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Fabian Medrano
Fabian Medrano26/11/2025 14:08
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Mobilidade Profissional Sul-Sul e Business Intelligence: Análise Brasil-Bolívia na agenda 2030

    Resumo

    Este artigo examina as barreiras e oportunidades na mobilidade profissional entre Brasil e Bolívia, com foco em um engenheiro comercial boliviano que migra para especializar-se em Business Intelligence. Utilizando metodologia autoetnográfica complementada por análise documental, o estudo documenta obstáculos burocráticos, educacionais e ideológicos que contradizem discursos de integração regional, enquanto identifica oportunidades concretas onde a perspectiva binacional se torna vantagem competitiva estratégica. A pesquisa contextualiza-se nos ODS 4, 8, 10 e 17 da Agenda 2030.

    Palavras-chave: Mobilidade profissional Sul-Sul; Business Intelligence; Cooperação bilateral; Perspectiva decolonial; Agenda 2030. 

    1. Introdução

    A mobilidade profissional intra-regional constitui mecanismo crítico para desenvolvimento compartilhado entre países do Sul Global. A experiência de um engenheiro comercial boliviano da Escola Militar de Engenharia (EMI) que migra para o Brasil reflete este movimento mais amplo e suas complexidades estruturais. O Brasil e Bolívia mantêm acordos bilaterais de cooperação fortalecidos em 2024-2025, com comércio bilateral atingindo USD 3,3 bilhões em 2023. Contudo, apesar destes marcos formais, barreiras estruturais à mobilidade profissional persistem, criando lacuna significativa entre discursos de integração regional e práticas institucionais efetivas. A relevância desta análise reside em múltiplas dimensões: alinhamento com ODS 4 (Educação de Qualidade), ODS 8 (Trabalho Decente), ODS 10 (Redução de Desigualdades) e ODS 17 (Parcerias); importância da mobilidade profissional qualificada para integração regional; e potencial transformador da cooperação Sul-Sul quando as barreiras são removidas. 

    2. Barreiras Estruturais à Mobilidade Profissional

    2.1 Obstáculos Burocráticos

    O reconhecimento de credenciais universitárias constitui barreira crítica. Brasil exige revalidação de diplomas de graduação através de universidades públicas, processo que demanda análise documental abrangente e avaliação de equivalência curricular, frequentemente estendendo-se por meses ou anos. Embora o Acordo do Mercosul de 2018 sobre reconhecimento de credenciais tenha entrado em vigor em 2023, sua implementação Brasil-Bolívia permanece gradual. Recentemente, em outubro de 2025, o Senado brasileiro aprovou o PDL 394/2024, permitindo prática profissional temporária por até quatro anos, mas a medida ainda aguarda promulgação. 

    2.2 Barreiras Educacionais e Ideológicas 

    A Engenharia Comercial boliviana representa abordagem multidisciplinar integrando economia, administração, finanças e marketing em programa único, enquanto Brasil oferece programas segmentados. Essa diferença estrutural, embora frequentemente construída como deficiência, reflete simplesmente abordagens distintas de formação profissional. Adicionalmente, exigências linguísticas (Celpe-Bras) e diferenças em tradições acadêmicas perpetuam hierarquias de conhecimento que desvalorizam credenciais do Sul, mesmo em relações intra-regionais Sul-Sul.

    2.3 Barreiras do Mercado de Trabalho

    Conforme Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2024), barreiras estruturais intensificam-se para profissionais migrantes: informalidade laboral (47,6%), desigualdades de gênero (mulheres ganham 20% menos), e desemprego juvenil elevado (13,8%). Migrantes enfrentam falta de reconhecimento de qualificações, aceitação de empregos abaixo de sua qualificação ("brain waste"), discriminação e xenofobia. Isso resulta em perdas múltiplas: profissionais não praticam conforme preparação; países receptores subutilizam capital humano; projetos de integração regional fracassam. 

    3. Business Intelligence como Oportunidade Estratégica

    Business Intelligence (BI), definido como sistema de apoio à decisão orientado por dados, transforma dados brutos em conhecimento estratégico para organizações. Para engenheiros comerciais bolivianos no Brasil, BI representa oportunidade excepcional por quatro razões:

    Alinhamento multidisciplinar: Formação em economia, finanças, marketing e gestão corresponde exatamente às necessidades de BI por profissionais capazes de sintetizar múltiplas dimensões empresariais.

    Vantagem binacional: Compreender dinâmicas de exportação bolivianas e expertise em mercado brasileiro permite identificação de oportunidades comerciais bilaterais invisíveis a profissionais monoculturais, posicionando-os como ativos estratégicos para empresas transfronteiriças.

    Sensibilidade "glocal": Experiência de mobilidade cultiva capacidade de compreender como tendências macroeconômicas globais se manifestam em contextos locais específicos, competência fundamental para BI em mercados regionais integrados.

    Demanda de mercado: 60% das empresas brasileiras empregam estratégias orientadas por dados; comércio bilateral Brasil-Bolívia (USD 3,3 bilhões) requer revitalização através de profissionais capazes de navegar ambos mercados. 

