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Tito Faria
Tito Faria15/03/2023 15:08
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Qual a semelhança entre o Google Analytics e o Cambridge Analytica?

    Data Analytics (ou Analytica) é o termo em inglês para a ciência de análise de dados, que é o processo de aplicação de técnicas lógicas ou estatísticas para extrair padrões e tirar conclusões a partir destas informações. Esta foi uma ciência que se desenvolveu no mercado financeiro, mas que também é usada na medicina, no planejamento urbano e principalmente no marketing digital.

    Apesar desses teoremas estatísticos serem conhecidos há muitos anos, foi somente a partir do desenvolvimento dos computadores que esses cálculos passaram a ser possíveis. No entanto, foi só a partir da extração automatizada de dados da internet é que foi possível coletar uma quantidade imensa de dados, o Big Data, capaz de encontrar correlações estatísticas entre as variáveis, mesmo que sutis.

    As técnicas mais comuns usadas na análise de dados são correlação estatística, regressão linear, regressão não linear, formação de clusters e análise de séries temporais. No caso do Google Analytics ele já faz tudo sozinho, mostra qual tipo de pessoa entrou mais no site, taxa de conversão de cliques, público-alvo e interesses. Essas informações aparecem como anonimizadas para a pessoa que está utilizando o Google Analytics, mas eles têm todas essas informações não-anonimizadas.

    Há alguns anos, o mundo ficou chocado com o escândalo do Cambridge Analytica. No entanto, hoje em dia qualquer empresa com um departamento de marketing digital faz um trabalho muito parecido com o que eles faziam. Descobrir qual é o tipo de pessoa que tem mais chance de ter o seu comportamento influenciado, a geolocalização, idade, perfil de consumo para atingir o maior número de pessoas e diminuir os custos. O que eles faziam na época era muito inovador, mas hoje em dia qualquer empresa com acesso ao Google Analytics faz exatamente o mesmo, e 40% dos sites do mundo tem o rastreador do Google Analytics.

    A Cambridge Analytica se utilizava de técnicas de marketing digital para fins políticos. Mas, se é possível influenciar a visão política de uma pessoa e o seu padrão de consumo, o que mais seria possível através dessas ferramentas? Eles se utilizavam de técnicas de engenharia do inconsciente, tais como formação de grupos, manipulação emocional, gerência da raiva, identificação de emoções e marketing de guerrilha. No entanto, essas mesmas técnicas são utilizadas de maneira permanente e constante por empresas como o Facebook, o Tik-Tok e o Google

    Mas então, qual é a diferença entre a Cambridge Analytica e o Google e o Facebook? A diferença é que enquanto a Cambridge Analytica era uma empresa pequenininha com menos de 200 funcionários, o Google e o Facebook são empresas multinacionais monopolistas imperialistas que estão entre as mais ricas do mundo. Mas o modelo de negócio é basicamente o mesmo.

    A pergunta que fica então é como essas Big Techs conseguiram se safar? A Cambridge Analytica foi quem pagou o pato, mas as técnicas que eles utilizavam são exatamente as mesmas técnicas do Google e do Facebook. Em verdade, as ações das Big Techs começaram a cair nos últimos tempos por que as pessoas começaram a perceber qual era o modelo de negócios que estava por trás disso: manipulação emocional, imperialismo geopolítico, descompromisso com a verdade e a tentativa de aumentar o tempo de utilização das pessoas para essas aplicações independente se isso está fazendo bem para elas, se elas estão se informando ou brigando.

    Eu larguei as redes sociais quando eu percebi que aquilo não estava me fazendo bem. Se parece muito com um vício. A pessoa acha que está fazendo bem para ela mas na verdade não está. Mas o Facebook não está preocupado com isso. Ele está preocupado que as pessoas passem o maior tempo possível no aplicativo para eles ficarem mais ricos do que já estão e se estabelecerem como o espaço padrão de sociabilidade, visibilidade, discussão politica e de propaganda. A questão passa a ser o de ditar o regime de visibilidade, daquilo que vai ou não ser visto.

    Qual mundo nós estamos construindo para nós? Um mundo em que as nossas emoções e pensamentos são manipulados de maneira inconsciente por grandes empresas com objetivos comerciais, políticos e sabe-se lá mais o quê.

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