A importância do domínio da escrita para os profissionais em Engenharia de Prompt.

Por Luís Daniel: Jornalista e Gestor Empresarial – 21 jun. 2024

Um profissional de Engenharia de Prompt precisa dominar bem a escrita – escrever corretamente? Eu afirmo que sim. E vou ainda mais longe: este profissional deve, obrigatoriamente, possuir também um bom e amplo conhecimento sobre Assuntos Gerais – passados e presentes.

Muitos podem até dizer que esses conhecimentos, do mundo e da atualidade, e da linguagem, não seriam tão importantes assim, afirmando que a IA já seria um canal prático e adequado para suprir essa possível falta de conhecimento, o que a meu ver é um grande equívoco.

É fato que pessoas com vocabulário limitado e pouco domínio da linguagem – no caso, a sua própria língua natal – têm enorme dificuldade em se expressar adequadamente, isto porque lhes faltam palavras que traduzam o seu pensamento e o transmitam com clareza e objetividade para outro interlocutor. O mesmo problema se dá em relação à língua escrita.

Já a falta de conhecimentos gerais restringe uma boa interlocução, isto quando uma das partes desconhece fatos e acontecimentos importantes do presente ou do passado, limitando a conversa a episódios corriqueiros e banais – talvez eventos do seu dia-a-dia –, o que para as pessoas “pensantes” é frustrante e desestimulador.

E quando tomamos como exemplo o idioma português, com seus advérbios, próclises, crases e a diferença entre “porque”, “por que” e “porquê” –, a coisa parece complicar ainda mais. Mas, não é nosso interesse debater aqui regras gramaticais, menos ainda afirmar que um futuro Engenheiro de Prompt deve possuir formação em Letras ou ser professor de português. O que pretendemos é alertar que, para um bom aproveitamento no uso da IAs, deve-se minimamente saber ler e escrever o nosso idioma pátrio.

Quem já ouviu a história¹ abaixo:

“Na antiga Grécia havia um célebre oráculo, que respondia com segurança a todas as perguntas que se lhe fizessem sobre o futuro, que para nós hoje já é passado. Um pai aflito, um dia, perguntou ao oráculo se o seu filho, que devia partir para a guerra, regressaria são e salvo.

O oráculo respondeu por escrito: "irá virá nunca morrerá nas armas".

O pai ficou satisfeitíssimo com a resposta. Mas a sua alegria não durou muito tempo. Logo depois de dois meses recebeu a dolorosa notícia da morte do filho em combate. Desesperado, foi ao oráculo, a fim de reclamar contra o engano da profecia. O oráculo lamentou muito o que havia sucedido, mas fez ver ao velho pai que nada tinha a corrigir. A sua profecia estava certa e havia se cumprido.

O que ele respondera era o seguinte: "Irá. Virá nunca. Morrerá nas armas". E não: "Irá. Virá. Nunca morrerá nas armas", como julgava o pai.”

E quem já viu uma placa como esta:

O primeiro caso é clássico e representa bem a ausência de pontuação, já o caso da placa de trânsito se resume à falta de colocação de uma simples vírgula. Entretanto, ambos os casos denotam que a carência de conhecimento, tanto para ler quanto para escrever, pode causar equívocos graves de interpretação e entendimento.

Isto aqui pode até parecer uma discussão banal, mas imagine o mal uso da linguagem em perguntas dirigidas a IAs, o retorno pode ser uma resposta completamente diferente daquilo que esperamos, frustrando nossas expectativas; ou quando a resposta, aparentemente, tem uma conotação real, qual a sua base de conhecimentos gerais para perceber se a IA não está apenas “divagando” e tentando nos ludibriar?

A ideia de escrever um artigo sobre este assunto veio de um insight que me ocorreu no momento em que estava elaborando o Ebook² “Guia Prático: Como Utilizar o ChatGPT de Forma Eficaz”. Lógico que contei com a inestimável ajuda do próprio ChatGPT para escrever o ebook, e o Capítulo 3 que esta IA escreveu chamou muito minha atenção, onde ela mesma destaca que “ambiguidades e mal-entendidos” podem prejudicar o desempenho da Inteligência Artificial. Mas a clareza e a certeza de que meu pensamento estava correto veio ao assistir um vídeo da Martha Gabriel³, PhD e uma das principais acadêmicas em Inteligência Artificial no Brasil, onde destaco os seguintes trechos da fala dela:

“A gente tem que estar o tempo todo acompanhando o que está transformando, mudando. E quanto mais poderosa a tecnologia, mais a gente tem que prestar atenção para se capacitar e estar junto com ela. Quando você utiliza hoje as regenerativas, que é o tipo do ChatGPT, Gemini e várias outras que estão no mercado hoje, qual é a grande habilidade que a gente precisa ter? É saber perguntar. Parece tão simples quando você olha a interface do chat ou de qualquer outra, é um prompt apenas. Mas uma pergunta bem feita, ela requer “ene” habilidades, e a principal para você fazer uma pergunta bem feita é o pensamento crítico. Ele já vem sendo citado, elencado, ranqueado por vários grandes estudos de tendências e pesquisas de educação. Como sempre, ranqueado entre as primeiras habilidades para o futuro. Por quê? Porque o mundo se transforma cada vez mais rapidamente em volume de informação e tecnologia. Nesse contexto, você precisa parar, questionar. Então, a primeira coisa, a primeira habilidade do pensamento crítico é a pergunta. E para perguntar direito tem que ter pensamento crítico.” . . .

“Então, entender isso e tentar enviesar a gente tem que entender de lógica, argumentação e retórica. Gente, como é que você faz uma pergunta sem lógica? É aquilo que a gente fala que é uma retórica vazia, uma pergunta vazia como é que você entende que o outro fala sem argumentação e sem retórica? Como é que você se coloca? Como é que você pergunta? Então a argumentação retórica é lógica, repertório.”

Para quem é da área de tecnologia, em que a lógica é uma das – senão a – principal base, acredito que irão entender melhor e com mais facilidade a minha argumentação. Porém, nos dias atuais, em que a IA desponta como um importante e interessante caminho profissional, atraindo pessoas dos mais variadas extratos sociais e categorias profissionais, é de suma importância reconhecer isso e, principalmente, buscar caminhos para corrigir esta deficiência.

Apesar de anos de desenvolvimento, com avanços e paralisações, nos dias atuais e entre as pessoas leigas, a Inteligência Artificial – IA – rapidamente passou de uma “curiosidade” para um assunto de extremo interesse e importância, em muitos casos chegando mesmo a necessidade, tudo isso causado pelo medo de perder o emprego ou mesmo antevendo uma grande oportunidade de negócio ou ascensão profissional – com o consequente aumento salarial.

Não vou mais me alongar no assunto. Minha intenção é apenas apresentar um problema para discussão e debate. Tenho certeza de que muitos irão concordar comigo, como também acredito que causarei polêmica e repúdio às minhas colocações, mas de uma coisa tenho total convicção: aqueles profissionais mais bem preparados e com domínio de mais ferramentas, historicamente, são os que mais produzem e geram riqueza, bem como são os que se destacam e ocupam as melhores posições no mercado, alcançando altos ganhos e se realizando plenamente nas suas profissões e negócios.

1 - Disponível em: https://novomilenio.inf.br/idioma/20010302.htm

2 - Disponível em: https://github.com/LuisSilvaDaniel/lab-natty-or-not

3 – Conheça em: https://www.martha.com.br/