Da audácia de Santos Dumont à encruzilhada da IA: O legado dual da inovação

Há 150 anos, a humanidade testemunhava um salto histórico, impulsionado por um gênio brasileiro. Santos Dumont não foi apenas um inventor; ele foi um visionário da generosidade. Em uma época em que a propriedade intelectual era a chave para a fortuna, ele escolheu o caminho oposto, publicando seus projetos abertamente para o mundo, sem patentes.

Essa atitude pioneira, que hoje chamamos de código aberto (open source), foi a faísca que acendeu a inovação global. Ao invés de ser um segredo comercial, o voo se tornou um conhecimento compartilhado. E foi por isso que a aviação evoluiu tão rapidamente, transformando o transporte e conectando o planeta. Vimos o avião ser usado para o bem da humanidade: no resgate de vidas em áreas de desastre, no transporte de vacinas para lugares remotos e no progresso da ciência que nos levou até a Lua.

Contudo, essa mesma invenção trouxe consigo um fardo pesado. A aviação, por sua velocidade e capacidade de alcance, foi rapidamente adaptada para fins bélicos. Na Primeira Guerra Mundial, os aviões foram inicialmente usados para reconhecimento aéreo e observação de posições inimigas, mas logo se tornaram máquinas de combate, equipadas com metralhadoras. Na Segunda Guerra, o uso se intensificou dramaticamente com o bombardeio de cidades inteiras, como foi o caso de Dresden e Londres, e a aviação de caça se tornou crucial para o domínio do espaço aéreo. A história do avião é, portanto, um lembrete do potencial dual de qualquer tecnologia.

Hoje, vivemos uma encruzilhada similar com a Inteligência Artificial. Ainda não é possível mensurar o impacto total dessa tecnologia, mas já colhemos os frutos em áreas como a robótica industrial, o auxílio em pesquisas científicas complexas e diagnósticos médicos mais precisos. No entanto, o seu uso indevido é uma ameaça real, com a capacidade de criar desinformação em massa, gerar ataques cibernéticos e reforçar vieses sociais.

Como alguém que cresceu na base militar dos Campos dos Afonsos, o berço da aviação no Brasil, o céu sempre foi para mim uma fonte de inspiração. Sempre que olho para o vasto azul do nosso céu, me inspiro a buscar novos horizontes, assim como Santos Dumont nos ensinou a fazer.

Que a conduta de Santos Dumont — um pioneiro da aviação, da tecnologia e do código aberto — seja sempre uma inspiração para que a inovação nos leve para o bem da humanidade.