Mais que um Gênio da Tecnologia: O que Steve Jobs ainda pode ensinar aos futuros profissonais
ISAACSON, Walter. Steve Jobs: a biografia. Tradução: Berilo Vargas – São Paulo, Companhia das Letras, 2011.
Como uma mulher de 40 (me senti música de Roberto Carlos) cresci numa sociedade em completa transformação, parece clichê, mas brinquei de bonecas, brinquei na rua, ao mesmo tempo que, joguei The Sims, utilizei o mIRC e todas as redes sociais que surgiram logo depois. Cresci entre o digital e o analógico. Então, não é estranho a ideia de que estou aqui escrevendo para vocês sobre um livro físico que li e reli. E me fez pensar e muito.
Em um mundo onde a tecnologia avança mais rápido do que conseguimos acompanhar, a figura de Steve Jobs continua provocando admiração, críticas e, principalmente, reflexões. Ao reler a biografia escrita por Walter Isaacson — leitura que iniciei ainda em 2012 e retomei em 2025 sob o olhar de uma futura engenheira de software —, percebo que Jobs tem mais a ensinar do que fórmulas de sucesso. Ele nos desafia a repensar a própria forma como encaramos a tecnologia, a inovação e a carreira.
Ler essa obra agora, após o contato com disciplinas como Arquitetura de Computadores, Sistemas Operacionais e Carreira e Futuro, me permitiu enxergar camadas que antes não estavam tão visíveis. Steve Jobs, ao contrário do estereótipo comum do gênio técnico, não era um programador brilhante ou um engenheiro de formação. Seu talento estava em outro lugar: na visão. Uma visão que unia estética, funcionalidade e ousadia. E é exatamente isso que falta, muitas vezes, na formação técnica tradicional.
Enquanto o curso de Engenharia de Software nos ensina linguagens, algoritmos e processos, a biografia de Jobs nos ensina a perguntar “por quê?” e, mais importante, “e se?”. A educação formal foca em resolver problemas dados. Jobs nos lembra da importância de identificar os problemas certos — inclusive aqueles que ninguém ainda percebeu. Sua obsessão pelo detalhe, seu perfeccionismo quase incômodo, e sua paixão pela experiência do usuário deveriam ser tópicos obrigatórios em qualquer curso de tecnologia.
A comparação com empresas como a Netflix, feita por Isaacson ao longo do livro, também é inevitável. Ambas entenderam que a verdadeira inovação não está apenas em criar algo novo, mas em mudar a forma como as pessoas vivem. Não foi o iPhone em si que revolucionou o mundo, mas a forma como ele integrou música, telefone, internet e estética em um só aparelho. Do mesmo modo, não foi o streaming em si, mas a experiência criada em torno dele, que fez da Netflix um divisor de águas no consumo de mídia.
Portanto, é impossível não argumentar que Steve Jobs: A Biografia deveria estar entre as leituras recomendadas não apenas para administradores, mas principalmente para estudantes de engenharia de software. Porque, além de aprender a escrever código limpo e eficiente, precisamos aprender a pensar como visionários — a imaginar o que ainda não existe, a ousar discordar do óbvio, a construir aquilo que, hoje, parece impossível.
Em tempos em que muitos se contentam em melhorar as "carroças" que já existem, a grande lição que Jobs nos deixa é clara: é preciso coragem para pensar diferente. E isso, definitivamente, não se aprende apenas em sala de aula.