente em pacientes acometidos por várias neurodivergências.

    Segundo o site do Instituto de Psiquiatria do Paraná, “Existe uma grande variedade de problemas que podem causar a chamada disfunção executiva, ou seja, o prejuízo na função executiva”, dentre eles, o site cita TDAH, Autismo, Transtornos de humor (bipolaridade, depressão), diferenças no desenvolvimento cerebral.

    image O que são as funções executivas. Fonte: Psicologia Online

    Apagando o fogo para deixar a pressão baixar

    O primeiro passo que dei para iniciar minha melhora foi reconhecer que precisava de ajuda e que, no estado em que estava, não conseguiria fazer nada. Consultei uma psicóloga, que traçou meu quadro e me encaminhou para consulta com psiquiatra, além de administrar dinâmicas para aliviar os sintomas mais latentes e pedir para que eu a mantivesse informada de qualquer coisa que acontecesse ao longo dos próximos dias.

    Logo após, informei o líder da minha equipe de trabalho sobre o que estava acontecendo e o que eu estava fazendo para resolver a situação. Ele prudentemente redirecionou a demanda que estava sob minha responsabilidade e me deu tempo para me recuperar.

    Por mais que o problema não se resolva na primeira consulta após a crise, conseguir pedir ajuda pode ser o primeiro passo em direção a um movimento de recuperação, dando tração para que outras ações importantes sejam tomadas.

    Cuidando das válvulas de segurança

    A consulta com a psicóloga e a conversa com o líder da minha equipe ajudaram a iniciar um movimento de recuperação. No sábado daquela semana, eu já conseguia cuidar de mim mesmo e da minha casa, além de falar sobre o ocorrido com meus amigos mais próximos.

    Após ouvir e entender o que estava me acontecendo, a psiquiatra indicada pela psicóloga sugeriu tratamento com medicação e outras orientações, como mudança de hábitos alimentares, de sono, etc.

    Em casos como o que me aconteceu, pode ser necessário o uso de medicamentos. Esses medicamentos ajudarão a regular a química do cérebro, enquanto a terapia e a mudança de hábitos se encarregarão de compreender e mitigar os motivos das crises.

    O site Vittude aponta que “O tratamento medicamentoso focado nos cuidados com a saúde mental é importante, mas por si só não garante resultados positivos a longo prazo. Para que o paciente alcance qualidade de vida e bem-estar, também é necessário unir os remédios psiquiátricos a outras estratégias, como psicoterapia e mudanças de hábitos.”

    Sem medo da pressão

    É importante se comprometer com o tratamento, tanto com a psicóloga quanto com o psiquiatra, para que seu estado seja monitorado e, caso necessário, ajustar a dose da medicação ou substituí-la. Além disso, é fundamental adotar as recomendações dos profissionais e buscar a mudança de hábitos indicada.

    Seguindo as orientações corretamente, procurando se ajustar à pressão do dia a dia, entendendo seus limites e recorrendo a uma válvula de escape quando se tornar insuportável, você terá mais qualidade e mais sabor à sua vida.

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