    4. Perspectiva Decolonial: Desafiando Hierarquias Epistêmicas

    A análise adota marco teórico crítico-decolonial que interroga estruturas de poder e hierarquias de conhecimento herdadas do colonialismo que persistem nas relações Sul-Sul. A internacionalização da educação superior frequentemente reproduz padrões coloniais de validação de conhecimento, onde credenciais e experiências educacionais do Sul são sistematicamente desvalorizadas mesmo dentro de relações intra-regionais. Mignolo (2011) denomina este fenômeno "colonialidade do conhecimento", onde hierarquias epistêmicas coloniais perpetuam-se. Santos (2007) argumenta que internacionalização democrática genuína deve reconhecer múltiplas epistemologias em vez de impor padrão anglo-europeu como universal. Essa perspectiva é crucial para compreender por que barreiras ao reconhecimento profissional refletem não deficiências técnicas, mas colonialismo institucional e epistêmico. 

    5. Metodologia

    O estudo emprega abordagem qualitativa autoetnográfica complementada por análise documental crítica. A autoetnografia permite que experiência pessoal sirva como estudo de caso válido, reconhecendo que narrativas individuais iluminam fenômenos estruturais amplos. O corpus inclui: dados autoetnográficos primários, documentos institucionais (CEPAL 2024, acordos Brasil-Bolívia, regulações Mercosul/Brasil, OIT Labour Overview 2024), literatura acadêmica sobre cooperação SulSul e educação superior, e dados de mercado sobre comércio bilateral e adoção de BI. 

    6. Recomendações para Stakeholders

    Para formuladores de políticas: Acelerar implementação plena do Acordo Mercosul sobre prática profissional temporária; reduzir prazos/custos burocráticos; criar financiamento para mobilidade SulSul; estabelecer programas reintegração profissional.

    Para instituições educacionais: Desenvolver processos expeditos reconhecimento de credenciais; promover acordos dupla titulação; fortalecer mobilidade intra-regional; incorporar perspectivas decoloniais nos currículos.

    Para setor privado: Reconhecer valor estratégico profissionais binacionais; desenvolver programas recrutamento para migrantes qualificados; investir em BI aproveitando conhecimentos diferenciados; participar fóruns empresariais bilaterais.

    Para profissionais migrantes: Desenvolver competências em BI/análise de dados; posicionar perspectiva binacional como vantagem; construir redes profissionais; documentar experiências para reforma de políticas.

    Para plataformas educacionais como DIO.me: Desenvolver trilhas de aprendizagem em BI com perspectiva intercultural; integrar competências técnicas com conhecimentos de negócios internacionais; valorizar diversidade de formações; incorporar módulos sobre desenvolvimento de competências interculturais. 

    7. Conclusão

    Este estudo documenta que barreiras à mobilidade profissional Sul-Sul refletem hierarquias epistêmicas coloniais persistentes, não deficiências técnicas. Contudo, identifica oportunidades concretas em Business Intelligence onde perspectivas binacionais constituem vantagens competitivas estratégicas. A transformação de obstáculos em oportunidades requer mudança paradigmática: de mecanismos excludentes de controle de acesso para facilitadores de integração regional. A hipótese central confirma-se: mecanismos de cooperação Sul-Sul e Agenda 2030 possuem potencial de transformar barreiras estruturais quando perspectivas binacionais e conhecimentos especializados são reconhecidos como vantagens estratégicas, não déficits. Implementação efetiva requer ação coordenada de múltiplos stakeholders. A América Latina está em fase crítica de implementação da Agenda 2030. Mobilidade profissional SulSul facilitada por políticas adequadas constitui mecanismo concreto para acelerar avanços em múltiplos ODS. Esta transformação representa desafio decolonial fundamental: reimaginar relações Sul-Sul como cooperação horizontal autêntica baseada em reconhecimento mútuo de saberes igualmente valiosos.

    Referências

    CEPAL. A América Latina e o Caribe perante o desafio de acelerar o avanço no cumprimento da Agenda 2030. Santiago: CEPAL, 2024.

    MIGNOLO, Walter D. The darker side of Western modernity: Global futures, decolonial options. Durham: Duke University Press, 2011.

    SANTOS, Boaventura de Sousa. Beyond abyssal thinking: From global lines to ecologies of knowledges. Review, v. 30, n. 1, p. 45-89, 2007.

    Organização Internacional do Trabalho. Panorama Laboral 2024 de América Latina y el Caribe. Genebra: OIT, 2024.

    TURBAN, Efraim; SHARDA, Ramesh; DELEN, Dursun. Business Intelligence and Analytics: Systems for Decision Support. 10ª ed. Boston: Pearson, 2015.

    SEGIB. Más de 10.000 iniciativas en una década de cooperación Sur-Sur y Triangular. Madrid: SEGIB, 2025.

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    Comments (1)
    DIO Community
    DIO Community - 26/11/2025 14:42

    Excelente, Fabian! Que artigo cirúrgico, inovador e de altíssima relevância estratégica! Você elevou a discussão sobre Transição de Carreira e Business Intelligence (BI) para um nível geopolítico e decolonial, expondo as barreiras estruturais que sabotam a cooperação Sul-Sul.

    É fascinante ver como você aborda o tema, mostrando que o problema não é a falta de skill do engenheiro boliviano, mas a burocracia, a revalidação de diplomas e as hierarquias epistêmicas que desvalorizam o conhecimento regional (o que você chama de colonialidade do conhecimento).

    Qual você diria que é o maior desafio para um desenvolvedor ao migrar um sistema de core banking para uma arquitetura cloud-native, em termos de segurança e de conformidade com as regulamentações, em vez de apenas focar em custos?