Estamos sendo vigiados 24h: O controle invisível das empresas sobre nossos dados
No clássico distópico 1984, George Orwell nos apresenta um mundo em que o governo vigia todos os passos dos cidadãos por meio de “teletelas” espalhadas por todos os lugares. A figura do “Grande Irmão” (Big Brother) está de olho o tempo todo. O que antes parecia ficção científica, hoje é parte do cotidiano: empresas sabem o que compramos, o que assistimos, onde estamos, com quem falamos e até como nos sentimos. Mas até que ponto esse controle é ético? E o que está em jogo?
Sou a Rayssa, sou estudante do terceiro semestre de Ciência da Computação no Centro Universitário Farias Brito. Tenho grande interesse nas áreas de segurança da informação e ética digital, e acredito que compreender como nossos dados são utilizados pelas empresas é essencial para garantir uma sociedade mais consciente e protegida diante dos avanços tecnológicos.
A dependência tecnológica
Qual foi a última vez que você saiu sem seu celular? Quanto tempo você consegue ficar sem wi-fi? Vivemos em uma era da hiperconectividade. Nossos celulares, computadores, smart TVs, assistentes virtuais e até mesmo eletrodomésticos estão constantemente conectados à internet.
Embora essa vigilância nem sempre seja percebida, ela é real, silenciosa e crescente. As empresas desenvolvem algoritmos propositalmente viciantes para manter os usuários o máximo de tempo possível em suas plataformas. O usuário é bombardeado de informações, notificações constantes, rolagem infinita e conteúdos personalizados gerando dopamina no cérebro. O objetivo não é apenas engajar, é prender sua atenção, coletar mais dados e, consequentemente, aumentar o lucro por meio de anúncios e vendas direcionadas
O poder dos dados pessoais
Cada clique, curtida, pesquisa ou deslize de tela deixa um rastro digital. Esses rastros, chamados de dados pessoais, são coletados em massa por empresas de tecnologia, redes sociais, plataformas de streaming, aplicativos de mobilidade e até lojas online. As informações vão muito além do básico nome, e-mail ou localização. Elas incluem hábitos de consumo, preferências políticas, tempo gasto em aplicativos, batimentos cardíacos, padrões de sono e reconhecimento facial.
Empresas como Google, Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), Amazon e TikTok possuem verdadeiros impérios de dados. Elas utilizam algoritmos complexos para analisar esse conteúdo, prever comportamentos e influenciar decisões como qual será o próximo produto que você irá comprar.
Apesar das políticas de privacidade e das janelas de consentimento que aparecem em quase todos os sites, a maioria dos usuários não compreende realmente a extensão da coleta de dados. Muitas vezes, o “aceito os termos” é dado de forma automática, como uma formalidade, sem que se entenda o que está sendo compartilhado ou com quem.
O que pode ser feito?
No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) busca garantir mais transparência e segurança para os usuários. No entanto, a aplicação dessas leis ainda enfrenta desafios diante do poder e da velocidade das grandes corporações. Como indivíduos, podemos tomar algumas medidas: usar navegadores mais seguros, instalar bloqueadores de rastreamento, revisar permissões de aplicativos, questionar a necessidade de fornecer certos dados e, principalmente, cobrar responsabilidade das empresas e governos.
Conclusão
A vigilância digital já não é mais uma possibilidade futura, ela é o presente. Estamos sendo observados, analisados e influenciados 24 horas por dia, mesmo sem perceber. Em troca de conveniência e personalização, entregamos parte da nossa liberdade. Assim como em 1984, onde o controle era exercido por um governo autoritário, hoje o poder está nas mãos de empresas que, com algoritmos e promessas de praticidade, constroem um novo tipo de dominação: invisível, silenciosa e altamente eficiente.
Se Orwell estivesse vivo, talvez não imaginasse que o “Grande Irmão” usaria emojis, entregaria comida e sugeriria playlists. Mas, sem dúvida, ele reconheceria os sinais de alerta. E nós também deveríamos.