“O pulo do gato” ou “Como sua equipe te ensina?”

Meu primeiro contato com um aprendizado fora do ambiente escolar foi no Movimento Escoteiro. Como lobinho tive a sorte de estar em uma “matilha” onde fui bem recepcionado pelos membros mais velhos, que evoluiam em suas “estrelas” e especialidades a medida que também auxiliavam os membros mais novos em sua progressão pessoal.

Minha vida profissional, por outro lado, começou no ambiente fabril de uma metalurgica. Recém saído do curso de aprendizagem industrial do SENAI, tive a oportunidade de ter contato com profissionais com profunda experiência naquela gama de maquinários que uma auto-peças exige. Senhores perto da aposentadoria que, com muita generosidade, ensinavam os famosos “pulos do gato”, que não constavam nos manuais ou nos livros de eletrônica. Tive a mesma sorte quando ingressei, já como um técnico, na ferrovia. Aprendi muito do trabalho e da vida tomando sol e andando com senhores experientes na ferrovia.

Creio que esse processo de aprendizagem, destacado da figurada de autoridade de um professor, foi uma experiência que tornou natural meu modo de transferencia de conhecimento no trabalho e na via pessoal. Ensinar uma técnica, um procedimento ou mesmo uma receita tornou-se para mim algo natural e prazeroso. Sempre que possivel eu procurava sistematizar o conhecimento em apostilas acessiveis e documentações compartilhadas e, nos anos que se seguiram, sempre que alguém novo era integrado à minha equipe, procurava mostrar os macetes e “pulos do gato”, assim como tinham feito comigo no passado.

Então migrei para o desenvolvimento de software.

E apesar dos anos de experiencia em industrias diferentes, em cidades e estados diferentes, senti inicialmente um baque. Mesmo em squads um pouco mais estruturados, com lideranças estabelecidas, o processo de transferência de conhecimento tem me parecido ineficaz e muitas vezes restritos à indicação de documentação, indicação de um curso no estilo Udemy ou, no máximo, determinada literatura. Senti a falta de trocas de experiências de membros das equipes que participei sobre como se chegou à decisão de que determinada biblioteca seria a solução mais viável para aquele produto ou sobre como determinado perrengue foi resolvido, como evitar que ele aconteça novamente e o que fazer caso ele venha a aparecer!

Conversando com poucos desenvolvedores que, como eu, vieram de outras àreas e passaram por um processo de transição de carreira muito similar, percebi que esse “modo individualizado de aprender” parece ser um paradigma social da industria do software. A partir desse meu sentimento passei a me perguntar sobre qual será o meu papel dentro do meu squad e da própria industria para a quebra desse paradigma? (e como fazer isso sem parecer que eu esteja querendo vender um curso >.< …)

E você, como você gostaria que seu tech lead, scrum master ou P.O lhe falasse sobre o “pulo do gato” do produto do seu squad?

Este artigo foi escrito originalmente em https://medium.com/@rodrigoalexandre/o-pulo-do-gato-ou-como-sua-equipe-te-ensina-2c72230e6568

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